segunda-feira, 3 de maio de 2010

Ser atleticano

Ser atleticano
Roberto Drumond
Se Houver uma camisa branca e preta pendurada no varal

durante uma tempestade, o atleticano torce contra o vento.

Ah, o que é ser atleticano?

É uma doença?

Doidivana paixão?

Uma religião pagã?

Benção dos céus?

É a sorte grande?

O primeiro e único mandamento do atleticano é ser fiel

e Amar o Galo sobre todas as coisas.

Daí que a bandeira atleticana cheira a tudo neste mundo.

Cheira ao suor da mulher amada.

Cheira a lágrimas.Cheira a grito de gol.

Cheira a dor.Cheira a festa e a alegria.

Cheira até mesmo a perfume francês.

Só não cheira a naftalina, pois nunca conhece o fundo do baú,

trêmula ao vento.

A gente muda de tudo na vida.

Muda de cidade.Muda de roupa.Muda de partido político.

Muda de religião.Muda de costume.

Até de amor a gente muda.

A gente só não muda de time,

quando ele é uma tatuagem com as iniciais C.A.M.,

do Clube Atlético Mineiro, Gravado no coração.

É um amor cego e tem a cegueira da paixão.

Já vi o atleticano agir diante do clube amado

com o desespero e a fúria dos apaixonados.

Já vi atleticano rasgar a carteira de sócio do clube e jurar:

—Nunca mais torço pelo Galo!

Já vi atleticano falar assim, mas, logo em seguida,

eu o vi catar os pedaços da carteira rasgada e colar,

como os Amantes fazem com o retrato da amada.

Que mistério tem o Atlético que às vezes parece que ele é gente?

Que a gente o associa às pessoas da família (pai, mãe, irmão, filho, tio, prima)?

Que a gente confunde com a alegria que vem da mulher amada?

Que mistério tem o Atlético que a gene confunde com uma religião?

Que a gente sente vontade de rezar "Ave Atlético, cheio de Graça?"

Que a gente o invoca como só invoca um santo de fé?

Que mistério tem o Atlético que, à simples presença de sua camisa branca e preta, um milagre se opera?

Que tudo se alegra à passagem de sua bandeira?

Que tudo se transfigura num mar branco e preto?


Esta é uma homenagem aos atleticanos que se sagraram campeões mineiros neste domingo, dia 02 de maio. Esta crônica só poderia ter sido escrita por um atleticano e um dos maiores cronistas que Minas e o Brasil conheceram. Roberto Drumond foi escritor, jornalista, cronista esportivo do Estado de Minas. Publicou Hilda Furacão, Sangue de Coca-cola, O dia em que morri em Cuba entre outros livros.

Como cruzeirense que sou ofereço este post aos meus amigos atleticanos de Berilo: Airton, Ioiô de Emilinha, Juraci, Toni Mentira, Zé Alcidino, Charlim, Paulinho Fósforo, Paulo de Pessoa: Gelson de Chapada do Norte; Sérgio de Belo Horizonte e muitos outros espalhados por Minas afora.

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