Escritor, tradutor, cartunista, entre outros, Millôr Fernandes, retratado em sua casa, no Rio (Foto: ©Ricardo Morais/Folhapress)
Morreu o carioca do Méier Millôr Fernandes, aos 88 anos, um desses artistas criativos que atuavam em várias frentes, com o mesmo talento, cada vez mais raros no mundo moderno. Ele era desenhista, escritor, dramaturgo, jornalista, roteirista de cinema e tradutor. Entre seus trabalhos mais importantes, está a fundação do jornalO Pasquim, em 1968, que se tornou um marco por representar uma frente na luta contra o regime militar e também por apresentar um novo modo de se fazer jornalismo, inovando principalmente nas entrevistas.
“Quem é que eu sou? Ah, que posso dizer? Como me espanta! Já não se fazem Millôres como antigamente! Nasci pequeno e cresci aos poucos. Primeiro me fizeram os meios e, depois, as pontas. Só muito mais tarde cheguei aos extremos. Cabeça, tronco e membros, eis tudo. E não me revolto. Fiz três revoluções, todas perdidas. A primeira contra Deus, e Ele me venceu com um sórdido milagre. A segunda contra o destino, e ele me bateu, deixando-me só com seu pior enredo. A terceira contra mim mesmo, e a mim me consumi, e vim parar aqui”. Assim o escritor e jornalista se autodefiniu no texto “Autobiografia de Mim Mesmo à Maneira de Mim Próprio”, presente no livro “Contos Fabulosos”, lançado pela editora Desiderata, em 2007.
Millôr Fernandes começou como repaginador e contínuo no semanário “O Cruzeiro”, em 1938. Rapidamente, assumiu a direção da revista “A Cigarra”, assinando a seção “Poste Escrito”, com o codinome Vão Gogo, o qual, em seguida, utilizou na coluna “Pif-Paf”, da mesma “O Cruzeiro”, durante 18 anos. Fez tanto sucesso que, em 1957, ganhou uma exposição individual de seus trabalhos no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro.
Tradutor de clássicos de autores como Sófocles, Shakespeare, Molière, Brecht e Tennessee Williams, Millôr Fernandes também não se esquivava das polêmicas. Em 1963, foi afastado da revista O Cruzeiro em função da criação “A Verdadeira História do Paraíso”, que foi considerado ofensivo pela Igreja Católica. Já em 2009, se desentendeu a respeito da digitalização de seus artigos, que haviam sido publicados sem autorização no acervo on-line da revista “Veja”, da qual foi um dos primeiros profissionais, em 1969, numa época em que a revista inovou no jornalismo brasileiro.
O humorista morreu na casa onde morava em Ipanema, na zona sul do Rio de Janeiro, em função de falência múltipla dos órgãos, segundo o filho Ivan Fernandes. No ano passado, ele foi internado duas vezes, mas, na época, não foram divulgadas informações sobre o motivo da internação, atendendo a um pedido da família. Millôr Fernandes deixa dois filhos, Ivan e Paula, e o neto Gabriel. “Em suma: um humorista nato. Muita gente, eu sei, preferiria que eu fosse um humorista morto, mas isso virá a seu tempo. Não perdem por esperar”, garantiu na mesma autobiografia.
guibryan1@redebrasilatual.com.br
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Além de suas charges e
reportagens, o escritor, jornalista, humorista e cartunista Millôr Fernandes
deve ainda ser lembrado por outra função: a de fraseador. Em entrevista
ao jornalista Sérgio Rodrigues, em 2009, Millôr
disse que acreditava que as frases que criou deveriam persistir depois sua
morte.
Confira
algumas frases ditas por ele de 1968, ano em que começou a trabalhar na revista
VEJA, até a década passada.
Viver é desenhar sem borracha.
Democracia é quando eu mando em você, ditadura é
quando você manda em mim.
Não devemos resistir às tentações: elas podem não
voltar.
Chato...Indivíduo que tem mais interesse em nós
do que nós temos nele.
Certas coisas só são amargas se a gente as engole.
Esta é a verdade: a vida começa quando a gente
compreende que ela não dura muito.
O dinheiro não dá felicidade. Mas paga tudo o que
ela gasta.
Jamais diga uma mentira que não possa provar.
Quando todo mundo quer saber é porque ninguém tem
nada com isso.
De todas as taras sexuais, não existe nenhuma
mais estranha do que a abstinência.
Anatomia é uma coisa que os homens também têm,
mas que, nas mulheres, fica muito melhor.
Se todos os homens recebessem exatamente o que
merecem, ia sobrar muito dinheiro no mundo
Se você agir sempre com dignidade, pode não
melhorar o mundo, mas uma coisa é certa: haverá na Terra um canalha a menos.
Como são admiráveis as pessoas que nós não conhecemos bem.
Além de ir pro inferno
só tenho medo de uma coisa: juros.
Desconfio sempre de todo
idealista que lucra com seu ideal"
“Quem mata o tempo não é um assassino: é um suicida”
“O homem é o único animal que ri. E é rindo que
ele mostra o animal que é”
"A única vantagem de
você ser bem velho é que ninguém vem te chatear com seguros de vida"
"No início do século
passdo artistas criaram a arte não-figurativa. Estamos bem perto de criar a
natureza desfigurada"
"O Brasil é realmente
muito amplo e luxuoso. O serviço é que é péssimo."
"Erudito é um sujeito
que tem mais cultura do que cabe nele"
“O que o dinheiro faz por nós não é nada em
comparação com o que nós fazemos por ele”
“Apesar da escola, sou, basicamente, um
autodidata. Tudo que não sei sempre ignorei sozinho”
Se é gostoso faz logo, amanhã pode ser ilegal.
Pontual é alguém que resolveu esperar muito.
Quando um chato diz: "Eu vou embora", que presença
de espírito.
Passado: É o futuro, usado.
"na poça da rua
o vira-lata
lambe a lua"
o vira-lata
lambe a lua"
"na imensa descida
a catarata
se suicida"
a catarata
se suicida"
"Esnobar
É exigir café fervendo
E deixar esfriar".
É exigir café fervendo
E deixar esfriar".
"A diferença entre a galinha e o político é que o
político cacareja e não bota o ovo."
Pegamos o telefone que o menino fez com duas caixas de
papelão e pedimos uma ligação com a infância
A gente só morre uma vez. Mas é para sempre.
que a lousa
da sepultura?"
da sepultura?"
Frase retiradas do pensador.uol.com.br/frases_de_millor
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