Manifesto em defesa do Vale do Jequitinhonha - Parte II
O novo ciclo de exploração no Jequitinhonha, vale a pena só assistir?
Higino Pedro Filho
(Adaptação do manifesto de Apolo Heringer Lisboa)
Houve o declínio relativamente rápido do ciclo da mineração, os restos de gado e gente dos garimpos se espalharam pelo sertão, tentando sobreviver com atividades agropecuárias de subsistência e de uma pequena e dispersa atividade de garimpo complementar. Esta estrutura social atrasada e isolada dos centros urbanos de então, baseada no trabalho escravo e no trabalho semi-escravo dos agregados das fazendas de gado e das fazendas de subsistência agrícola, dos grandes e pequenos coronéis do sertão, criou uma mentalidade que é a responsável pelos seus atuais problemas.
Apesar de hoje a tecnologia permitir superar as suas dificuldades e rentabilizar seus potenciais, o Vale do Jequitinhonha carece de uma estrutura educacional e empresarial moderna que seja capaz de promover o desenvolvimento da região. Sem pesquisas, sem salários, sem escolas de bom nível, viveiro de mão-de-obra braçal, ainda sofre, para sua maior desgraça, a ação perversa de lideranças políticas tacanhas, clientelistas, aproveitadoras e subdesenvolvidas, perpetuando o quadro descrito.
As campanhas por mais verbas para a seca visam provocar a chuva exclusivamente em suas hortas. Alterar esta liderança política, com um movimento unindo a juventude que estuda e produtores rurais, parece ser o caminho mais viável de um soerguimento do Vale. Isto ao lado de investimentos dos micros, pequenos e médios empresários. O desenvolvimento se dá pela iniciativa privada, com ação reguladora das administrações públicas.
A Administração deveria investir em educação, assistência médica e infra-estrutura (saneamento, comunicação, estradas e eletricidade), diretamente ou terceirizando, incentivando os cidadãos a construírem sua região, em parceria com investimentos privados. Foi criada recentemente a UFVJM, grande iniciativa do governo Lula, mas o projeto carece de avançar mais para “dentro” do Jequitinhonha, com a criação de pólos educacionais nas cidades centrais do Vale, como Araçuaí, Itaobim e Almenara. isso por si só já seria um fator que agregaria desenvolvimento, com a implantação de cursos como Medicina, Engenharia. Isso poderia utilizar as estruturas do CEFET já existente. Já existe a mobilização de alguns deputados (votados aqui) para que o curso de Medicina vá para T.Otoni, e aí mais uma vez a pergunta:
Por que não em Araçuaí? Falta-nos estrutura? Tragam junto a estrutura, uai!
A região não pode e não deve cultivar como seu marketing este “complexo de mendiga”. Faz mal a si própria. A meninada está crescendo lendo isto nos livros escolares e vendo a televisão e os políticos ter dó deles. O chapéu na mão à espera de adjutórios, ou a cesta básica, não podem continuar sendo o símbolo do Vale, nem o pagamento das esmolas com votos.
Esta choradeira deprimente não nasce dos trabalhadores rurais pobres e dignos, os verdadeiros sertanejos, mas daqueles que se locupletam com empréstimos dos bancos e benesses das prefeituras. Os principais beneficiários desta “indústria das lágrimas, da miséria e da fome” sempre foram os antigos “coronéis” e os chefes políticos da região, estreitamente associados aos proprietários mais ricos de terras e bens. Quanta gente se enriqueceu assim?
Os sertanejos que realmente labutam jamais viram a cor do dinheiro e dos benefícios que chegam para acudir a “seca e os pobrezinhos” do Jequitinhonha. Quem não conhece bem as mazelas e truques das raposas políticas do Vale e dos políticos que se intitulam “representantes do vale” até que se emocionam com suas campanhas perversas e com seus discursos emotivos.
Estas campanhas foram geradas pela esperteza do coronelismo antigo e inclusive fomentadas pelos novos “coronéis de esquerda”, que tem surgido nas últimas décadas para unificar a população em torno de sua liderança retrógrada, responsável pelo atraso da região usando a seca e a miséria.
As audiências públicas, as representações de mandatos, promovidas no vale tem aparecido com certa freqüência. o vale tem recebido visitantes ilustres. Eles chegam com boa vontade, mas pouca ação. A liderança do Vale continua fraca e não sabe aproveitar os encontros para colocar bem o problema do Vale a nível nacional. O debate trazido pelos nossos “representantes” eleitos concentra-se em dois pilares: A tomada do poder pelo PT e a manutenção deste mesmo poder.
A primeira premissa é discutível. Realmente, houve uma melhor distribuição de renda, mas não resolveu questões localizadas. isso é apenas um aspecto da falta de representatividade local. Na outra ponta da língua, continuam com aquele velho e desbotado discurso de 20 anos atrás, onde em pleno século 21 ainda se fala em “grande esforço legislativo para colocação de cacimbas de água” , “grande esforço para achar colocação para os quase ex-cortadores de cana.”
Higino Pedro Filho é funcionário da Cemig. Natural de Coronel Murta/Itaobim, mora em Araçuaí.
Comunique-se com ele pelo higinopedrofilho@gmail.com
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