sexta-feira, 22 de julho de 2011

Diamantina dois tempos

Diamantina dois tempos
Júnia Mortimer
I. A cidade da solidão, do desespero e do esquecimento
Diamantina, Julho de 2005

Diamantina já tem olhos demais para nos iludirmos com a originalidade de nossas visadas! Acreditamos que esses olhares, mais que cenário, compõem uma tragédia maior: eles observam nosso passado, nossas certezas, nossos feitos e palavras, nossas esperanças visionárias, mas não passivamente.
Inquirimo-nos sobre passado, certezas e esperanças nossas, que os olhos das cidades observaram, colocando-nos em perspectiva com o mundo, em relação com o outro. Analisamo-nos? Talvez além, ou aquém: avaliamo-nos. Não sozinhos, mas sempre em relação a: perspectivados, comparados. Por isso, não termos dito que o dentro para o qual essa cidade nos lança ser a pura subjetivação.
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Sertão perscrutando a cidade, existindo nela e fazendo-se condição de sua singularidade. Os vazios de Diamantina são as esquinas em que esse movimento de subjetivação encontra a realidade. Realidade conduzindo ao imaginário, imaginário conduzindo à realidade… sobretudo, realidade e imaginário dividindo princípios comuns; crenças, mitos e verdades comuns. Como cantado na esquina da utopia inventiva do Clube da Esquina com as ruelas do beco do Mota. São as esquinas da solidão.
Leia o texto na íntegra aqui:
coletivopegada.diamantina-dois-tempos

II Caixinha de música - Diamantina, Julho de 2011
Não que hoje eu discorde da solidão, do desespero e do esquecimento, conceitos que trabalhei no texto de seis anos atrás, mas agora Diamantina me é outra.

Ela se apresenta a mim, porque assim eu me apresento a ela, um pouco menos melancólica e um tanto mais despretensiosa. Talvez tanto mais suave e alegre, quanto menos eu carregue meu olhar, aqui viajante e estrangeiro, de um fino pessimismo com relação ao futuro, sobretudo ao futuro das cidades.
E não há planos mirabolantes nem mega-projetos por trás desse desvelar os olhos da muita melancolia. Apenas a militância pela educação e pela cultura é que me tem descoberto esses mesmos olhos da turva membrana do pessimismo, mas não para cobri-los com outra membrana, igualmente turva, que seria aquela da esperança. De olhos nus apenas, tenho me lançado em ações cotidianas de construção, seja na sala de aula, seja nas experimentações radiofônicas, fotográficas e literárias dos últimos tempos: construção de mim e do outro, construção de um espaço para o diálogo, construção da cidade.

É nessa mesma direção que Diamantina tem sido uma caixinha com a qual Bruno e eu temos brincado bastante. Não caixa de Pandora, guardando os grandes males da humanidade, mas uma simples caixinha de música, cuja melodia se altera a cada novo rodar das cordas, com boas e simples surpresas: encontros, desencontros, reencontros.

Nossa oficina, intitulada “Diamantina Imaginária”, tem se beneficiado da participação excelente dos inscritos – Renata Allessandra, Roberto Uber, Pollyanna Ramalho, Stefânia Batista, Maria Regina Ramos, Mariana Silva, Tales Arthur, Márcia Nascimento, Ariadna Santos – e está abrigada dentro da área de “Artes Literárias”, sob coordenação da muito querida Lucia Castello Branco.
É junto desses participantes que temos reconstruído o antigo Arraial do Tejuco a partir de um cruzamento de mitos e imagens, de histórias e lendas, de arquitetura e construção. Com as pedras fornecidas pelo material histórico e pela herança arquitetônica, é a muita argamassa onírica das entrevistas – como aquela com Vó Dina, a mais antiga das comerciantes do mercado l – que tem permitido reiluminar Diamantina, reapresentá-la a nós mesmos.

Pretendemos, por meio desse processo, também reapresentar essa cidade para seus próprios cidadãos e para os ouvintes da rádio educativa UFMG (104,5), que poderão desfrutar do percurso dimantinense que temos construído durante a oficina no programa “Um lugar ao som”, edição especial “Diamantina Imaginária”.
O programa irá ao ar em breve, e por aqui darei mais notícias dele. Por enquanto, continuamos por cá, essa equipe de estrangeiros que ora se perde, ora se encontra, e que acaba as noites neste beco que é Diamantina, que é Minas, que é Brasil:
Beco do Mota, “Viva meu país!”

Publicado no http://coletivopegada.org/ , registrado pelo atento Fernando Gripp, do Passadiço Virtual.
Júnia Mortimer é arquitea e urbanista.

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