sábado, 18 de julho de 2009

Por que Salinas tem cachaça da boa?
Algumas explicações para as melhores cachaças artesanais do mundo
Os especialistas dizem que pelo sabor se escolhe uma boa pinga. Mas reforçam que a origem da bebida também conta. Da cidade de Salinas, no Vale do Jequitinhonha, no norte de Minas Gerais, vêm as cachaças artesanais mais vendidas e mais caras do país, segundo distribuidores do próprio estado e do Rio de Janeiro.

Famoso no sertão mineiro, o produto atrai todos os anos distribuidores de vários estados para o Festival Mundial da Cachaça, com a oitava edição marcada para este final de semana. O sucesso da feira aumenta a cada ano e é atribuído à qualidade das pingas salinenses. Este ano, o evento deve movimentar até R$ 3 milhões.
Muitos atribuem o sabor da pinga de Salinas ao solo fértil (que não precisaria de adubo), à fermentação e ao processo de envelhecimento. De acordo com a Associação de Produtores de Cachaça de Salinas (Apacs), vários fatores fazem da cidade líder no segmento.“Pesquisas mostram que algumas leveduras [fungos responsáveis pela fermentação] diferenciam nosso produto. Também tem a questão do Sol, devido à altitude das nossas terras, onde estão os canaviais, e até mesmo a composição do solo”, avalia o presidente da Apacs, Nivaldo Gonçalves.
Havana vale R$ 700

Dono de umas das marcas mais tradicionais da região, a Havana, Oswaldo Santiago diz que o produto não tem segredo. Desde a década de 40 a cachaça é produzida com as mesmas técnicas e é uma das mais caras do Brasil (custa entre R$ 300 e R$ 700). Para Santiago, o mistério está mesmo na terra.“O nosso segredo é asseio, asseio, asseio. Cuidado com os depósitos, com o canavial, com o envasamento e o armazenamento, de mais de dez anos. Mas a qualidade do solo influi, da cana influi. Na verdade, tudo aqui influi”, disse o proprietário da Havana, declarada patrimônio imaterial de Salinas em 2006.
Representante de um dos maiores fabricantes individuais de pinga artesanal do país, Renata Rodrigues, da Seleta, confirma que a qualidade da bebida salinense está ligada ao cuidado com a produção e às condições do clima e do solo. A Seleta custa entre R$ 10 e R$ 30 e está entre as pingas mais vendidas.“Acho que [o segredo] está na localização geográfica. Existe até um estudo sobre isso. Querem ver, por exemplo, por que no norte a cachaça sai de um jeito e, no sul, num raio de 40 quilômetros de diferença, a cachaça sai de outro”, comentou Renata.

Para pesquisar o assunto, a cidade criou o primeiro curso de nível superior em tecnologia da cachaça, oferecido temporariamente pelo Instituto Federal de Educação Tecnológica (Ifet). A primeira turma se forma no final de 2009.
Para divulgar informações sobre a origem da bebida, que se confunde com a própria história do município, está sendo construído o Museu da Cachaça, uma iniciativa da prefeitura em parceria com o governo estadual. O prédio e o acervo devem ser entregues em 2010.

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