Minas 247 - Aluno do Colégio Estadual, em Belo Horizonte, em 1964, o ex-prefeito da capital e ex-ministro do governo Dilma, Fernando Pimentel, tinha 13 anos quando os militares deram o golpe que depôs o presidente João Goulart e instituiu uma ditadura de 21 anos no Brasil. Nesse período, pelo menos 424 brasileiros que ousaram resistir à opressão foram perseguidos, capturados, torturados e mortos pela polícia política do regime.
"Somos hoje uma democracia consolidada, mas os brasileiros pagaram um preço por ela. Centenas de vidas e duas décadas de avanço institucional roubadas. É preciso lembrar dessa história para não flertarmos com o arbítrio", diz ele.
Muitos dos que resistiram à ditadura ainda estão desaparecidos. "Foram anos terríveis, sombrios. Apenas sob Médici, 155 mortos, a maior parte nas salas de tortura do Exercito, da Marinha e da Aeronáutica. Milhares de prisões, centenas de condenações pela Justiça Militar", relembra Pimentel, que tinha 16 anos, em 1967, quando entrou para a militância política e passou a integrar a organização Colina.
Quase dois anos depois, com a instituição do Ato Institucional 5, em 1969, e o endurecimento da ditadura, vários integrantes da Colina e de outros grupos de resistência foram presos. Pimentel conseguiu escapar, mas passou à clandestinidade. "A repressão foi brutal, o medo era generalizado. A nação brasileira, silenciada pela ação da censura e pelo medo, mal se apercebeu da tragédia", conta.
Como muitos, ele foi preso em 1970, aos 19 anos, e, da prisão, entre constantes sessões de tortura, assistiu à queda e ao desaparecimento de muitos amigos. "A esquerda armada pagou o preço da sua ousadia. Estava politicamente isolada e militarmente acuada. Em grupos ou sozinhos, os militantes que ainda resistiam à ditadura foram caindo. Na prisão, tivemos de buscar forças para sobreviver física e moralmente", afirma.
Lá fora, recorda, para encobrir os assassinatos, notas oficiais davam conta de "atropelamentos", de "tentativas de fuga" e de "resistência à prisão". Chamado a analisar o período, Pimentel coloca de lado a conhecida ponderação e diz que, por sua experiência pessoal, não há como olhar o golpe com isenção. "Tenho um perfil conciliatório na vida pessoal e na política, mas, nesse caso, dispenso a isenção. Eu tenho um lado nessa história", finaliza.
Fonte: Brasil 247
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