Asfalto, um sonho preto de progresso
Desde menino, ouvia meu pai dizer que nossa região só se desenvolveria se tivesse o asfalto, para o progresso chegar aqui. Na minha ignorância infantil, imaginava um chão preto, um tapete enorme, estreito e comprido. O progresso, na figura de um homem forte e soberano, rico, cheio de medalhas e coroa, rei do mundo, vinha desfilando na passarela. Nós, os pobres viventes do Jequitinhonha, batendo palmas, admirados.
No final dos anos cinqüenta, JK foi eleito presidente da República. Meu pai vaticinou que o sonho preto chegaria até o coração do Vale, no seu miolo. Berilo, Minas Novas, Chapada do Norte, Sucuriú... Juscelino, egoísta, só asfaltou a estrada de Belzonte até Diamantina, a cidade dele. Pensei, os homens do poder só pensam no seu quintal, na sua casa, na sua cidade. Até mesmo JK, o visionário, que via longe, e fazia o perto.
A cada governo que entrava, nós pensávamos: agora sim, o asfalto vai chegar e o progresso vem atrás. Matutei. O asfalto chegou em Minas Novas e a cidade andou pra trás. Turmalina é que aproveitou a deixa e abraçou o tal progresso. Criou uma rede de serviços, tirou todo mundo da zona rural, urbanizou-se, enricou. Gerou empregos e oportunistas, na política e no jogo empresarial.
Capelinha também não ficou pra trás. Aproveitou e cresceu na produção de café, mandando a fruta preta pro exterior. Itamarandiba procura ainda sua vocação, além do eucalipto da Acesita, que deixou terras áridas e sem-terras. A Rio-Bahia cortou a carne de Pedra Azul, Medina, Itaobim, Padre Paraíso e Ponto dos Voltantes, na década de 60. Trouxe o os sedutores e estupradores de meninas, nas carroças de quatro rodas, prostituindo famílias pobres, na luta pela sobrevivência. Almenara, Jequitinhonha, Joaíma, Itinga, Araçuaí, Virgem da Lapa e Rubelita também fizeram festas com seus asfaltos, mas o progresso está por chegar.
Agora, sim. Agora, vai. O asfalto vai chegar por onde a gente menos esperava. Berilo vai ter asfalto. Em vez de vir do lado da capital, de Belzonte, na BR 367, vem pelos fundos, em estrada municipal, de Francisco Badaró. Está bom, é melhor do que nada. O prefeito reclamou com o governador de Minas, em Brasília, no Palácio da Liberdade, em BH. No mês de abril, falou pra ministra Dilma a mesma coisa. O povo de Berilo quer o chão preto daqui até Lamarão, Catutiba... Quer saída pra Chapada, pro rumo das cidades grandes.
Aí, sim. O progresso baterá às nossas portas.
Berilo seguirá o mesmo caminho de Turmalina, pois tem as características de povo empreendedor, de ir atrás, cair no trecho, trabalhar, romper mundos.
Seremos felizes para sempre,
se Deus quiser,
e o asfalto vier.
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