segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

BBB, tem gente que vê só para falar mal

BBB, tem gente que vê só para falar mal
Especialistas discutem por que o público ama odiar os reality shows da televisão
Jornal Estado de Minas, 21.01.2012

Analice (em primeiro plano) foi eliminada com 53% dos votos e já saiu do BBB 12
Quando fazia sua tese de doutorado pela Universidade Autônoma de Barcelona, em 2003 – que viraria o livro Por que os reality shows conquistam audiências? (Ed. Paulus) –, a especialista em TV e conteúdos digitais Cosette Castro percebeu um fato curioso: quanto maior a escolaridade do entrevistado, mais ele jurava que não assistia a esse tipo de programa, mas era comum que essa mesma pessoa soubesse quem era o “eliminado” da semana ou qual a maior polêmica do reality show da vez.
O paradoxo não é restrito à Espanha. Depois da estreia da 12.ª edição do Big Brother Brasil, enxurradas de manifestações inundaram de críticas os botequins e redes sociais. Críticas seguidas pela última frase de Pedro Bial ou por um xingamento ao vilão da temporada. Ou até pela grave denúncia de abuso sexual. Por que, então, as pessoas amam odiar o BBB, o reality de maior alcance e longevidade no país?
POLÊMICA
“Esse tipo de programa é marginalizado, relacionado à baixa cultura. As pessoas têm vergonha de dizer que assistem. É a hegemonia do saber da classe alta contra o saber popular”, teoriza Cosette, professora de pós-graduação em comunicação da Universidade Católica de Brasília. Segundos especialistas, no Brasil, o sucesso do formato está ligado não só à curiosidade pela vida alheia, mas à edição, com elementos como amor, ódio, ciúme, competição, sexo e solidariedade, que fazem o êxito de qualquer história.
Com 35 anos de estudo e trabalho nos bastidores da TV, Gabriel Priolli, ex-diretor de programação da Cultura e hoje produtor independente, lembra que os participantes são, desde o início, convertidos em personagens. “Um espectador criado numa cultura telenovelesca evidentemente fica fascinado pelo BBB. Mas assim como acontece com os noveleiros, desvalorizados socialmente pela ‘perda de tempo’ com um material audiovisual supostamente menor e idiotizante, o público do BBB não consegue assumir plenamente sua paixão pelo programa”, acredita Priolli. “Fazem o jogo do ‘assisto, mas falo mal’. Reclamam de uma TV de maior nível cultural, mas não a assistem, pois, caso a assistissem, as emissoras públicas liderariam a audiência.”
Já para o sociólogo, jornalista e professor de comunicação da USP Laurindo Leal Filho, quem assiste mesmo não gostando o faz por falta de opção. “Além do apelo por algo inusitado, expectativa criada pela previsibilidade da programação de TV, num país com baixo nível de leitura e possibilidades reduzidíssimas de diversão e entretenimento de baixo custo a TV reina soberana, apesar de não agradar a todos”, afirma.
Recordista brasileiro em participação em reality shows – e em polêmicas –, Alexandre Frota fez parte da primeira e mais vista Casa dos artistas, e de duas versões lusitanas: A fazenda e Primeira cia. Na Record, idealizou, produziu e dirigiu A fazenda e, agora, no SBT, prepara o reality de casais Vivendo com o inimigo. Perito no assunto e em receber críticas, Frota acredita que as novas mídias ajudam no êxito do formato. “A chave do sucesso, entre outras coisas, é esse julgamento. Tudo está em questionamento: aparência física, caráter, ética, vivência, oportunidades, moral, cultura e a polêmica. Então, falem, critiquem, discutam, mas assistam.”

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