quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Araçuaí, Ourosoaí, Araras Grandes: terra acolhedora de gente

Araçuaí, Ourossoaí, Araras Grandes, Velho Caiau: terra acolhedora de gente
Araçuaí faz 140 anos. A terra da fazendeira mulata Luciana Teixeira que protegeu mulheres, enfrentou a ira do padre José Freire Moura, de família tradicional. Acolheu as mulheres expulsas da Barra do Pontal, onde o rio Araçuaí despeja no rio Jequitinhonha. No encontro do rio Araçuaí com o córrego Calhau fundou o arraial.

Araçuaí, terra de canoeiros e tropeiros que foram atrás de Luciana e outras mulheres, paravam ali junto delas, ficavam, faziam morada, procurando colo. Luciana distribuía lotes e dotes, fazendo um comércio. A cidade foi nascendo, crescendo.

Araçuaí, terra de coronéis. Coronel de terras e fazendas, de mandos e desmandos na política e economia, de famílias tradicionais, que levaram o “veio Caiau” a andar pra trás, a ser chamada da “terra do já teve”. Já teve linha aérea, já teve indústria de algodão, já teve Receita Federal, já teve campus avançado da PUC-MG, já teve o carnaval mais animado do Vale do Jequitinhonha.

Terra da outra ponta da Estrada de Ferro Bahia-Minas, “que ligava Minas ao porto ao mar”, cantada por Milton Nascimento e Elis Regina, na música Ponta de Areia.

Araçuaí, a terra que muito tem. Tem resistência, pertinência, querência, criatividade, liberdade, amizade. É a terra das danças, cantos e encantos; terra dos Corais que cantam dores e amores, recheado de mulheres, sempre as mulheres na vida de Araçuaí; do Trovadores do Vale, dos grupos de Teatro, do Luz da Lua, dos Ícaros do Vale, dos músicos e seresteiros, das artesãs Lira e Zefa; de jornalistas e poetas como Sérgio Vasconcelos e Cyntia Colares; dos Meninos de Araçuaí que encantam Milton Nascimento, soltando seus “mil tons” em Brasília, Rio de Janeiro, na Europa ou no Criança Esperança. Araçuaí, a cidade criança, cidade esperança. Da Cooperativa Dedo de gente, das brincadeiras de rua.

Araçuaí, do futebol-arte do maior jogador de futebol do Vale, o Lalado, que fazia a bola ficar mais redonda, em época que era maltratada por pernas de pau que chutavam de bicudo; de grandesjogadores como Luiz Poté, de Juquinha.

Araçuaí, sempre das mulheres. De Sá Luiza que curava e receitava tudo,de uma sabedoria que trazia confiança a médicos. Curandeira. Araçuaí de Maria Cheirosa.

Araçuaí, Terra de Maria do Carmo Ferreira da Silva, a Cacá. Mulher, pobre, negra e trabalhadora social. Governou a cidade por 8 anos, derrubando velhos coronéis e a elite preconceituosa da cidade.

Terra querida e acolhedora de forasteiros, honrando o legado de Luciana Teixeira. Que acolhe estrangeiros como o italiano Dom Enzo Rinaldini, Bispo diocesano; o holandês Frei Chico, trovador que pesquisou e divulgou a rica cultura popular católica; o alemão Hainer, agrônomo; o cubano Jorge, saxofonista de dias e noites; do peruano, Juan, geólogo; da chilena Marta Fuenzalida, do Hospital; dos paulistas Maria Helena e João Pizinni; dos turcos Tanure; dos comerciantes Brás e Dona Lilia, de Virgem da Lapa; Zé de Juca, do Supermercado Sévia, de Jenipapo de Minas.

Terra que gosta de gente nativa, mas venera gente de outras terras. Elegeu seu prefeito, em 1982, o médico Artur Berganholi, de Teófilo Otoni; o comerciante Zico, em 1988, de Leme do Prado; em 1992, o médico Manoel Messias, de Montes Claros; em 1996 e 2000, a Assistente Social Cacá, de Belo Horizonte; e atualmente, o médico Aécio Jardim, de Virgem da Lapa.

Araçuaí, terra de pedras preciosas, de rubelitas, turmalinas, águas-marinhas. Da única reserva de Lítio da América Latina.

Araçuaí, da melhor e maior feira do norte e nordeste de Minas Gerais. O povo do lugar marca encontro no Mercado Municipal, aos sábados. É uma variedade de produtos, conversas, olhares, encontros. Momento de compra e venda de produtos de agricultores familiares. É o momento da alegria, de curtir o cigarrinho de fumo de rolo, de comer requeijão quente, de experimentar uma variedade de frutas, de tomar uma cachacinha do lugar, seja Dama de Ouro ou Cachaça do Vale, com tira-gosto de carne de sol. Ou comer uma porção de farofa de andu com torresmo, comido “de capitão”. Ô dicmuê gostoso!

Araçuaí, terra dos tropeiros, dos canoeiros, dos garimpeiros. Terra do tradicional Colégio Nazareth, quase centenário, onde estudaram quase todas as professoras do Vale no século XX. Cidade do Instituto Federal de Educação Tecnológica que formou sua primeira turma de administração, enfermagem, informática e agroecologia.

Araçuaí que criou paixão no Presidente Lula, que já a visitou 7 vezes.

Terra de personagens populares como Balim e Bigudo, admirados como reis do pedaço. Bigudo, baixinho, barrigudo, portador de sofrimento mental, costumeiro visitador diário da Rodoviária, onde tirava a roupa toda, ficando totalmente pelado. As pessoas das cidades vizinhas se horrorizavam. Os caiuazeiros, como os nativos de Araçuaí gostam de ser chamados, vibravam e sorriam como a exibir sua irreverência e veia libertária, sempre contestando os costumes. Vestiam calmamente Bigudo. Ao morrer, este personagem popular teve 3 dias de luto oficial, com decreto municipal. Todo o comércio cerrou suas portas como homenagem a um homem do povo.

Salve Araçuaí! Salve o veio K-iau!

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