sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Dicumê do Jequitinhonha vira livro de receitas

"Dicumê" do Jequitinhonha é registrado em livro de receitas Participantes do Ambiente Gastronômico do Vale, os "fazedores do dicumê"

As experiências de fazer comida gostosa de comunidades do Vale do Jequitinhonha foram contadas em verso e prosa pelo projeto Ambiente Gastronômico no Vale, uma iniciativa do Sebrae/MG, em parceria com o Programa Turismo Solidário, do sistema Sedvan/Idene.

Moradores das comunidades de Mendanha, distrito de Diamantina; Bonfim e Alecrim, distritos de São Gonçalo do Rio Preto; e Capivari, distrito do Serro, no Alto Jequitinhonha, todos contemplados pelo Turismo Solidário, foram convidados pelo Sebrae/MG para participar do projeto, que tem o intuito de trocar receitas da culinária local e compartilhar os saberes e fazeres da região. O resultado dessa iniciativa foi reunido em quatro livros que foram lançados, no mês de dezembro, em cada uma das localidades.


Todos os moradores de cada lugar já aprovam o "dicumê gostoso" das cozinheiras e biscoiteiras tradicionais.

A coordenadora do projeto, Maria Sônia Madureira Pinho, conta que a pesquisa, que teve início em agosto de 2008 e durou cinco meses, se deu de forma coletiva e organizada. Em cada um dos quatro distritos, o grupo gestor do Programa Turismo Solidário reuniu cerca de 20 pessoas, que passaram a relatar e registrar em cadernos as experiências gastronômicas da sua região norteadas por cinco eixos: Receitas Salgadas, Receitas Doces, Ambiente Gastronômico, Hábitos e Costumes e Manifestações Culturais.

“Esse foi um emocionante processo de resgate da memória gustativa, olfativa e, principalmente, afetiva dos lugares e das pessoas que nos acolheram e com quem convivemos estreitamente. Pura história de Minas Gerais transformada em quitandas, salgados, doces, garrafadas e infusões. Receitas de vida e de fé”, define Maria Sônia.

Cultura de gerações
Segundo Maria Sônia, o relacionamento entre as mulheres pesquisadas determinou a estratégia do trabalho. “A culinária mineira é marcada pela oralidade, com receitas transmitidas por gerações. E o caderno de receitas é percebido como um verdadeiro patrimônio familiar, sinônimo de vivências compartilhadas”, explica.

Com base nessa constatação, foi incorporado às pesquisas o conceito do caderno de receitas, que se tornou o elo entre as mulheres e as suas comunidades, entre pesquisador e pesquisados. A partir daí, a principal missão foi expandir o olhar das envolvidas de dentro de casa para fora dela, do familiar para o social.

Com essa visão inovadora, as mulheres tornaram-se as protagonistas do resgate da sua cultura, de suas tradições e dos seus rituais, escrevendo a própria história por meio das receitas de suas famílias e do seu território. “Na riqueza do convívio, em conversas e trocas, revelaram-se os hábitos do cultivar, do colher e das diferentes maneiras de criar e recriar o alimento. As experiências do campo trouxeram respostas inusitadas”, diz Maria Sônia.

Pode-se perceber que cada município tem uma forma particular de lidar com as receitas e ingredientes. Na observação dos usos e costumes, a revelação da expressiva mobilidade das ervas e “matos”. A horta que se apresenta como elementar no cotidiano, possui funções diferenciadas que se interconectam, dependendo da missão: podem servir para benzer ou para temperar.

Lançamento
O lançamento dos livros reuniu as mulheres, suas comunidades e suas manifestações culturais. Em Alecrim e Bonfim, foi feita uma reza e todos dançaram o forró. Em Mendanha, o lançamento das obras teve a participação das crianças da comunidade e muita poesia. Em Capivari, uma peça de teatro homenageou quatro gerações, com a participação de crianças de dois anos e mulheres de 80, cujo enredo narrava o conteúdo dos livros.

Para a coordenadora do projeto Ambiente Gastronômico, Maria Sônia, o que deve ser ressaltado é o fato de que os tradicionais cadernos de receitas se transformaram em livros, escritos a muitas mãos, com a generosidade e a sabedoria de muitas gerações, que agora podem disseminar o conhecimento.

Os livros serão distribuídos para os representantes locais do setor de turismo, escolas, institutos culturais e universidades da região e entorno.



Com informações da Agência Minas

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