segunda-feira, 30 de julho de 2012

Local de garimpo no rio Jequitinhonha. é só terra, areia e águas turvas

Diamantina - O cenário, que se completa com barracos improvisados, bombas de sucção e um considerável contingente de garimpeiros, tem aquele aspecto como resultado da atuação das mineradoras Rio Novo e Tejucana na região
Foto: divulgaçãoLocal de garimpo no rio Jequitinhonha.  é só terra, areia e águas turvas
A mineração está mais uma vez degradando o rio Jequitinhonha
A caminho de Areinha - a área às margens do rio Jequitinhonha onde se concentra a maior parte dos garimpeiros da região, distante cerca de 80 km de Diamantina - o presidente da Associação de Proteção à Família Garimpeira da cidade (Aprofagadi), Aélcio Freire Vial, faz um alerta de que a paisagem que se verá no local é impactante. É de se encher os olhos, mas só de terra, areia e águas turvas.

O cenário, que se completa com barracos improvisados, bombas de sucção e um considerável contingente de garimpeiros, tem aquele aspecto como resultado da atuação das mineradoras Rio Novo e Tejucana na região, como faz questão de frisar o representante das famílias que trabalham no local.  "Não há degradação nova", diz, em alusão à herança deixada pelas grandes empresas.

É dos rejeitos deixados por elas que os garimpeiros tentam garantir seu sustento, trabalhando em um período de estiagem, de maio a outubro. "Nas épocas de cheia, eles se dedicam à cultura de subsistência", conta Aelcio.

Ele destaca que a maioria não tem qualquer tipo de qualificação e que, sem o garimpo, poderia atuar só na capina ou como servente de pedreiro.

A esperança de se achar um diamante que traga fortuna é compartilhada, mas a sorte não sorri da mesma maneira para todos.

Alguns, como Luiz Gonzaga Costa, 48, conseguiram construir patrimônio. Casado e pai de três filhos, ele tem sua própria bomba de sucção - que custa em torno de R$ 25 mil - e um grupo de sete homens sob sua gerência.

A maior parte dos garimpeiros, contudo, apenas garante o sustento da família e, eventualmente, em períodos de boa apuração da cata, investe em algum bem - normalmente carros ou caminhonetes. Aníbal Machado, 33, por exemplo, diz que tira, em média, R$ 1.000 por mês, mas ele conta que já aconteceu de lucrar R$ 50 mil, com os quais comprou, justamente, um carro novo. "Mas quem ganha mesmo é o dono da bomba", diz, revelando sua própria falta de planejamento. "O que eu ganhava, gastava tudo na cidade". Ele chega a ficar 20 dias no acampamento, sem ir em casa.

A realidade de Aníbal reflete a da maior parte dos garimpeiros. Ademar Ribeiro Júnior, 23, pai de três filhos, começa a trabalhar às 4h e diz que em mês de boa apuração chega a ganhar R$ 1.000. "Mas pode ser que não chegue a R$ 500 e também pode acontecer de a gente não tirar nada", lamenta.

Nesses casos, o financiador, dono da bomba, garante o sustento da família do garimpeiro e a manutenção do equipamento.

Motivação.
 O que é comum a todos que estão na Areinha é a consciência de uma vida indissociável do garimpo. O próprio Aníbal diz que já deixou a atividade e retornou para ela umas 20 vezes, tendo, em um desses intervalos, trabalho com carteira assinada.

De qualquer modo, para muitos, a simples perspectiva de poder atuar no ramo é motivo para uma mudança de vida.

É o caso de Luciano Alves dos Santos, 72, que, na década de 60, trabalhou em uma grande empresa garimpeira. "Antes eu estava sem trabalhar, só na cachaça", diz.

Hoje, ele comemora a volta da atividade. "Faço de tudo, sempre na expectativa de tirar diamante. Os donos de bombas me conhecem e me chamam porque, como trabalhei nas dragas antigas, sei onde rendeu mais".

Riqueza por trás da precariedade e do aspecto de miséria 
A precariedade dos barracos no acampamento de Areinha e o aparência geral de miséria são mais um reflexo do aspecto temporário do garimpo que propriamente uma falta de recursos.
 Isso porque, quando se esgotarem o diamante e o ouro que estão naquele pedaço de terra, os garimpeiros vão migrar para outro.
A aparência humilde de Luiz Gonzaga Costa, por exemplo, esconde um percurso na extração que pode ser considerado bem-sucedido. Além da própria bomba de sucção, ele tem uma caminhonete, um carro novo, um caminhão – que usa para retirar a areia –, uma casa própria, acabou de construir outra, e, no ano passado, conseguiu acumular um lucro de R$ 80 mil.
"Em 2011, a apuração foi mesmo muito boa. Em algumas, a gente chegou a tirar de 30 a 40 quilates", diz. Uma quantia como essa pode render algo em torno de R$ 25 mil a R$ 30 mil. Luiz reclama que neste ano a aividade está mais difícil: ele se queixa que ainda não deu para tirar "nem R$ 50 mil".
 Mas, assim como outros garimpeiros, mesmo os que não tiveram tanto êxito, ele sabe que sua vida é o garimpo e não se ressente do trabalho árduo. "Já nem acho mais uma coisa cansativa. Tem muito diamante aqui ainda, só não demos sorte de uma apuração boa. O que queremos é o direito de continuar trabalhando", diz.


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Fonte: O Tempo

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