quinta-feira, 18 de junho de 2009

O Rio não está para peixe
Pescadores do Jequitinhonha reclamam da diminuição da atividade pesqueira após a construção de barragens
Se o Rio Jequitinhonha fosse mar, seria possível dizer que ele não está para peixe. "A rotina de trabalho ta péssima, ruim, mas ruim mesmo. Pescador aqui que antes ganhava 800 reais, hoje, se não trabalhar muito não ganha 200 reais por mês", diz o pescador e um dos fundadores da colônia de Pescadores do Vale do Jequitinhonha z-13 senhor Manuel Juventino dos Santos.
Mas, se antes a pesca era boa e garantia a sobrevivência dos pescadores, o que aconteceu para que os peixes sumissem do rio? Segundo os próprios pescadores, os problemas começaram com a construção das barragens das usinas hidrelétricas de Itapebi, sl da Bahia, na divisa com Minas, e Irapé, entre Berilo e Grão Mogol, no Médio Jequitinhonha, nordeste de Minas. "O rio satisfazia a gente, antes das duas represas. Fez a represa de Itapebi piorou pra nós. Ai veio a outra usina, a de Irapé. Essa foi a pior porque ela matou o pouco peixe que tinha", conta o senhor Manuel.
Segundo o coordenador do centro de transposição de peixes da UFMG, professor Alexandre Godinho, "o impacto da construção de barragens sobre os organismos vivos são diversos e complexos, já que a água, que era corrente, passa a ser água parada, mudando completamente suas características". A barragem provoca alterações na temperatura da água, na dinâmica de cheias do rio, no transporte de nutrientes, e nos processos de migrações dos peixes, sobretudo daqueles que são importantes para a pesca. "Surubim, dourado, pacu, tambaqui, são todos peixes migradores de água doce e importantes para a pesca comercial. A construção da barragem bloqueia a migração dos peixes e com isso a tendência natural é a quantidade de peixe diminuir e, conseqüentemente, a pesca", diz o professor.
CEMIG EXPLICA
O coordenador do Programa Peixe-Vivo da Cemig, Newton Prado, conta que é realizado monitoramento semestral no reservatório de Irapé, para saber dos impactos sobre os seres vivos, mas, por ser um reservatório novo, os dados ainda são insuficientes para afirmar se houve alterações significativas. "Temos os dados de monitoramento anteriores ao enchimento do reservatório que serão comparados com dados do monitoramento que está sendo realizado pelo Programa Peixe Vivo", diz.
A Colônia z -13
Fundada em 1993, A colônia de Pescadores do Vale do Jequitinhonha, Z-13 abrange todas as cidades do Baixo e Médio, indo de Salinas até Salto da Divisa, num total de 42 municípios.
Atualmente, a colônia conta com aproximadamente 356 pescadores registrados. "A gente luta porque a gente não tem outra sobrevivência, a sobrevivência do pescador é essa", diz o senhor Manuel.
E outro pescador da colônia, Ariobaldo Teixeira de Oliveira, acrescenta: "A gente não está na situação de passar fome porque a gente trabalha dia e noite, sábado e domingo pra conseguir um pouquinho. Do jeito que tá indo, nós não temos como continuar com isso não".

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