terça-feira, 2 de outubro de 2012

"O socialismo falhou. Agora o capitalismo está falindo


Então, o que vem a seguir?"

Texto de Hobsbawm sobre a crise de 2009

Recebo um artigo de Hobsbawm publicado no The Guardian, de abril de 2009. O título já é uma delícia: "O socialismo falhou. Agora o capitalismo está falindo. Então, o que vem a seguir?"
Fiz uma tradução livre, destacando alguns excertos:

O socialismo faliu. 
Agora o capitalismo está falindo. 
Então, o que vem a seguir?

Eric Hobsbawm
The Guardian, sexta-feira 10 de abril de 2009

Nós ainda não aprendemos a viver no século 21, ou em pelo menos a pensar em uma forma que se ajuste a ela. (...) 
Pensávamos a partir de opostos excludentes: capitalismo ou socialismo. 
Na prática, vivemos a dicotomia entre sociedades centralmente planejadas pelo estado, com economias de tipo soviético, e sociedades totalmente sem restrições e economia de livre mercado capitalista descontrolada. 
O primeiro modelo quebrou na década de 1980. 
O segundo está quebrando diante de nossos olhos, a partir da maior crise do capitalismo global desde a década de 1930. 
De certa forma, é uma crise maior do que em 1930, porque a globalização da economia não estava então tanto avançada como é hoje, e que a crise não afetou a economia planificada da União Soviética. (...) Ninguém pensa seriamente em voltar para os sistemas socialistas de tipo soviético – não apenas por causa das suas falhas políticas, mas também em função da ineficiência de suas economias - embora isso não deva nos levar a subestimar suas impressionantes conquistas sociais e educacionais. 
Por outro lado, até que a crise global do livre mercado tivesse implodido no ano passado, mesmo os social-democratas ou outros partidos de esquerda moderados haviam se comprometido mais e mais para o sucesso do capitalismo de livre mercado. (...) 
As políticas de Tony Blair (até outubro de 2008) e  Gordon Brown poderiam ser descritas como elaboradas por uma Thatcher de calças. O mesmo é verdadeiro para os Democratas dos EUA. (...) 
Desde 1970, a globalização minou a base tradicional do Partido Trabalhista. (...) Sob o impacto da política econômica thatcherista, desde 1997 os trabalhistas engoliram a ideologia, ou melhor, a teologia, do fundamentalismo de livre mercado mundial. (...) 

Você pode dizer que está tudo acabado agora. 
Nós estamos livres para voltar à economia mista. A velha caixa de ferramentas do Partido Trabalhista está disponível de novo – tudo, até a nacionalização - então vamos usar as ferramentas, mais uma vez, que nunca deveriam ter guardado. Mas isso sugere que nós sabemos o que fazer com elas. 
Mas, não sabemos como superar a crise atual. Nenhum dos governos do mundo, os bancos centrais ou instituições financeiras internacionais sabem. 
Mas uma política progressista precisa mais do que apenas uma ruptura pelo desenvolvimento econômico e pelos pressupostos morais dos últimos 30 anos. 
É preciso convicção de que o crescimento econômico é um meio e não um fim. 
O fim é o que faz a vida, as oportunidades de vida e esperanças das pessoas. 
Olhe para Londres. Como a riqueza gerada em manchas da capital afeta a vida de milhões de pessoas que vivem e trabalham lá? Será que eles podem se dar ao luxo de viver lá? Eles podem ser decentemente remunerados ou há empregos para todos? Se não podem, não podemos nos gabar das estrelas Michelin ganhas pelos nossos restaurantes e os seus chefs selfdramatising
Ou, ainda: há escola para os filhos? Porque escolas inadequadas não são compensadas ​​pelo fato de que as universidades de Londres podem montar uma equipe de futebol de ganhadores do prêmio Nobel. A prova de uma política progressista não é privada, mas pública, não só de renda crescente e consumo para indivíduos, mas que amplie as oportunidades daquilo que Amartya Sen chama de "capacidades" de todos por meio da ação coletiva. (...) 
Essa é a base da política progressista, não maximizar o crescimento econômico e rendimentos pessoais. Seja qual for o logotipo ideológico que se escolha, isso vai significar uma grande mudança. E, tendo em conta a agudeza da crise econômica, provavelmente uma mudança bastante rápida. 
Porque o tempo não está do nosso lado.

Tradução do cientista político Rudá Ricci, publicado no seu Blog

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