Ser atleticano
Roberto Drumond
Se Houver uma camisa branca e preta pendurada no varal
durante uma tempestade, o atleticano torce contra o vento.
Ah, o que é ser atleticano?
É uma doença?
Doidivana paixão?
Uma religião pagã?
Benção dos céus?
É a sorte grande?
O primeiro e único mandamento do atleticano é ser fiel
e Amar o Galo sobre todas as coisas.
Daí que a bandeira atleticana cheira a tudo neste mundo.
Cheira ao suor da mulher amada.
Cheira a lágrimas.Cheira a grito de gol.
Cheira a dor.Cheira a festa e a alegria.
Cheira até mesmo a perfume francês.
Só não cheira a naftalina, pois nunca conhece o fundo do baú,
trêmula ao vento.
A gente muda de tudo na vida.
Muda de cidade.Muda de roupa.Muda de partido político.
Muda de religião.Muda de costume.
Até de amor a gente muda.
A gente só não muda de time,
quando ele é uma tatuagem com as iniciais C.A.M.,
do Clube Atlético Mineiro, Gravado no coração.
É um amor cego e tem a cegueira da paixão.
Já vi o atleticano agir diante do clube amado
com o desespero e a fúria dos apaixonados.
Já vi atleticano rasgar a carteira de sócio do clube e jurar:
—Nunca mais torço pelo Galo!
Já vi atleticano falar assim, mas, logo em seguida,
eu o vi catar os pedaços da carteira rasgada e colar,
como os Amantes fazem com o retrato da amada.
Que mistério tem o Atlético que às vezes parece que ele é gente?
Que a gente o associa às pessoas da família (pai, mãe, irmão, filho, tio, prima)?
Que a gente confunde com a alegria que vem da mulher amada?
Que mistério tem o Atlético que a gene confunde com uma religião?
Que a gente sente vontade de rezar "Ave Atlético, cheio de Graça?"
Que a gente o invoca como só invoca um santo de fé?
Que mistério tem o Atlético que, à simples presença de sua camisa branca e preta, um milagre se opera?
Que tudo se alegra à passagem de sua bandeira?
Que tudo se transfigura num mar branco e preto?
Esta é uma homenagem aos atleticanos que se sagraram campeões mineiros neste domingo, dia 02 de maio. Esta crônica só poderia ter sido escrita por um atleticano e um dos maiores cronistas que Minas e o Brasil conheceram. Roberto Drumond foi escritor, jornalista, cronista esportivo do Estado de Minas. Publicou Hilda Furacão, Sangue de Coca-cola, O dia em que morri em Cuba entre outros livros.
Como cruzeirense que sou ofereço este post aos meus amigos atleticanos de Berilo: Airton, Ioiô de Emilinha, Juraci, Toni Mentira, Zé Alcidino, Charlim, Paulinho Fósforo, Paulo de Pessoa: Gelson de Chapada do Norte; Sérgio de Belo Horizonte e muitos outros espalhados por Minas afora.
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