Negros e pobres de Berilo revivem festa do Rosário.
Tambor rufou, a fé inflou!
O povo despertou, saiu, dançou!
E fez rolar a festa de fé e alegria!
Berilo – Vale do Jequitinhonha
A Festa do Rosário, em Berilo, não acontecia desde outubro de 1982. A Igreja colonial, construída no século XVIII, foi destruída, tombou literalmente.
O povo pobre e os negros se recolheram, guardaram o momento da volta.
São 28 anos de silêncio contido, fé reprimida, momentos de espera. De olhar assustado com a construção de uma outra Igreja que não era a dos seus desejos e fé, na praça principal da cidade. A sua Igreja, a construída com suor e sangue dos seus antepassados, nada foi feito para reconstruí-la.
Os tamborzeiros, os congadeiros, os devotos viviam perambulando, sambando e batucando nas Festas do Rosário de Chapada do Norte, de Minas Novas e de Francisco Badaró, cidades do Médio Jequitinhonha, no nordeste de Minas.
A fé e o sentimento de sua cultura, dos modos de viver, pensar e sentir do povo negro de Berilo estavam espremidos, procurando jeitos de se manifestar.
Berilo tem a maioria da sua população de raça negra.
O município tem 27 comunidades quilombolas, sendo considerado o lugar de maior concentração de negros de Minas Gerais.
O povo de Berilo é um povo negro por excelência.
Porém, destruíram a sua mais genuína forma de manifestação de fé, de cultura popular.
Nos últimos 01 e 02 de maio, nas Conferências Municipais da Promoção da Igualdade Racial, Municipal e Regional, o povo registrou: queremos resgatar as festas e todas as manifestações culturais afro-brasileiras da região, principalmente a de Berilo, do nosso lugar.
Daí em diante só se viu nas comunidades quilombolas, nas casas, nas ruas e praças, nos botecos, nas esquinas, conversas em resgatar a Festa.
Algumas pessoas correram na frente, juntou-se com outras e procuraram organizar a festa.
Beleza! Vamos juntar todo mundo e fazer a festa! A rainha e o rei seja quem quiser ser, ter fé, sentir vontade.
E assim se decidiu! E assim foi.
Íris do Rosário Amaral quis ser Rainha, seu marido Zé de Quelé é o Rei.
Muita gente vem participando da organização da Festa.
O povo se envolveu, rezou , cantou , dançou e faz a festa!
Desde 09 de outubro, as novenas têm sido presenciadas por muitas pessoas que estavam afastadas da Igreja. Voltaram, alegres, felizes, animados na fé!
Depois das novenas, muita festa com os tamborzeiros da comunidade de Lagoa Ezequiel.
Danças se viram e cantos se ouviram: “Sinhô rei, sinhora rainha, guarda pra mim o sobrecu da galinha”; “ Companheiros, vamos simbora!”; O sonhim subiu no pau fez cara feia pra mim, ô bicho feio é o sonhim!”; “O tatu tá chumbado na gaia do pau”; "Eu vou tocar tambor me acompanha quem quiser. o rei deste ano é o Zé de Quelé!": "Ó pega a paina, sacode a paina, põe a paina pra secar, quando de manhã cedo quero ver paina voar". E assim foi.
Os congadeiros, os dançadores, os negros despertados, os brancos metidos e aparecidos.
Até que alguém puxa um canto de luta dos negros contra a opressão das raças. Assim: “Essa dança aqui é de nego só, se branco entrar cai no cipó”.
Os participantes da festa decidiram que o novo Rei e a nova Rainha serão Raimundo Maciel e Betinha de Luzia.
São legítimos representantes das comunidades quilombolas. Que assim seja!
Agora é só festa! E seja o que os congadeiros novos e antigos quiserem!
A programação da festa prevê:
17 de outubro – sábado
Levantamento de Mastro
19:00 horas – Procissão da Bandeira saindo da cas dos festeiros até o palco alternativo construído no espaço da “Igreja do Rosário”
Em seguida, missa e levantamento do Mastro.
Celebração da Santa Missa por Padre Delmiro.
.Responsáveis: Comunidades Quilombolas de Alto do Caititu, Caititu do Meio, Mocó, Muniz-Boa Vista, Cafundó, Santo Izidoro, Água Limpa de Cima e de Baixo e Quilombolas; Escolas CESEC, Escola estadual de Porto, de Roça Grande.
18 de outubro – Domingo
Cortejo e Missa Campal
9:00 Hors – Reinado, saindo da casa dos festeiros até o local onde existia a Igreja do Rosário , seguido de Missa Solene e Coroação de Nossa Senhora , ritual de bênção do Rei e Rainha e transfer~encia da coroa para os festeiros do próximo ano.
!6:00 horas – Casa dos Festeiros – José Geraldo e Íris Amaral
Rua Francisco Badaró Júnior
Momento do doce e do vinho.
Viva Nossa Senhora do Rosário! Viva!
Um comentário:
Primeiro deixa eu comentar que entrei no teu blog por acaso, pois estou pesquisando sobre a festa de rosário de Pombal, na Paraíba, mas quiz ver outras festas também, então cheguei aqui.Blog do Banu, então achei graça, porque meu filho de 2 anos e meio se chama Ébano e se autoapelidou Banu, todos o chamam assim agora. Então fui ler sobre a festa e fiquei muito feliz em ver um resgate tão bonito, feito pela própria população negra que se apropriou de sua festa, suas tradições, sua fé e levou a festa em frente.Agora me diz uma coisa, o rei e a rainha sempre vestiram esses trajes? Eles usam o pálio real? levam algo nas mãos?Se puder me responder agradeço. vou estar acompanhando pelo blog.
Postar um comentário