Miguel do Rosário, via Tijolaço
Primeiro, aparece nos jornais e nas redes numa notícia que o ridiculariza da pior forma. Aliás, é bom deixar claro. Ainda não se sabe qual será o resultado final dos esforços de Aécio para censurar a internet.
São duas ações: uma para censurar mais de 20 mil links que mencionam um processo no qual o candidato é acusado de desviar verbas da saúde quando governador de Minas Gerais. O processo existe. Aécio foi investigado pelo Ministério Público, por ter deixado de aplicar R$4,3 bilhões em saúde. Aécio usou o dinheiro para outros fins, mas alegou que esses outros fins também tinham a ver com saúde. O caso agora está, aparentemente, fechado, depois que o promotor do estado deixou de dar continuidade às investigações.
O PSDB ainda aguarda análise do mérito do processo. Pode vir censura aí.
A outra ação diz que “integrantes do partido”, especialmente Aécio, são alvo de “quadrilhas virtuais” que atribuem a ele a condição de usuário de entorpecentes.
Não vou comentar a história de “quadrilha virtual”, que é o novo mantra da direita sem votos, ao constatar, apavorada, que as redes sociais, à diferença dos espectadores de tevê, tem opinião própria, voz alta e não perdoam ninguém. Tem muito mais gente batendo no PT do que em Aécio Neves. Os que batem no PT são “gente de bem”, e os que batem do PSDB são “quadrilha virtual que age de forma organizada”?
A ação ainda corre em segredo de justiça. Ou seja, pode vir bomba aí.
Se Lula ou o PT enveredassem por esse caminho, seriam imediatamente chamados de “chavistas” inimigos da liberdade da expressão. E a gente sabe que o que não falta é gente nas redes ofendendo Lula e o PT.
Como é o PSDB, então pode tudo.
A repercussão é péssima para Aécio Neves, porque isso agride frontalmente a liberdade de expressão. Aécio Neves é uma figura superpública. Todo o tipo de brincadeiras e, com perdão do termo chulo, sacanagens, são feitas usando seu nome. As redes se tornaram botequins gigantes, onde as pessoas falam qualquer besteira.
Se introduzirmos o vírus da judicialização nas redes, sobretudo com pessoas públicas, a Justiça brasileira ficará sobrecarregada, e o ambiente alegremente anárquico e profundamente democrático das redes sociais ficará manchado pela sombra do autoritarismo judiciário.
Pois bem, essa foi a primeira notícia negativa para Aécio Neves. Depois a sua campanha não entende porque o candidato, ao invés de estar subindo nas pesquisas, como seria de se esperar na proporção que mais pessoas descobrem que ele é o principal candidato de oposição, está caindo.
A segunda notícia ruim para Aécio é que o TSE mandou fechar uma página no Facebook que defendia sua candidatura à presidência.
Eu discordo da posição do TSE. Abrir páginas em favor de um candidato é uma iniciativa acessível e gratuita, que permite ao político e ao partido exporem suas ideias sem apelar para recursos nem de empresas, nem públicos. Militantes partidários fazem o serviço de graça.
Ou seja, é uma ação que liberta a política do poder econômico. O TSE age de maneira retrógrada ao exigir que essas páginas sejam tiradas do ar.
O TSE e o Congresso, que produz as leis, deveriam estimular mais atividades políticas, partidárias e eleitorais na internet, em função da acessibilidade e gratuidade dessa ferramenta. Não podemos esquecer que a propaganda eleitoral na tevê não é gratuita. Os canais de tevê recebem recursos na forma de isenção de impostos. Além disso, o formato tevê exige um padrão técnico de qualidade que força os candidatos a contratarem, a peso de ouro, equipes de produção audiovisual.
PS: Eu discordo da posição do TSE, mas entendo que se trata de legislação eleitoral, e que qualquer mudança tem de partir do Congresso Nacional. Por outro lado, como a internet é uma coisa muito nova, há lacunas e áreas cinzentas, sujeitas à interpretação do TSE. Defendo, contudo, que a interpretação se dê sempre no sentido de ampliar a liberdade política nas redes, e não o contrário.
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