Por Joaquim Ribeiro Barbosa -
“Quincas”
Quem imagina
que o Festival de Inverno passa pela cidade como ligeiro vento cultural que
balança os costumes locais, tira a comunidade da mesmice do seu dia-a-dia e
some no horizonte sem deixar rastos está muito enganado ou não tem
sensibilidade para observar, sentir e admirar a força, a criatividade e a
provocação que ele esconde em propostas aparentemente velhas, conhecidas e
cansadas.
Mais desatenção ainda é pensar que essa
virtuosa sublevação comunitária só tem sentido se acompanhada por grandes
shows, famosos artistas da música ou das artes cênicas e por fabulosas
estruturas de palco, som e iluminação. Se, em algum tempo, essas descomunais e
dispendiosas encenações eram marca obrigatória desse grande evento, já de muito
se tornaram proibitivas, ultrapassadas e substituídas por montagens mais
simples, inteligentes e compatíveis com os ambientes das cidades a que se
destinam. Não apenas em razão de seus altos custos, mas também e principalmente
pela dificuldade e escassez de recursos.
Afinal de contas, Minas Gerais inventou
essa atividade e soube conformá-la ao clima das montanhas, às particularidades
arquitetônicas e urbanísticas de suas belas e históricas cidades, fazendo-a
encarnar a mineiridade do sempre latente jeito simples de sua gente, em suas
ricas tradições, crendices populares, festas e manifestações religiosas.
Muitas pessoas
se assustam ao descobrirem que o hoje internacional Grupo Galpão nasceu em uma
oficina do primeiro Festival de Inverno da UFMG realizado em Diamantina. Mais
ainda elas se surpreenderiam com tantas outras revelações de talentos surgidas
nestas mais de quatro décadas em que o evento cresceu, consolidou-se e, pouco a
pouco, adaptou-se, tornando-se até parecido com o queijo de Minas, tão querido
e em tantas cidades presente no mês de julho, de frio, de férias. Quando, pois,
se ouve a notícia de que mais de 40 festivais são montados em Minas Gerais,
mais razões tem Diamantina em orgulhar-se do privilégio de acolhê-lo com tanta
frequência. A grande e repetida expectativa é saber qual vai ser o mote do
próximo festival.
Neste ano, então, com a UFMG e sua
parceira local, a UFVJM, em greve, mais aguçadas eram a curiosidade e a
preocupação com sua realização. Mas, à semelhança do que tem ocorrido, bem lá
no fundo do baú da criatividade sempre aparecem tesouros escondidos. Às vezes,
na tentativa de emergir de antigos e esquecidos guardados, eles quase acenam
para que sejam vistos, redescobertos e novamente revividos.
Assim é que, entre os muitos e
preciosos bens de raiz que vão perdendo o lustro com o passar do tempo, a
aponto de serem considerados fora de moda, foi posto em evidência neste
festival nada menos que O Bem
Comum, com foco especial em seus Saberes e (por que não?) em seus Fazeres.
Publicado no Passadiço Virtual
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