sábado, 19 de abril de 2014

Índios de Minas de Gerais reclamam de situação de abandono


No Vale do Jequitinhonha, remanescentes indígenas lutam para manter seus costumes, crenças e tradições. 

No Brasil, há 817.963 índios, segundo o IBGE de 2010.




Foto: DivulgaçãoÍndios de Minas de Gerais reclamam de situação de abandono
Índios da aldeia Pankararu, no Vale do Jequitinhonha
Os cerca de 24 mil indígenas, distribuídos em 12 etnias diferentes pelo interior mineiro e região metropolitana de Belo Horizonte, não têm nada para comemorar neste sábado (19.04), no Dia do Índio.

De legítimos ocupantes das terras, eles agora lutam para resolver problemas, como desrespeito aos direitos básicos, reservas não demarcadas, invasão das terras por grileiros, contrabandistas, madeireiros ilegais e até traficantes de animais e drogas. 
  
Além de todos esses problemas, os índios enfrentam falta de assistência médica nas aldeias e de suporte legal da Fundação Nacional do Índio (Funai). Há até casos de indivíduos passando fome. “Posso afirmar que os índios estão abandonados em Minas”, diz o cacique Mesak Pataxó, coordenador das Comunidades Indígenas de Minas Gerais. 
  
 Mesak não poupou críticas à atuação da Funai e a suposta lentidão do órgão no atendimento às demandas dos indígenas. “Estamos sem assistência médica nas aldeias e vivemos uma situação dramática”. 
  
Por outro lado, Mesak reconhece que, desde o início do governo Anastasia, os canais de  comunicação ficaram melhores. “Mas ainda falta resolver muita coisa. Hoje, somos 12 etnias com cerca de 17 mil índios no interior mineiro, que carecem de muitas coisas. Uma das principais é a assistência médica nas aldeias”, resume.
  
Para a presidente da Associação dos Povos Indígenas de Belo Horizonte e região metropolitana, Marinalva de Jesus, há cerca de sete mil índios só na Grande BH. “A maioria vive em más condições. Há, inclusive, adolescentes indígenas envolvidos com o tráfico de drogas”, resume.
   
O coordenador regional da Funai em Minas, Thiago Fioritt, rebate que os índios estejam abandonados. “É uma questão complexa e cultural que vem se arrastando há anos. A Funai tem resolvido diversas questões, como demarcações de reservas, e estreitando o contato com os índios, inclusive com distribuição de alimentos. A assistência médica não é de nossa competência”, afirma.

AS COMUNIDADES INDÍGENAS EM MINAS GERAIS
Por Ana Paula Ferreira de Lima*

No Estado de Minas Gerais há atualmente doze etnias indígenas espalhadas em dezessete territórios diferentes.

As etnias são: Maxakali, Xakriabá, Krenak, Aranã, Mukuriñ, Pataxó, Pataxó hã-hã-hãe, Catu-Awá-Arachás, Caxixó, Puris, Xukuru-Kariri e Pankararu.

As doze etnias que vivem atualmente no Estado de Minas Gerais são pertencentes ao tronco lingüístico Macro-Jê e contam aproximadamente com onze mil indivíduos.

O povo indígena conhecido hoje como Krenak, habitante da margem esquerda do Rio Doce, município de Resplendor, na região Leste de Minas Gerais, formou-se ao longo de um processo histórico marcado pelo caráter violento da expansão econômica sobre aquela região, originalmente de densa mata atlântica, onde diversos grupos de 'Botocudos' - resistindo à colonização em outras zonas já 'conquistadas' pelos brancos - se abrigaram até meados do Século XIX.

Os Botocudos - nome com o qual os portugueses pejorativamente os designavam, em referência aos adornos usados nas orelhas e nos lábios - ou Borum - termo que significa 'gente', em língua indígena, e que segundo o qual os Krenak designam hoje a si e aos demais índios, em oposição aos Kraí, os não-índios - eram falantes de uma mesma língua, apesar das significativas variações dialetais que serviam para demarcar diferenças entre os diversos grupos nos quais se compunham.

O grupo liderado por Krenak foi o último a negociar com as autoridades governamentais seu processo de 'pacificação' e 'civilização', ocorrido logo no início dos trabalhos do recém-inaugurado Serviço de Proteção aos Índios e Localização de Trabalhadores Nacionais, em 1911.

O povo Aranã também tem sua origem na história dos Botocudos. Distinguiam-se, no entanto, politicamente, de outros grupos Botocudos, mantendo inclusive uma pequena variação dialetal, significativa da distância que mantinham estrategicamente, como forma de reafirmarem sua diferença dos demais. Os Aranã foram aldeados pelos missionários capuchinhos em 1873, no Aldeamento Central Nossa Senhora da Conceição do Rio Doce, onde grassaram epidemias que dizimaram a população. Alguns sobreviventes migraram para o Aldeamento de Itambacuri, de onde saíram os ancestrais dos Aranãs de hoje, para o trabalho em fazendas na região do Vale do Jequitinhonha.

Fixados nos municípios de Martinho Campos (fazenda Criciúma) e Pompéu (fazenda São José) - região centro-oeste mineira (aproximadamente 206 km de Belo Horizonte) - os Caxixó somam cerca de 100 indivíduos na comunidade do Capão do Zezinho, área rural que concentra o maior contingente populacional caxixó. Foi a comunidade do Capão do Zezinho, localizada às margens do rio Pará, que deu início à luta caxixó pelo reconhecimento étnico oficial.

Situados no nordeste de Minas Gerais, entre os vales do Mucuri e do Jequitinhonha, os Maxakali são habitualmente descritos pela literatura referente à etnia e pelos organismos governamentais ou não governamentais que atuam junto a eles a partir de uma dupla perspectiva: Por um lado, enfatiza-se a sua "resistência cultural" - a permanência da sua língua própria e o uso restrito do português apenas para as situações do contato interétnico; a intensa vida ritual e a recusa a se inserirem na lógica da produção capitalista - a despeito dos seus mais de duzentos anos de contato; e por outro, se lhes percebe como um "grupo problema", devido ao alto grau de conflito e violência internos, ao alcoolismo e ás precárias condições alimentares e de saúde. 

Por "preservar" sua língua e tradições "originais", os Maxakali tendem a ser percebidos como símbolo de resistência indígena em Minas Gerais e região. Na verdade, embora suas características e sua atual inserção no contexto dos demais povos indígenas da região sejam de fato excepcionais, ao contrário de outros segmentos indígenas que passaram por intensos processos de subjugação à autoridade colonial a partir do início do século XIX, e cujos descendentes atuais são resultantes de processos de transferências e amalgamentos compulsórios de segmentos étnicos e linguísticos em geral originalmente muito diversos, como, tipicamente, seus vizinhos e "parentes" Pataxó atuais, os atuais Maxakali descendem de apenas dois bandos desta etnia originalmente contatados em áreas próximas à que ainda hoje se localizam.

Atualmente os Maxakali vivem em quatro áreas, as aldeias de Água Boa, município de Santa Helena de Minas; Pradinho e Cachoeira, no município de Bertópolis; aldeia Verde, no município de Ladainha e no distrito de Topázio, no município de Teófilo Otoni.

As etnias Pataxó, Pataxó hã-hã-hãe, Xukuru-Kariri e Pankararu são oriundas de estados do nordeste.
Originários de Pernambuco, os Pankararu se espalharam por vários estados brasileiros ao longo do século XX. Este êxodo se deu devido à construção da hidrelétrica de Itaparica no Rio São Francisco, à seca, aos conflitos oriundos da luta pela terra e a inúmeras outras agressões. O grupo familiar de 'Seu' Eugênio Cardoso da Silva e Benvinda Vieira migrou desta região em busca de melhores condições de vida para seus filhos, tendo durante quase 30 anos convivido com outros povos, como: Krahô, Xerente, Karajá e os Pataxó de Minas Gerais.

O Povo Pataxó, originário do Sul da Bahia, ocupa a Fazenda Guarani, no município de Carmésia, noleste de Minas, desde a década de 1970, totalizando aproximadamente 300 pessoas. Há um grupo que vive no município de Itapecerica na Aldeia Muã Mimatxi e outro na aldeia Jundiba Cinta Vermelha, no município de Araçuaí,no Vale do Jequitinhonha, juntamente com uma família dos Pankararu. Conhecidos pelo seu semi-nomadismo, a chegada dos Pataxó em Minas é consequência de dois fatos históricos importantes: o primeiro o famoso 'Fogo de 51', caracterizado pela ação violenta da polícia baiana que desarticulou sua aldeia, dispersando o Povo Pataxó na região de Porto Seguro; e o segundo a transformação de 22.500 hectares de seu território em parque nacional - o Parque Nacional do Monte Pascoal, criado em 1943 e oficialmente demarcado no ano de 1961 - reduzindo nessa extensão o seu território tradicional.

O Povo Xukuru-Kariri é oriundo do município de Palmeira dos Índios, em Alagoas. Após muitos conflitos de terra e mortes de índigenas, algumas famílias se mudaram para Ibotirama e depois para Glória, na Bahia. Também fugindo de conflitos nessas localidades, alguns integrantes deste grupo, que tem como líder José Satiro, vieram, em 1998, para Minas Gerais. Ainda em 1998, os Xukuru-Kariri solicitaram à Funai a compra de uma terra para o grupo em MG. Atualmente o grupo vive no município de Caldas, na região sul do Estado.

Os índios conhecidos sob o etnônimo englobante Pataxó Hãhãhãe abarcam, hoje, as etnias Baenã, Pataxó Hãhãhãe, Kamakã, Tupinambá, Kariri-Sapuyá e Gueren, habitantes da região sul da Bahia. Hoje um pequeno grupo vive no município de Teófilo Otoni, Minas Gerais.

Os Mokuriñ pertencem ao grande grupo dos povos chamados "Botocudos", aldeados em Itambacuri desde o século XIX pelos frades capuchinhos Frei Serafim de Gorízia e Frei Ângelo de Sassoferato. Os Mokuriñ vivem no município de Campanário.

Antigos habitantes do Vale do São Francisco, os Xacriabá vivem no município de São João das Missões, Norte de Minas Gerais, a 720 Km de Belo Horizonte. Seu processo de contato com os não-índios não difere do ocorrido com os demais povos indígenas, em toda a sua história, sendo marcada por lutas e derramamento de sangue. Após o ano de 1728, depois de receberem título de posse de suas terras, viveram em relativa paz, convivendo com camponeses vindos da Bahia e de outras regiões de Minas Gerais em seus territórios e arredores, em que plantavam roças de subsistência. A partir de 1969, o desenvolvimento de projetos agrícolas na região atraiu fortes grupos empresariais e grandes fazendeiros das cidades vizinhas, acentuando-se a invasão das terras dos Xakriabá . Nos anos 1980, a tensão aumenta de forma insuportável, culminando no assassinato de grandes líderes indígenas.

O povo indígena Catú-awa-arachás encontra-se em Araxá, Minas Gerais, devidamente organizado na Associação Andaiá. Os Puris estão se organizando no município de Araponga, região da Mata. É bastante recente a emergência étnica destes dois povos.

Na região metropolitana de Belo Horizonte vivem diversas famílias de grupos étnicos distintos, de Minas Gerais e de outros estados, sobretudo da Bahia. Há grupos familiares de aranãs, xakriabás, caxixós, pataxós e pataxós hã-hã-hãe, entre outros.

Estes grupos migraram para o centro urbano em busca de uma qualidade de vida melhor, já que muitos perderam o território ao longo da história de ocupação das áreas indígenas no interior do país. Os grupos que vivem na cidade possuem direitos e devem se organizar para buscá-los e reivindica-los perante o Estado e a sociedade envolvente.


* Ana Paula Ferreira de Lima nasceu em Belo Horizonte, Minas Gerais. É formada em História pela PUC-MG, trabalha no CEDEFES - Centro de Documentação Eloy Ferreira da Silva - desde 2005, com projetos sociais em comunidades indígenas e quilombolas.

Leia mais: wwpovos_mg.aspw.anai.org.br/

Há quase um milhão de índios no Brasil, segundo o IBGE.

Hoje, 19 de abril, comemora-se o Dia do Índio.
O último censo realizado pelo ‪#‎IBGE‬ – o ‪#‎Censo2010‬ – registrou 817.963‪#‎indígenas‬ no ‪#‎Brasil‬, a maioria na Região Norte (305.873 indígenas), seguida da Região Nordeste (208.691), Centro-Oeste (130.494), Sudeste (97.960) e Sul (74.945).
Acesse conteúdo especial que preparamos em comemoração à data:http://indigenas.ibge.gov.br/.

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