quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Francisco Badaró, Tempo de Ouro

Talentos do Vale
A cidade de Francisco Badaró, no Médio Jequitinhonha, nordeste de Minas, apresenta aqui neste espaço alguns de seus talentos. São três jovens escritores que participaram da Olímpiada da Língua Portuguesa, em 2008, 2009 e 2010.

Olha a foto de premiação aí embaixo e leiam o belíssimo texto.
Foto em Brasília: professores e estudante aguardam o resultado dos vencedores da Olimpíada 2008. Da esquerda para a direita: Maria das Dores Lages Trindade, diretora da Escola Estadual Cônego Figueiró; Marcone Reis, ao centro, aluno premiado, e a professora Adna Figueiró, orientadora.

TEMPO DE OURO
Róger Nathan Guedes Trindade - Francisco Badaró

Aprendi dançar vilão
Aprendi dançar vilão
Num foi nessa terra não
Num foi nessa terra não.”

Eu morava na Fazenda do Engenho com minha família, próxima ao povoado de Sucuriú, hoje Francisco Badaró. Naquela época, havia lá uma fábrica de cachaça, rapadura e açúcar sujo - açúcar mascavo. Havia também uma gangorra – instrumento feito de madeira usado para socar -, tocada por água do rio que cercava a fazenda. Nela socava-se o milho e o arroz ali colhidos. Comia-se o que colhia e o que lá era fabricado. Não existia o conforto de hoje. Nesse mesmo rio tomava-se banho, lavavam-se roupas e vasilhas.

Era um lugar encantador. Não havia energia elétrica e a magia da noite trazia as assombrações, fantasmas, lobisomem, fadas, bruxas nos momentos íntimos de histórias familiares.

Em 1939, descobriram, naquele local, uma grande lavra de ouro que causou grande especulação de pessoas de outros lugares. Chegaram mais de 1000 garimpeiros, dentre eles, nordestinos, alemães, americanos e pessoas da região em busca de riquezas.

O meu irmão, que gerenciava a fazenda, arrendava pequenos pedaços de terra para cada um dos chegantes. Eles armavam barracas e nelas moraram durante o período de trabalho que durou uns dois anos.

Durante o dia trabalhavam duro. Á noite, quando retornavam aos barracos, era uma grande diversão. Todos se reuniam em volta de uma grande fogueira para contar histórias. Era um momento de encontro, conhecimento, fazer amizade e cantar roda.

Tenho saudades das festas realizadas nos finais de semana. Naquele tempo, faziam forrós, cantigas de roda, dançavam vilão, nove – danças típicas da região. Tudo acontecia dentro do respeito e dos costumes da época. Era uma grande alegria conviver com aquele pessoal, muitas culturas diferentes da minha. Foi um grande aprendizado em minha vida. Vivi em uma cidade de barracas com muita tranquilidade e segurança, diferente de hoje em que há assaltos e muita violência.

Lá exploraram muito ouro. Encontravam pepitas dos mais variados pesos e tamanhos. Mas o ouro acabou... acabou-se a cobiça e o povo foi embora. A fazenda voltou à vida costumeira. Foi um tempo bom em que descobri a riqueza da amizade.

Hoje, olhar para o passado me traz saudade. Apesar dos meus 94 anos, com o corpo cansado pela idade, tenho a alma marcada por lembranças vivas de um tempo em que viver era contentar com o pouco que se tinha. Assim fui e sou muito feliz.

Róger Nathan Guedes Trindade
Aluno do 7º ano B da Escola Estadual Cônego Figueiró
Entrevistada: Cistina Vicentina Figueiró Sena, 94 anos
Francisco Badaró, no Médio Jequitinhonha, no nordeste de Minas

Este texto conseguiu a Medalha Bronze, no Gênero Memórias, na OLIMPÍADA DA LÍNGUA PORTUGUESA/2010.
Leia outros textos de Talentos do Vale, de estudantes de Francisco Badaró, sob orientação da Professora de Lingua Portuguesa e Literatura, Adna Figueiró.
Acesse os outros textos:
http://blogdobanu.blogspot.com/2011/08/lembranca-de-sucuriu.html
http://blogdobanu.blogspot.com/2011/08/as-maletas-de-dona-mu.html

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