Carminha Pimenta
Há muitos anos, em uma noite, quando a lua iluminava as ruas desertas de Capelinha, uma viúva andava com suas três filhas adolescentes, voltando de uma visita a um doente. Ia em direção à sua casa que ficava na rua Dr Juscelino Barbosa, defronte onde é hoje o Salão Paroquial.
Quase meia noite!
Andavam apressadas, pois já era muito tarde. O ar penetrante e frio e a noite silenciosa. Corujas piavam de longe, lá pelas bandas da Várzea. As mulheres iam bem juntas e, no meio da noite, ouvia-se o toc...toc...toc...dos seus sapatos de encontro às pedras do caminho.
Aproximavam-se da casa onde moravam. Passavam agora diante de um rua bem estreita e sombrada pelas árvores que se balançavam ao sopro gelado do vento. Ao lado, ficava uma casa antiga, hoje construída, vem no encontro da rua Capitão Clementino com a rua Dr Juscelino Barbosa.
Noite alta!
De repente: chep...chep...chep...
Que barulho seria aquele? Nossa! Junto à casa antiga estava o vulto de uma mulher enorme, de aproximadamente três metros de altura, saia até os pés, lenço branco na cabeça, braços cruzados sobre o peito. Andava vagarosamente. Tomou a direção do beco e agora passava pelas árvores. As mulheres, pasmadas de medo, perderam a voz.
O mundo, por alguns breves minutos, transformou-se. Agarravam-se umas às outras e, com espanto, trêmulas, mostravam para o vulto, que desaparecia na imensidão da noite.
Quem seria e de onde teria saído aquela mulher gigante, que vagava noite adentro e enchera de terror viúva e filhas?
PS.: A viúva era dona Agripina Lopes, minha avó, e as companheiras, suas filhas Lisbela, Maria Flor de Maio e Lourdes, minha mãe.
Carminha Pimenta é professora em Capelinha, Alto Jequitinhonha, no nordeste de Minas.
Publicado no jornal Acontece, de Capelinha, edição nº 08, de 13 a 28 de abril de 2012.
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