As mulheres do Vale vêm conquistando direitos.
Elas têm sido felizes?
Alguns encontros têm sido realizados para debater os direitos a que as mulheres têm em uma sociedade machista como a do Vale do Jequitinhonha e do Mucuri. Há uma constatação geral que a política do coronelismo implantada aqui contribuiu muito para construir a idéia que só o homem tinha direito de viver com dignidade.
No miolo do Vale, no Médio Jequitinhonha, onde há a migração temporária de trabalhadores rurais para se empregarem no corte de cana e colheita do café, a situação é ainda mais dramática. A mulher vive o drama de depender do pai/provedor que vai buscar recursos para o sustento da família e a angústia de perder seu companheiro/marido. Seja por acidente de trabalho, doença ou mesmo para outra mulher.
Por outro lado, elas vivem situações de assumir tarefas de casa e da roça, dando-lhe mais poder e autonomia. Além disso, cumprem o papel de pai e mãe. Às vezes, por 15 anos seguidos.
Nas cidades e nos campos dá pra sentir que as mulheres estudam muito mais que os homens.
Elas já ocupam a maioria dos cargos públicos e de profissionais liberais como professoras, médicas, odontólogas, advogadas, psicólogas e diretoras de escolas. Como comerciantes, donas do seu próprio negócio, vêm ocupando seus espaços. A atividade artesanal é um campo majoritariamente das mulheres.
Esta independência econômica e financeira vem possibilitando às mulheres decidirem o seu próprio caminho, realizar muitos dos seus desejos e sonhos.
No relacionamento afetivo o homem tem dificuldade em fazer amizades com as mulheres. Na maioria dos municípios há uma desconfiança destes relacionamentos, com a suspeita que ali deve haver algum interesse de relações sexuais. Mulher casada amiga de homem, então, nem pensar. Deve estar chifrando o marido.
Vê-se o machismo imperando em todos os cantos e lugares.
Nos esportes, não se pensa em modalidades como vôlei e handbol onde elas possam se destacar. O domínio do futebol, masculino, é quase total.
Na política, poucas mulheres conseguiram se eleger a cargos públicos como prefeita, por seus próprios méritos, como Telma, em Minas Novas (2001-2004), Cacá , em Araçuaí (1997-2004), Nana, em Itaobim (1997-2000); em Rubelita, Dona Vina (1997-2.004) e Alípia(2005-2008). Agora, em 25 de julho, Irone Bento foi eleita, em Mata Verde, em eleições extemporâneas. Outras prefeitas como Vânia, em Coronel Murta (1997-2000) e Sônia, em Medina (1997-2000) se elegeram muito mais devido ao prestígio dos seus maridos, que não podiam concorrer.
Há uma ou nenhuma vereadora na maioria dos municípios da região.
A organização familiar e o controle da vida das mulheres ainda depende muito dos homens. E pior, de forma autoritária, como se isso fosse normal, natural. Muitos direitos da mulher ainda são desrespeitados. E a mulher, conformada, se cala. A sociedade machista, covardemente consente.
A mulher luta para ser feliz: como mulher, como mãe, como profissional e como cidadã. Não tem sido nada fácil. a maioria dos homens resistem a mudanças de comportamento. E o pior, muitas mulheres também.
É preciso que os homens sensíveis e mulheres ativas se dispam dos valores desumanos impostos durante muito tempo para conseguirem se realizar plenamente como homem e como mulher, e muito felizes.
“Como é miúda e quase sem brilho a vida do povo que mora no Vale”.
Que esta realidade cantada por Milton Nascimento possa se transformar. Depende de cada um/cada uma e de todos/todas nós.
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