Em pleno período eleitoral e sob risco de perder votos, vereadores de 662 cidades têm só mais 30 dias para aprovar leis que aumentam seus salários
Isabella Souto - Estado de Minas
Vereadores de 662 cidades de Minas Gerais terão de correr contra o tempo – e enfrentar o risco de perder votos – se quiserem reajustar o salário para o mandato que se inicia em 1º de janeiro. Levantamento realizado pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE) mostra que dos 853 municípios mineiros, apenas 191 informaram ao órgão a aprovação de leis, resoluções ou decretos-legislativos tratando do reajuste nos contracheques. E o prazo final para garantir mais dinheiro no bolso está chegando: 7 de outubro, dia do primeiro turno das eleições.
Conforme mostrou na edição de ontem o Estado de Minas, na quinta-feira o TCE encaminhou um ofício a todos os presidentes de câmaras municipais comunicando a elaboração de um documento com 14 regras para a fixação dos vencimentos, entre elas a obrigatoriedade da aprovação da legislação antes do dia das eleições. A medida foi adotada para tentar acabar com uma prática antiga nas câmaras: encerradas as votações, vereadores, muitos deles reeleitos, colocavam em pauta projetos de reajustes para valer no ano seguinte, beneficiando a si mesmos. Agora, se quiserem aumentar o salário terão de fazê-lo durante o período eleitoral e assumir o ônus político de tal decisão.
Além dessa regra, o documento do TCE prevê o estabelecimento de um valor fixo para o aumento, envio da norma ao tribunal em até 30 dias após a sua aprovação, limite de gasto de 5% do orçamento com a folha de pessoa e proibição de pagamento da chamada verba do paletó, o 14º e 15º salários.
O documento tem o objetivo de prevenir erros nas legislações. E, mesmo entre as 191 câmaras que cumpriram a regra de aprovar a lei antes das eleições, várias delas cometeram outras irregularidades, como não respeitar o teto constitucional – os valores variam de 20% a 75% do que é pago na Assembleia Legislativa, de acordo com a população – ou diferenciar o salário dos vereadores, estabelecendo um valor superior para aqueles que integram a direção da Casa.
De acordo com Micheli Ribeiro Massi Dorella, diretora em exercício da Diretoria de Controle Externo dos Municípios do TCE, nenhuma câmara poderá alegar que não teve tempo hábil para aprovar a lei porque o comunicado foi enviado um mês antes do prazo. “Em consultas anteriores o tribunal já havia definido a necessidade de respeitar a anterioridade das eleições. Está tudo publicado no site para quem quiser consultar”, argumentou.
Embora o TCE não tenha o poder de legislar, ela lembra que as determinações apresentadas pelo órgão em discussão de consultas encaminhadas ao órgão têm caráter normativo, e por isso devem ser respeitadas pelos gestores públicos. Dessa forma, o descumprimento de qualquer orientação pode gerar o pagamento de multa, encaminhamento do caso ao Ministério Público – resultando em ação judicial – e ainda ter a legislação suspensa.
VOZ DO POVO
Entre os vereadores que já garantiram o reajuste para o ano que vem estão os 19 de Juiz de Fora, na Zona da Mata. Em dezembro de 2011 eles aprovaram um vencimento de R$ 15.031,76, 46,5% a mais que os atuais R$ 10.260. Em Montes Claros, no Norte mineiro, a maioria dos 15 parlamentares garantiu aumento de 46%, reajustando os contracheques de R$ 9.608 para R$ 14.029. De quebra, ainda criaram oito cadeiras. A partir do ano que vem, serão 23 vereadores.
A mudança foi permitida pela emenda constitucional aprovada no Congresso Nacional que trouxe novos critérios para a composição das câmaras. Detalhe: uma pesquisa realizada na cidade apontou que 90% dos entrevistados foram contra as mudanças.
Em Divinópolis, Centro-Oeste de Minas, a “voz do povo” foi ouvida. Depois de iniciar a tramitação de um projeto passando o salário de R$ 6.192 para R$ 9.678, os vereadores decidiram, em maio, manter o valor para 2013. A decisão foi tomada depois de uma intensa mobilização popular.
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