sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Ouro e mercúrio: uma mistura perigosa

Ouro e mercúrio: uma mistura perigosa Mortandade de peixe e outros danos ambientais devido ao uso de mercúrio na exploração do ouro, no rio Madeira, na Amazônia
Na natureza dificilmente encontramos uma substância isolada; quase todas estão misturadas umas com as outras. Para obter uma substância isolada, pura, é necessário usar processos especiais para separá-la. Alguns processos são muito simples, como o que usamos para coar café, filtrar a água e outros. Em muitos casos, como na separação de minerais de seus respectivos minérios, é necessário utilizar processos de separação muito complicados.

No caso do ouro de aluvião, aquele que se encontra no sedimento dos rios, a retirada do metal requer técnicas manuais (como a bateia) e a separação de outras substâncias como fragmentos de areia e rochas por meio de uma amalgamação com mercúrio metálico. Nessa técnica o mercúrio se une ao ouro formando um amálgama (união do mercúrio com o ouro) que é muito denso e fica depositado no fundo da bateia, enquanto outros sedimentos são levados pelo rio.


Há décadas, o mercúrio (Hg) é usado para a purificação do ouro (Au). Além de ser o único metal líquido na temperatura ambiente o mercúrio consegue se unir facilmente com o metal precioso.

Os garimpeiros jogam o mercúrio junto do aurífero originando a formação do amálgama. Depois esse amálgama é aquecido em altas temperaturas; o mercúrio que tem ponto de ebulição mais baixo se volatiliza (vaporiza); concomitantemente, ocorre a fusão entre as partículas do ouro, no fundo do recipiente. O excesso de mercúrio usado no processo de amalgamação é lançado diretamente no rio.


Essa técnica vem, ao longo dos anos, causando danos ao meio ambiente e às populações que vivem nas regiões de garimpos que a praticam. Isso acontece porque o mercúrio utilizado na amalgamação do ouro é transferido para atmosfera na forma de vapor e para as águas dos rios, na forma de mercúrio metálico (Hg0), dimetilmercúrio (CH3) 2Hg ou de metilmercúrio (CH3Hg+), que é a forma mais tóxica.


O mercúrio metálico e o dimetilmercúrio também podem ser transformados em metilmercúrio pela ação das bactérias que vivem nos sedimentos dos rios. Essas substâncias entram na cadeia alimentar da população da região através da ingestão do mercúrio pelos peixes e posteriormente da ingestão dos peixes pela população, além da utilização da água do rio para uso doméstico. A água também é utilizada na agricultura local, expondo o solo e conseqüentemente os alimentos agrícolas à contaminação pelo mercúrio.


Alguns insetos metabolizam o mercúrio metálico em dimetilmercúrio que é altamente tóxico para os seres vivos.Como esses insetos fazem parte da cadeia alimentar, o mercúrio orgânico acaba por ser ingerido pelo ser humano. O mercúrio vaporizado, ao ser inalado também é altamente tóxico.


Sendo assim, tanto o mercúrio metálico perdido durante o processo de amalgamação, como o mercúrio vaporizado durante a queima da amálgama para a separação do ouro, são altamente prejudiciais à vida. As maiores sequelas pela intoxicação por mercúrio se dão no sistema nervoso, podendo levar à perda da coordenação motora; se ingerido ou inalado por grávidas, haverá a possibilidade de geração de fetos deformados, sem cérebros, por exemplo.
Selma Gonzaga Silva - Universidade Fderal de Uberlândia

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