Rudá Ricci
Comecei a estudar o Dicionário Lula, elaborado por Ali Kamel (Editora Nova Fronteira). Foi elaborado a partir de discursos improvisados de Lula, o que possibilita uma visão mais geral de seu ideário.
Foquei, de início, o conceito de democracia. Queria compreender se a democracia participativa entra em seu ideário. Não entra. O que sobressai é o pragmatismo popular brasileiro: o importante é o acesso a bens e condições básicas de vida.
Vejamos alguns discursos:
Em 13/02/03, na abertura da reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social:
"A democracia definitiva só irá acontecer quando, neste país, nós soubermos que todos (...) tenham tido acesso às coisas elementares que todo ser humano deva ter: odireito de trabalhar; o direito de ter acesso á saúde; o direito de tomar café, almoçar e jantar todo santo dia".
Em 6/5/08, inauguração de obra do PAC e em 17/6/03, em Pelotas:
"A alternância do poder é importante"" Essa é a coisa extraordinária da democracia e do pluralismo: é cada um acreditar em uma coisa e estabelecer fóruns para discuti-las e aprová-las".
Em 31/1/07, em Suape:
"E para ser incluído nessa tal de democracia, não basta garantir ao povo o direito de gritar que está com fome; é preciso garantir ao povo o direito de trabalhar, de comer, de estudar e de ter acesso a todas as riquezas produzidas neste país".
Enfim, trata-se de uma hierarquia conceitual: não basta reivindicar, tem que ter acesso a bens básicos.
Parece correto à primeira vista. Afinal, toda ação pública e política deve gerar um resultado concreto. Correto, mas insuficiente. Lula subestima (ou subordina) o método de participação ao resultado, o que aumenta a iniciativa governamental e do gestor.
A dimensão pedagógica da ação política e governamental aparece subordinada à urgência.
Rudá Ricci é cientista política, doutor em Ciências Sociais e Diretor Geral do Instituto Cultiva. Autor de Dicionário da Gestão Democrática (Editora Autêntica), entre outros.
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