domingo, 6 de março de 2011

Careta

Careta
Carlos Mota
Máscara. Fiúra. Feiúra.
Mércio era um dos poucos que não precisava se fantasiar no carnaval. Sua cara era a careta que mais sucesso fazia.
Meu irmão Geraldo Mota Coelho (Lalau) é uma figura.Talentoso escritor, desde criança, sempre foi um animado folião de carnavais.
Sua fantasia predileta era a de Cardeal, com a qual ele passava os três dias de carnaval.
Já meu amigo Sidnei Silva, mais conhecido como Gão de Doutor Vicente, gostava mesmo é promover um falso enterro, cujo vigário era justamente Lalau.
Sábado de carnaval, Lalau todo paramentado, deu o dinheiro a Gão para que ele comprasse o caixão de defunto. Gão desceu rumo ao centro da cidade e Lalau ficou no Bar do Tião Labatu, aguardando a chegada de Gão, dos demais foliões e do caixão.
Tomando suas pingas e cerveja, a cada instante ele punha a cabeça para fora, ansioso pela chegada deles e nada.
Lalau já estava bem alto, quando viu subir a rua um enterro de verdade. Quando o enterro passava em frente ao boteco, ele pensando que Gão ia ali dentro, deu um arranco, pulou no meio da rua, vestido daquela batina, deu um tapa na tampa do caixão e gritou:
- Sai aí de dentro, seu filé da puta!
Os parentes e amigos do morto só não o lincharam porque conheciam a sua generosidade para com os pobres de Minas Novas, com os quais ele praticamente dividia o que recebia como funcionário do Banco do Brasil.
A gente morre é para provar que viveu.
Do discurso de posse de Guimarães Rosa na Academia Brasileira de Letras, três dias antes de sua morte verdadeiramente morrida.

Este texto faz parte do livro Fanadês, Jequitinhonhês, Mineirês.
Carlos Mota é natural de Minas Novas, vive em Brasília. É Procurador Federal, servidor do INSS. Foi deputado federal (PSB, 203-2007).

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