Movimento Cultural de Águas Formosas e o Festivale
O Vale do Jequitinhonha se orgulha de possuir, desde a década de 1970, movimento cultural popular organizado em torno da realização do FESTIVALE. O que pouca gente sabe é que o FESTIVALE influenciou jovens artistas muito além dos limites das terras banhadas pelo Jequitinhonha e seus afluentes.
O FESTIVALE inspirou, por exemplo, um grupo de jovens de Águas Formosas, município do Vale do Mucuri, a criar, no final dos anos 1970, o MOCAF – Movimento Cultural de Águas Formosas.
O FESTIVALE inspirou, por exemplo, um grupo de jovens de Águas Formosas, município do Vale do Mucuri, a criar, no final dos anos 1970, o MOCAF – Movimento Cultural de Águas Formosas.
Sobre isso eu conversei, na Biblioteca Municipal da cidade, num sábado (6 de julho de 2009) de sol intenso, com Celso Ferraz, um dos protagonistas desta história. Os olhos de Celso Ferraz brilhavam enquanto ele rememorava os acontecimentos que deram forma ao MOCAF, escrevia letras de músicas compostas por amigos que se envolveram com o MOCAF. Uma ponta de saudade atravessava sua fala, misturada ao orgulho de ter participado do que ele considera uma era de ouro da cultura em Águas Formosas.
Conforme Celso Ferraz, rapazes de 18 e 19 anos, alguns já residindo em Belo Horizonte para estudar e trabalhar, se reuniam nos meses de férias na “capital do Pampã”. Ficavam madrugada adentro nas ruas de Águas Formosas, conversando fiado, esquentando fogo, remoendo assuntos de música e teatro com os quais eles entraram em contato na agitada Belo Horizonte.
Conforme Celso Ferraz, rapazes de 18 e 19 anos, alguns já residindo em Belo Horizonte para estudar e trabalhar, se reuniam nos meses de férias na “capital do Pampã”. Ficavam madrugada adentro nas ruas de Águas Formosas, conversando fiado, esquentando fogo, remoendo assuntos de música e teatro com os quais eles entraram em contato na agitada Belo Horizonte.
Entre as novidades de então, figuravam os jovens artistas do Vale do Jequitinhonha, cuja projeção aumentava em função do surgimento do FESTIVALE.
Os rapazes de Águas Formosas resolveram emular seus vizinhos do Jequitinhonha, do que resultou a criação do MOCAF.
Uma mobilização idealista, generosa, praticamente sem qualquer institucionalização, ao contrário do que acabou ocorrendo com o movimento que lhe serviu de inspiração. Com sonhos na cabeça e disposição para concretizá-los, os rapazes de Águas Formosas obtiveram algum apoio na cidade, da Prefeitura e de homens de negócio, para organizar o Festival da Canção de Águas Formosas (FECAF).
De 1979 a 1984, o Festival da Canção de Águas Formosas ocorreu regularmente, no mês de julho, com programação diversificada ao longo de três dias. Música, teatro e oficinas de arte integravam as atividades do Festival. As eliminatórias e a final do Festival de Música aconteciam à noite, no Parque de Exposições da cidade.
As cidades próximas de Águas Formosas, como Crisólita, Machacalis, Fronteira dos Vales e Pavão, contribuíram para engrossar o público que acompanhava os eventos do FECAF. Músicos e compositores do Vale do Pampã apresentaram-se nessas edições do Festival. Todavia, as cidades ribeirinhas do rio Todos os Santos (Teófilo Otoni) e do rio Mucuri (Carlos Chagas e Nanuque) ficaram bastante alheias ao Festival. Sinal evidente de que, no plano cultural, o Vale do Mucuri jamais alcançou o nível de coesão que se observa no Vale do Jequitinhonha.
As cidades próximas de Águas Formosas, como Crisólita, Machacalis, Fronteira dos Vales e Pavão, contribuíram para engrossar o público que acompanhava os eventos do FECAF. Músicos e compositores do Vale do Pampã apresentaram-se nessas edições do Festival. Todavia, as cidades ribeirinhas do rio Todos os Santos (Teófilo Otoni) e do rio Mucuri (Carlos Chagas e Nanuque) ficaram bastante alheias ao Festival. Sinal evidente de que, no plano cultural, o Vale do Mucuri jamais alcançou o nível de coesão que se observa no Vale do Jequitinhonha.
Se na direção sul de Águas Formosas imperava a desarticulação, nos rumos oeste e norte vingavam as trocas intensas, o congraçamento familiar e entusiasmado.
Os artistas do Vale do Jequitinhonha foram presenças constantes no FECAF. Rubinho do Vale (de Rubim), Carlos Lucena (de Joaíma) e José Machado (de São Pedro do Jequitinhonha, animador dos trabalhos no campo do teatro).
Outros artistas mineiros também participaram do Festival de Águas Formosas: João Carlos Cavalcanti (de Ponte Nova), Tadeu Franco, Chico Canela (de Três Pontas) e Sérgio Moreira. Por sinal, é de Sérgio Moreira a letra da música “Águas Formosas”, uma espécie de hino do FECAF, composto enquanto os rapazes tomavam banho de cachoeira à espera da noite final do evento, na edição de 1982:
Águas Formosas
Águas Formosas, formosas águas,
Belas meninas nas mini-saias,
Pura beleza plantada nas águas do Mucuri.
Canto a noite, estrelas em pleno parque,
Canto a noite, estrelas em pleno parque,
A gente vai se unir.
Águas Formosas, o Mucuri te alcança
E lança um sorriso, cobre de alegria a praça.
Águas Formosas, formosas águas,
Águas Formosas, formosas águas,
E a gente que chegou te ama,
Te abraça.
A partir de 1985, diversos motivos fizeram o Festival da Canção de Águas Formosas desaparecer. Para Celso Ferraz, faltou apoio das administrações municipais e, principalmente, saíram muitos jovens ligados ao MOCAF.
As obrigações sisudas da vida adulta tomaram o tempo deles, afastando-os da fruição da produção cultural desinteressada. Na verdade, penso eu, a mística dos festivais e da cultura popular arrefeceu, na medida em que a indústria cultural avançou rapidamente no país, durante o último quartel do século passado.
O que causa angústia é saber que a maioria das canções e dos trabalhos de arte e artesanato apresentados nas seis edições do FECAF está se perdendo ou já se perdeu inteiramente. Não há registros organizados sobre o Festival, que parece não ter tido um memorialista ou cronista dedicado, meticuloso, inventivo.
O que causa angústia é saber que a maioria das canções e dos trabalhos de arte e artesanato apresentados nas seis edições do FECAF está se perdendo ou já se perdeu inteiramente. Não há registros organizados sobre o Festival, que parece não ter tido um memorialista ou cronista dedicado, meticuloso, inventivo.
O próprio Celso Ferraz lembrou com dificuldade da letra que compôs, musicada por Zé das Águas, e que obteve o segundo lugar na edição de 1983 do FECAF. Uma canção escrita na fazenda, varando a madrugada, depois que Celso Ferraz viu na TV as notícias e imagens dramáticas dos combates na Guerra das Malvinas:
Canto Latino
A América planta com as mãos
Os corpos dos seus irmãos,
Tentando assim entender a flor que irá brotar.
Canta América viva, canta sua poesia.
Canta América viva, canta sua poesia.
Se não perdermos a guerra,
a paz nascerá no outro dia.
E a mãe não vai mais chorar.
Cabeças sem medo erguerão,
Cabeças sem medo erguerão,
Divisas voarão pelo ar,
Meu povo virá à avenida
prá todos juntos cantar,
Prá todos juntos cantar.
Afia o facão, seu posseiro,
Afia o facão, seu posseiro,
Trincheire o chão, garimpeiro,
Anuncie com berrante, vaqueiro
E vamos todos lutar.
É uma parte importante da cultura de Minas Gerais que cai no esquecimento.
Expressões de sentimentos e de vivências que parecem ter gorado, porque não deixaram legado e não se prestarão a reinterpretações.
Por Marcos Lobato Martins, 18 de setembro de 2009
Por Marcos Lobato Martins, 18 de setembro de 2009
Um comentário:
nossa foi bom d++++++++++!!!
Ano que vem to lá denovo...
Vem tbem,garanto que vc não vai se arrepender!
É o melhor encontro cultural do VALE...
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