História de Tamborzeiros do Rosário de Araçuaí em Medina
Há 30 anos mais ou menos, o prefeito da cidade de Medina foi convidado por alguns araçuaienses que moram na cidade a serviço da Copasa para assistir as comemorações da Festa do Rosário . O prefeito veio com muito interesse, pois já tinha ouvido muitas histórias que a festa era uma maravilha. De fato. O prefeito e família ficaram encantados. Ele gostou tanto que ofereceu a cidade de Medina por um dia aos tamborzeiros.Não precisava demonstração do rei e rainha nem juízes, mas sim, só dos tamborzeiros.
Foram eles que chamaram a atenção do prefeito. Ficou marcado a data da apresentação: 13 de dezembro, dia consagrado a Santa Luzia, santa de devoção do Prefeito Ficou tudo combinado.
O prefeito foi pra sua cidade muito alegre. Chegando lá avisou seus auxiliares que espalharam o comentário por toda a cidade. O João Lolôsca, filho de Felisbino Sapateiro era na época o presidente da Irmandade do Rosário, e o João Mocó era o capitão do tambor. Os dois com alguns membros da irmandade, como Pedro de Meia, Luiz de Meia, Luiz Sapateiro, Nilton Curió e outros; fizeram uma reunião pra estabelecer o procedimento dos tamborzeiros. Numa cidade diferente que o povo nem o prefeito sabem que todos têm apelidos, iriam estranhar quando estivessem tomando todas. Começariam a chamar Zé de Meia de Zé Cuão, Antônio de Zilá de Tono Cú Sujo, João Evangelista de João Mocó, Zé Lopes de Tó Bufão e outros mais.
Foi estabelecido umas normas, como por exemplo, chamar todos pelo nome correto, e Ave Maria de beber pinga na hora do tambor. E assim as normas foram passadas para os tamborzeiros que acataram com toda prontidão, mas exigiram que depois que terminasse o Tambor iriam beber e comer até morrer. Deram as mãos e negócio fechado.
Chegado o dia combinado o prefeito mandou um ônibus apanhar os tamborzeiros. Começou a arrumação para a viagem que foi rápido, mas também não faltou alguns penetras, porém, os organizadores não importaram porque os penetras geralmente cobrem a falta dos que embebedam.
Chegando à cidade de Medina foram bem recebidos pelo povão. Os tamborzeiros foram para o alojamento em uma escola e sem tambor nem gole, jantaram e foram dormir. No outro dia, o dia da festa, tinham muito que fazer.
Acordaram cedo e, foram arrumando a casa. João Evangelista, mais conhecido por João Mocó, foi dizendo: cambada vamos ensaiar pra gente “ mostrá” que somos bons!. O ensaio começou. Minutos depois, o pátio estava cheio de curiosos. tamborzeiro não gosta de exibir nem um pouco, isso para não falar o contrário.
No ensaio fizeram até a demonstração da cobra que era feito pelo tamborzeiro Capiano. Foram muito aplaudidos. Deram até autógrafos, mas, sem tomar nem um gole. Àquela altura já tinha muitos reclamando da falta do “ me”. Tudo bem. Tinham feito compromisso, e, palavra de tamborzeiro não volta atrás.
Chegando então à hora marcada o ginásio já estava lotado: o Prefeito e família, vereadores, o padre da cidade, delegado, enfim , quase todas as autoridades da cidade.
Agora o momento culminante: os tamborzeiros foram para o centro do pátio da escola. Fizeram a roda. João Evangelista fez a oração e começou o ronco dos tambores e as cantigas. Nos primeiros minutos, muita euforia. Depois, foi enfraquecendo e com 10 minutos parou. Todos colocando a alma para fora, perdendo o fôlego. João Almeida, ou João Lolosca que era o presidente, foi logo chegando à roda e exclamou: gente, gente! o que aconteceu !Desse jeito vocês me matam de vergonha! A parada do tambor tem de ser no mínimo de meia hora. Anda!
Vamos começar que o povão já esta reclamando. E começou novamente, mas, bem devagar. E parou de novo , com menos tempo. Tamborzeiro é assim: um colocando culpa no outro. E começaram as rusgas. João Almeida chamou o pessoal do tambor e disse: gente! Será que não ta faltando uma pinguinha? Todos tamborzeiros bateram palmas e gritaram: é isso mesmo.
Seu João, que chegou ao prefeito e deu o toque. Logo apareceu cinco litros da boa. E foi só alegria. Um gole daqui outro dali e o pau quebrou. Foi tamborzeiro equilibrando o litro cheio de pinga na cabeça, deitava e pulava com o litro e por ai afora.... Quando deram uma parada o suor estava caindo por toda parte, mas também foi uma hora sem parar.
O João Almeida comentou para o prefeito: sem o “ me “ eles não tocam. De repente João Evangelista gritou: Cambada, vamos começar. E perguntou bem alto : Zé Cuão cadê To Bufão? Zé Cuão respondeu : Tó Bufão saiu com Antônio Cú Sujo e Antônio Cafubira, disseram que iam ao boteco comprar um “ paieiro”. João Mocó ordenou, Zé Cuão a chamar Zé Cobra para trazer todo mundo. Zé Cobra retrucou: João Mocó, eu não vou. porque esses tamborzeiros são muito pirracentos. Manda Adilson Capeta e To Barriola que não vou não.
E o povo caiu na risada juntamente com o prefeito, porque nunca tinham ouvido tantos apelidos engraçados. E foi só festa a noite toda e o povo começou a chamar os tamborzeiros pelos seus apelidos.
Parabenizando todos os tamborzeiros, o prefeito disse que nunca tinha visto uma festa tão animada e engraçada .
Naka e Zé Cobra
Naka e Zé Cobra
Gazeta de Araçuaí, por Sérgio Vasconcelos
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