quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Lembrança de Sucuriú

Talentos do Vale
Lembrança de Sucuriú
Marcone Reis Pedroso - Francisco Badaró
Naquele tempo, Francisco Badaró era apenas povoado e se chamava Sucuriú.

Dizem que ganhou esse nome porque, há muito tempo, quando foram procurar uma madeira para colocar numa bandeira de festa junina, encontraram um grande pau, grosso, já pintado. Ao observar, perceberam que era uma cobra sucuri. Outros dizem que é por causa do rio Sucuriú que corta a cidade. Ele é sinuoso como uma cobra.

Lembro-me de que a feira era realizada aos domingos na Praça Monsenhor Bernardino, ao lado da Casa Santa Luzia. A igreja da matriz já não é a mesma. Ela era muito diferente, tinha duas torres, e nas missas os homens ficavam separados das mulheres.

As casas eram de adobe, barro amassado e comportado numa forma quadrada. Elas eram feias e mal construídas. A cidade não possuía água encanada, também não havia energia elétrica, mas com o tempo passou a ter luz no motor até a eletrificação chegar. Comia-se o que plantava e plantava-se na beira do rio. Colhiam-se arroz, feijão, milho, cana, algodão e hortaliças. Da cana faziam-se a rapadura, a garapa e o melado, e do algodão, o cobertor.

Naquela época, buscava-se água no rio Sucuriú para cozinhar, beber e tomar banho. Tudo num pote de barro. Limpava arroz no pilão – um pedaço de madeira com um buraco no centro – com a mão-de-pilão – pau usado para socar.

Nas margens do rio Sucuriú as pessoas procuravam ouro, usando uma bateia – instrumento no qual se lavava o cascalho.

A vida era muito tranqüila, andava-se a cavalo ou a pé, porque não existiam estradas, nem carros e motos.

Tão diferente de hoje! As ruas da cidade não eram calçadas. Havia uma calçada larga das casas de um lado e do outro da rua e no meio era terra.

Antigamente, tudo era festejado. Os casamentos, os terços, os bailes, os noves – dança folclórica da região –, as brincadeiras de roda eram celebradas por adultos e crianças. Não é como agora, hoje as pessoas têm vergonha de seguir suas culturas.

O modo de se vestir era outro. As mulheres vestiam uma saia bem grande de algodão e uma camisa de manga comprida. Os homens vestiam uma calça comprida, um paletó e um chapéu na cabeça.

Os namoros eram tímidos. O rapaz, quando ia à casa da namorada visitá-la, não sentava perto dela e o pai não saía dali. Só quando o moço ia embora.

Quase não se ia à escola. Os filhos começavam a trabalhar cedo e nem podiam estudar. Aqueles que freqüentavam a escola sofriam muito, pois iam a pé e às vezes chegavam atrasados. A merenda não era boa. A professora castigava e batia com vara naqueles que desobedeciam. O ensino não era de boa qualidade.

A minha vida hoje é mais fácil do que antigamente, já sou aposentado. Sucuriú cresceu e hoje se chama Francisco Badaró, mas o rio não corre mais e as lavouras não produzem.

Por mais sofrida que tenha sido a vida de antigamente, nunca esquecerei. Fico com saudade daquele tempo e às vezes me emociono. O que passou ficará na minha memória para sempre.

Autor: Marcone Reis Pedroso
Nome do entrevistado: José Gonçalves Reis, 76 anos
Localidade: Cachoeira – Francisco Badaró/MG
Professora: Adna Figueiró Duarte Escola: Escola Estadual Cônego Figueiró
Francisco Badaró, no Médio Jequitinhonha, nordeste de Minas.
Medalha de prata
OLIMPÍADA DA LÍNGUA PORTUGUESA
- 2008

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