sexta-feira, 8 de abril de 2011

Tragédia do Rio: Matador de crianças tinha traços de psicopata

Tragédia do Rio
Matador de crianças tinha traços de psicopatia: frio, calculista, inteligente e introspetivo

O dia 7 de abril foi o da tragédia. Um jovem de 24 anos, sem antecedentes criminais, entra na sua ex-escola e comete uma barbaridade: mata 12 adolescentes e se suicida.

Esta tragédia em uma escola municipal do Rio de Janeiro deixou o país de luto.
Este é o único caso de matador em massa do país. Foi também o mais estarrecedor, pelo número de vítimas e por ter ceifado a vida de adolescentes entre 12 e 14 anos.
Quem, em um curto período de tempo, assassina várias pessoas tem perfil psicológico
parecido ao serial killer - matador em série.

O perfil do matador é de um psicopata, que é descrito como alguém “aparentemente calmo, muitas vezes instrospectivo, sem histórico de envolvimento com problemas com a polícia, mas que se trata de uma pessoa com forte egocentrismo e um imenso desprezo pelos sentimentos e necessidades do outro”.

Uma pessoa tem a personalidade do tipo psicopático por várias razões: por questões biológicas, genéticas e história de vida.

Os relatos até agora dão conta que o assassino dos adolescentes tinha uma personalidade psicopática. Os principais sinais dos psicopatas: o isolamento social (embora muitos psicopatas também possam parecer bastante sociáveis, manipulando suas vítimas), o histórico de agressão a animais quando crianças ou adolescentes, mentiras frequentes e seu distanciamento afetivo.

Em geral os psicotapas, incluindo aqui os serial killers, assassinos em série, estupradores e pedófilos sabem o que estão fazendo. Não são, na sua maioria, "loucos" no sentido de estarem sendo movidos por alguma alucinação no momento do seu crime.
Ou seja, tem noção do certo e do errado, tanto é que geralmente planejam cuidadosamente suas ações para ter êxito: escolhem o método, locais, vítimas.
O termo científico para a psicopatia ou sociopatia, como também é conhecido, é Transtorno de Personalidade Anti-social, que tem vários graus, dos mais leves onde a pessoa manipula as outras pessoas para obter vantagens econômicas, por exemplo, até graus que envolvem atos de extrema crueldade.
Pouco se pode fazer para se evitar ter contato com um psicopata ao longo da vida: provavelmente todos nós já conhecemos e até mesmo convivemos com alguém com algum grau de psicopatia, mas felizmente os graus médio e severo de psicopatia ocorrem em apenas 3% dos homens e 1% das mulheres.

A grande preocupação agora é com o suporte às famílias que perderam suas crianças e com as vítimas que sobreviveram ao massacre, não só aquelas que estão feridas, mas também os que lá estavam e presenciaram a chacina: há o risco de qualquer uma delas desenvolver o Transtorno de Estresse Pós Traumático, que faz com que a vítima reviva o trauma através de recordações, sonhos e pensamentos que não consegue controlar.

O suporte também deve ser dado a todas as escolas. Os estudantes, principalmente do Ensino Fundamental, de 6 a 14 anos, podem desenvolver "síndrome do pânico". Não se deve pensar que esta tragédia ficou circunscrita ao bairro Realengo, no Rio, ou à cidade. Ela já tomou conta do país e das preocupações de crianças, adolescentes e jovens, além dos pais, é claro.

Embora o comportamento deste matador mostre algum nível de desligamento da realidade (basta ler a carta que ele escreveu e que foi encontrada no seu bolso, onde ele dá instruções sobre seu sepultamento e fala de forma obsessiva sobre pecado, Deus e Jesus), ele sabia exatamente o que estava fazendo: pelas imagens divulgadas pela TV é possível ver que ele não estava com um comportamento típico de quem está tendo uma alucinação. Tinha tranquilidade suficiente para recarregar as armas e escolher as vítimas.

Deste fato, deduz-se que o matador não estava sofrendo um surto psicótico. Ele escolheu vítimas, principalmente as meninas, deixando outros escaparem. Ele abriu a porta das salas e atirou em meninas. Não atirou na professora, nem escolheu meninos.

Embora a imprensa tenha divulgado que sua mãe biológica é esquizofrênica, é importante ressaltar que apesar das condições Esquizofrenia e Psicopatia possam coexistir numa na mesma pessoa, o que impulsiona um matador em série a agir é o Transtorno de Personalidade Anti-social (Psicopatia) e não a Esquizofrenia.

Raramente um paciente esquizofrênico mata alguém e, se o faz, geralmente é no meio de um surto psicótico com alucinações severas envolvidas na motivação (por exemplo, a pessoa ouve "uma voz" que o manda matar determinada pessoa para "expulsar o demônio" de dentro dela).
Apontar como motivos para o massacre o fato de o matador ser filho adotivo e ter como mãe biológica alguém que tem Esquizofrenia é, no mínimo, um pensamento simplista e até mesmo um certo preconceito.

Há centenas de milhares de esquizofrênicos no Brasil e na imensa maioria dos casos estas pessoas não representam perigo algum. Também o fato de ele ser filho adotivo ou ter tido qualquer tipo de trauma não pode ser apontado como causa, afinal, muitas pessoas passaram por traumas severos, perderam os pais cedo, foram adotadas e tem um comportamento exemplar.

O que faz uma pessoa desenvolver o Transtorno de Personalidade Anti-social - Psicopatia ou Sociopatia -, é a combinação de uma série de fatores biológicos, hereditários e de história de vida, que em um grau muito severo, podem levar uma pessoa a cometer um crime tão bárbaro como o do matador em massa, que em geral acaba se matando quando é encurralado pela polícia ou quando "termina" seu ritual macabro.

Outras informações:
Esquizofrenia
Psicose onde a pessoa começa a apresentar sintomas de afastamento da realidade
• Atinge cerca de 1% da população
• Geralmente iniciada antes dos 25 anos nos homens
• Nas mulheres a doença ocorre mais tarde, por volta dos 29/30 anos
• Ocorre em qualquer camada sócio-cultural
• Apenas 2% dos esquizofrênicos apresentam a doença já na infância
• No Brasil, 800 mil pessoas são esquizofrênicas
• O risco sobe para 13%, se um parente de primeiro grau é portador da doença
• No caso de gêmeos idênticos, se um deles tem esquizofrenia, a possibilidade de o outro desenvolver o quadro é de 50%.

Psicopatia
• Não confundir com psicótico (doente mental que sofre de psicose). Psicopata refere-se a uma condição que é uma característica de personalidade, por isso não é uma doença propriamente dita. O indivíduo, devido a esta peculiaridade de ser faz os outros sofrerem.
• O psicopata é uma pessoa quase sempre impulsiva, incapaz de tolerar frustrações, não consegue atingir os sentimentos superiores (amor, altruísmo, sentimentos, espirituais), sendo um ser egoísta e não se comportam como "loucos".
• Os traços psicopáticos acentuam-se na adolescência e, segundo alguns autores, acompanham o indivíduo por toda sua vida. O psicopata geralmente não se motiva a procurar psicoterapia (se o faz é para conseguir outro intento que não o do seu amadurecimento) e por isso é tido como condição irrecuperável.

Esta é uma contribuição da Psicologia, ciência e profissão, para tentar entender as motivações que levaram um jovem a provocar a Tragédia do Rio.
Agradecimento especial à psicóloga Shirley Piccolo Vieira Stamou, de Florianópolis, Santa Catarina.

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