domingo, 2 de fevereiro de 2014

Serro, no Alto Jequitinhonha, comemorou 300 anos de fundação

Cidade histórica resgata caixa enterrada aos pés da escada da Igreja de Nossa Senhora do carmo

Foto: arquivoSerro, no Vale do Jequitinhonha, comemora 300 anos
Serro teve como primeiros habitantes, os índios Botocudos
Os primeiros habitantes, os índios botocudos, chamavam a região de Ibi-ti-ruí ou Ivituruí, que na língua deles significava “serra dos ventos frios”. Daí veio o nome Serro Frio e mais tarde Serro, uma das cidades coloniais mais importantes de Minas, primeira a ser tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), terra do queijo artesanal famoso e de personagens ilustres, entre eles o republicano Teófilo Otoni, o ex-governador de Minas João Pinheiro, maestro Lobo de Mesquita e escultor Mestre Valentim.

Localizado no Vale do Jequitinhonha e expoente da Trilha dos Diamantes, na Estrada Real, o Serro comemorou, na quarta-feira, 300 anos de elevação dos seus primitivos arraiais a Vila do Príncipe, ato assinado em 29 de janeiro de 1714 pelo governador da Capitania de Minas de Ouro e São Paulo, dom Braz Balthazar da Silveira.

“Bem antes da elevação a vila, em 1702, os bandeirantes Antonio Soares Ferreira e seu filho João Soares fundaram dois arraiais – o de Baixo, que segue o Ribeirão do Lucas, e o de Cima, em direção ao Córrego dos Quatro Vinténs”, conta a historiadora Zara Simões, nascida e criada no Serro. “Depois os dois arraiais se uniram e formaram a Vila do Príncipe, homenagem ao príncipe português dom José I, nascido naquele ano. À categoria de cidade, só chegou em 6 de março de 1838, por lei provincial.”

Apaixonada pelo patrimônio cultural da cidade, Zara participou de dois momentos simbólicos da terra natal.

Em 29 de janeiro de 1975, adolescente, ela assistiu ao início de uma campanha para preservar o conjunto artístico e conscientizar a população local. E mais: viu quando foi enterrado, aos pés da escadaria da Igreja de Nossa Senhora do Carmo, uma caixa com documentos da época (jornais, artigos, um deles publicado no Estado de Minas, manuscritos, crônicas e outros registros) que só seria aberta na solenidade comemorativa do tricentenário.

Na manhã de quarta-feira, a historiadora presenciou o novo momento e comparou o período de quase quatro décadas. “Em meados dos anos 1970, o Serro estava muito esquecido, talvez pela distância da capital. Prédios antigos degradados, assim como as igrejas. Com o passar do tempo e asfaltamento das estradas de acesso, a situação melhorou um pouco. Mas, hoje, sinto a necessidade de mais atenção para conservação do acervo, principalmente do casario. Estamos perdendo muitos imóveis de relevância e é bom lembrar que a cidade foi tombada pelo Iphan há 76 anos”, afirma Zara.

O envolvimento dos jovens na conservação deve ser peça fundamental, acredita a professora, certa de que “eles estão, agora, mais distantes da história local”.

A comarca do Serro Frio foi instituída pela coroa portuguesa em 1720 e, segundo a historiadora, de tão extensa que era, fazia divisa com os estados da Bahia e Espírito Santo. “Municípios como Montes Claros, no Norte de Minas, e Governador Valadares, no Leste, são filhos do Serro.” Seis anos antes, foram criadas as três comarcas pioneiras, representando a primeira divisão administrativa e jurídica da Capitania de Minas: Rio das Mortes (sede na Vila de São João del-Rei, hoje São João del-Rei), Rio das Velhas (sede na Vila Real de Nossa Senhora da Conceição do Sabará, atual Sabará) e Vila Rica (sede em Vila Rica, atual Ouro Preto).

OURO E DIAMANTES

No início do século 18, a expedição chefiada por Antonio Soares Ferreira descobriu as jazidas de ouro. Conforme as pesquisas, vários ranchos foram erguidos nas proximidades dos córregos, dando início à formação dos arraiais que, mais tarde, originaram o povoado do Serro Frio.

Como a exploração estava desordenada, foi criado o cargo de superintendente das minas de ouro, ocupado pelo sargento-mor Lourenço Carlos Mascarenhas e Araújo.

Muita gente foi chegando, o lugarejo cresceu e, na sequência, os mineradores descobriram lavras de diamante na região onde hoje estão os distritos serranos de Milho Verde e São Gonçalo do Rio das Pedras e a cidade de Diamantina, antigo Arraial do Tejuco.

Muitas foram as restrições impostas à exploração de ouro na comarca, após o descobrimento dos diamantes. Em 1725, é determinada a criação da Casa de Fundição, para onde toda a produção aurífera da região passou a ser encaminhada.

Apesar de todas as regras impostas, muitos aventureiros ganharam com o contrabando de ouro e diamante. De positivo, a vila passou a difundir cultura e civilização e grande número de exploradores, artistas, políticos e religiosos foi viver lá.

Como houve o apogeu, ocorreu o declínio. As minas foram exploradas exaustivamente durante quase 100 anos e, no início do século 19, com a decadência da mineração, somente alguns exploradores, encorajados pelo governo, conseguiam arcar com os altos custos de produção.

A maioria da população foi viver, então, da pecuária e agricultura de subsistência, atividades dificultadas pela localização geográfica da vila. “Os tropeiros têm grande importância nesse novo ciclo de desenvolvimento da região”, destaca a professora de história.

Fonte: Gustavo Wernek, no Portal UAI e jornal Estado de Minas.

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