quarta-feira, 30 de setembro de 2009

As instituições têm futuro?
Rudá Ricci
A pesquisa sobre perfil dos jovens deixa a dúvida sobre o futuro das instituições. A pesquisa parece conferir uma nova estrutura mental dos jovens até 25 anos, plenamente impactada pela lógica individualizante da internet. Melhor que individualizante... em rede, sem hierarquia.
Nas feiras do SEBRAE, a Google está oferecendo brindes para as crianças.
E agora está enviando emails sugerindo que que gestores e quadros de governo façam cursos para uso de suas ferramentas.
Já postei uma nota sobre o BING, que ajudará a articular escolhas do internauta (como escolher um roteiro de viagem, por exemplo).
Sem hierarquia ou definição de normas, o internauta jovem desconhece uma autoridade pública.
Richard Sennett chegou a definir esta construção mental da autoridade que ocorre quando uma criança brinca de teatro. Ao ficar triste com a morte do ator que representa um Rei, a criança entra neste mundo da representação, do sentimento transferido para uma representação, base da construção da autoridade, da síntese das relações e desejos que é a autoridade.
Mas o mundo da internet não é este.
A representação é tudo ou nada. Sou eu. Eu posso me esconder num personagem, sabendo que o outro também se esconde. Mas não há transferência alguma, nenhuma empatia de fato.
É um jogo definido por mim, exclusivamente.
Daí, como sociólogo, penso se há futuro para as instituições.
Seriam estruturas sociais pretéritas? Fadadas á fragmentação de redes? Ou estariam caminhando para uma mutação em alta velocidade, algo que nenhum clássico da sociologia ousou imaginar?
Uma instituição é guardiã da moral societária e deve estar colada nos valores e regras em uso, legitimadas socialmente.
Mas sem hierarquia e autoridade legitimadas, como se manteriam?
As redes (structural holes), com conexões múltiplas e variáveis, seriam a nova quase-estrutura que cimentaria as relações?
Neste caso, estaríamos caminhando para comunidades flutuantes, dinâmicas, sem ponto fixo?
O conceito de sociedade, como conhecemos no mundo moderno, cairia em desuso?
Este mundo dos internautas nativos (como alguns denominam os que nasceram na Era da Internet) é algo estranho para um sociólogo que nasceu nos anos 60.
Rudá Ricci é sociólogo, cientista político, doutor em Ciências Sociais, diretor geral do Instituto Cultiva.
Fonte: rudaricci.blogspot.com

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