domingo, 16 de outubro de 2011

Festa doRosário dos Homens Pretos de Berilo renova fé católica, com alegria e esperança



Festa do Rosário dos Homens Pretos de Berilo renova fé católica, com alegria e esperança
Uma festa diferente. È a de Nossa Senhora dos Rosário. É misto de demonstração de fé, amor e solidariedade. O catolicismo popular tem disso. Não separa a fé cristã de origem portuguesa e suas crenças em entidades dos indígenas e afrobrasileiros. A fé que comanda é a cristã católica, adereçada por cantos e danças indígenas e africanos. Mistura tudo, em um mexido de fé, alegria e esperança. É uma festa alegre, risonha, de cantos e danças populares, de crenças que movem e renovam lares, de batuques e truques de folia, de cantos e encantos de alegria. Assim foi Berilo, no Médio Jequitinhonha, nordeste de Minas, na segunda semana de outubro. Os dias de novena moveram comunidades que organizaram suas rezas.
No sábado e domingo, 15 e 16.10, aconteceu a revolução da prática cristã popular.
No dia do mastro, à noite, tamborzeiros de Chapada do Norte e Francisco Badaró se juntaram aos de Berilo. Dançaram e cantaram a noite inteira. No sábado, os grupos de congada de Berilo, Chapada do Norte e Francisco Badaró acompanharam e reverenciaram o Rei e Rainha do Rosário, Afonso de Nata e Marlene de Dona Rosarinha. Sessentões, tiveram a companhia dos filhos, Warley, Kátia e Elane, seu genro Sérgio Sena e nora. A Congada de São João Batista, da comunidade de Lagoa Ezequiel, jogava seu canto principal “Maria vei, num vei não, porque que num vei, num sei não.” A população caia na folia e no ritmo rodopiante e eletrizante dos congadeiros. Logo depois, vinha outra congada, Batuque dos Quilombolas de São Benedito, de Berilo. Alessandro Borges de Araújo, de 22 anos, comandava um grupo de mais de 40 pessoas, com seus tambores, pandeiros, agogôs, violas e sanfonas, a expor sua fé, no corpo e na alma.
E entoava canto novo: “Ô Afonso, tou chegando no seu terreiro. Ô Marlene, passa pente no cabelo”.



E cantava o canto da raça negra: “Batuque é dos pretos, senhora! Eu também sou preto, senhora!”. Ou desafiava o mundo dos mandões. “O batuque aqui é de preto só, se branco entrar cai no cipó”. Antes que os congadeir@s do grupo protestassem pelo preconceito, arrematavam, solidários: “O batuque aqui é de preto só, se branco entrar fica mió!”. Frei Laércio colocou combustível na festa de dança, canto e fé. Ao celebrar a missa do Dia do Mastro, no sábado, pedia, provocante:

“Levante as mãos quem aí é filho da mãe!”. Os mais velhos se assustavam com tamanha ousadia. “Gente, quem é filho da Mãe de Maria, Nossa Senhora do Rosário!”, explicava o Frei. “Ah!, Aí sim, eu levanto a mão!”, diziam os mais velhos.

Os mais novos vibravam com o novo celebrante, irreverente, falando a sua linguagem. E traziam seus colegas, amigos, parentes e quem pudesse participar de celebração vivificante.
No domingo, dia final da festa, que se iniciou no dia 1º de outubro, a alvorada, a partir das 5 da mnhã, acordou a cidade com batuques e foguetórios.
A Congada da Lagoa Ezequiel, comandada pelo puxador de canto e tocador de surdo, Juvenal, fez a cidade acordar cedo e entrar na festa de rua que terminou com um café da manhã, no Centro Comunitário, oferecido pelos festeiros. À 9 horas, debaixo de chuva, as congadas foram buscar o rei e rainha do Rosário. A chuva que caiu fina não assustou os foliões que cantavam e dançavam: O Batuque dos Quilombos cantou: ” Chuva vai, chuva vem, chuva fina não molha ninguém!” .

O cortejo do rei e rainha foi acompanhado por uma multidão, passando em ruas enfeitadas, nas portas e janelas, e seus moradores nas portas, com brilhos nos olhos. Saiu da Rua Padre Itamar José Pereira, descendo pela Praça Nossa Senhora dos Pobres, entrando na Rua Francisco Badaró Júnior, rodando a Praça da Prefeitura, entrando na Rua Coronel Amaral, descendo o Morro do Cruzeiro, chegando até o Largo do Rosário, local da antiga Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos de Berilo. Um cortejo de Rei, Rainha, príncipes, mucamas, senhorinhas e outros personagens dos trezentos anos da maior festa religiosa dos negros do Brasil.

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