domingo, 18 de abril de 2010

Lenda do Jequitinhonha

Lenda do Jequitinhonha
(E Romãozinho foi subindo, foi subindo)
E Romãozinho foi subindo, foi subindo e chegou na Meroaba de cima.
— Você viu a caipora?
— Não vi não.
E Romãozinho passou pela Bolandeira, cantando:
— Dom Pedro disse a Totonha sentado naquele beco que este rio Jequitinhonha é o rio do estrume seco.
Dom Pedro não era peco.
Dom Pedro disse a Totonha, Totonha disse a Pacheco.
Pacheco disse a Badico,
o burro contou à vaca,
a besta disse à perua
e a coisa saiu do beco
e se espalhou pela rua.
Este rio Jequitinhonha é o rio do estrume seco.
Quem me disse foi Joana que mora com seu Pacheco.
Você viu a caipora?
— Não vi não.
Nisto apareceu o amarelo empapuçado.
— Você viu Zeca?
— Que Zeca?
— Zeca Fedeca sem pé nem munheca.
— Valha-me, Nossa Senhora que este homem é Romãozinho!
Conheci pelo pé.
E Romãozinho foi cantando:
— Botei um circo no inferno pra as almas que estão penando se divertirem um pouquinho e se esquecerem do fogo.
Me visto então de João Bobo arremedo miriqui,
dou pontapés nos defuntos e o inferno faz:
quá-quá-quá e só se vê qui-qui-qui.
Quá-quá-quá. Qui-qui-qui.
As almas que estão sofrendo precisam se divertir.
Dou pontapé no esqueleto
me viro em menino-cobra faço careta
pra a morte passo a raspa no capeta
e o diabo faz:
quá-quá-quá
e a morte faz:
qui-qui-qui.
Quá-quá-quá,
qui-qui-qui.
— Você viu a caipora?
— Não vi não. (...)

Sosígenes Costa é poeta baiano, de Belmonte.
Este texto faz parte do livro Iararana, publicado em 1979, sobre lendas e o misticismo que envolvem o Jequitinhonha.
Belmonte é o município baiano onde o rio Jequitinhonha despeja no mar. Ou seja, é lá que está a foz do nosso rio.

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