Foto: Beto Novaes/EM/D.A Press
Foi vendo a mãe fazer caridade e alimentar pessoas carentes que a menina Maria Passabom França, a Nina, determinou que o lema de sua vida seria “fazer o bem sem olhar a quem”. A morte da mãe, quando Nina tinha 13 anos, reforçou nela a vontade de seguir o exemplo. Pouco tempo depois, ela entrou para um convento, iniciando a trajetória de auxiliar o próximo que mantém até hoje.
Como irmã de caridade, Nina foi morar em Belo Horizonte, trabalhando em hospitais. Na hora de fazer os votos perpétuos, a freira decidiu deixar o hábito, sem nunca se afastar do ideal de fazer o bem. Há 51 anos, mudou-se para Diamantina, já casada com o servidor público Walter Cardoso França, com quem teve dois filhos. Aos 77 anos, viúva, Nina, que nasceu em Cachoeiro do Itapemirim, no Espírito Santo, declara seu amor pela cidade que ela escolheu e que a acolheu: “Sou mineira e diamantinense de coração”.
Ela conta que, ao chegar à cidade, não havia sequer um “posto de injeção”, ou seja, unidades de saúde para atender a população. Nina passou a cumprir o papel de enfermeira que atendia aos doentes em suas residências, aplicando injeção, inclusive de madrugada, tirando pressão, fazendo curativos... Os próprios médicos encaminhavam a ela quem precisava de assistência domiciliar e ela atendia. Como ministra da eucaristia e devota de São José, Nina se encarrega, também, de levar comunhão aos enfermos.
Só que Nina foi além. Passou a cuidar também dos presos da cadeia pública, levando cobertores, creme dental, sabonetes, toalhas... “Eles têm uniforme, mas não têm blusa de frio”, constata. Ela zela pela saúde e dá conselhos aos detentos no sentido da recuperação. “Eu ajudo a levantar do erro, mas não apoio o erro. Quem errar tem que assumir, pode ser até da minha família. Para mim é todo mundo igual”, avisa Nina, que enfrentou resistências da sociedade quando decidiu ajudar também os presidiários. “Há quem não goste do trabalho que eu faço. Mas eu vou ajudar quem, as beatas? Elas não precisam. Temos de dar a mão a quem está caído”, explica.
Era com essa disposição que ela tinha altivez para entrar no Beco do Mota, antiga zona boêmia de Diamantina, bem perto da catedral, para atender prostitutas, por solicitação de médicos da cidade. “Eu aconselhava as moças, todas muito jovens. Teve uma que casou e foi me agradecer depois pelos conselhos.” Ela conta que, por causa de sua forma de agir, já teve enfrentamentos até na Pastoral Carcerária. Lembra uma situação em que uma colega xingava uma presa. Nina discordou da forma. “Tomei a frente. Disse à moça para pegar um espelho e olhar o próprio rosto. E disse a ela: ‘Você é linda, tem que agradecer a Deus pela beleza e inteligência que ele te deu’. A gente tem que ser firme, mas não pode maltratar as pessoas”, ensina.
Nina lamenta pelos dramas que vê nas cadeias e fica especialmente sensibilizada com as consequências do uso de drogas em presos muito jovens. “Tinha um menino novo, dependente, que ficava tremendo sem as drogas. É muito triste”, recorda. Entrar nas cadeias, conviver com os presos, nunca foi motivo de constrangimento para ela. “Eu era jovem, cheia de vida e ninguém nunca me desrespeitou”, diz Nina, com os olhos azuis que chama de “olhos de gato”. Uma vez, recorda, um preso falou alto com ela e os outros reagiram na hora. “Eles me chamam de mãe”, orgulha-se.
“É uma missão”, define Nina, que está envolvida atualmente com o projeto de instalação de uma Associação de Proteção e Assistência aos Condenados (Apac) em Diamantina. Ela sonha em ver os presos com maiores possibilidades de recuperação e de reinserção na sociedade. Em recuperação de uma pneumonia, Nina está mais quieta em casa, mas fica incomodada por isso. “Eu ando o dia inteirinho”, informa, reclamando do mau estado do calçamento nas ruas, responsável por duas quedas recentes que ela sofreu ao levar comunhão para enfermos.
Nina diz que é muito conhecida na cidade justamente porque fica muito na rua, mas não é o que dizem os outros moradores. “Dona Nina é uma celebridade para a gente. É uma pessoa muito útil para a comunidade, ela é muito caridosa”, testemunha a pedagoga Maire Ávila Medina. Cleonice de Almeida Batista, vizinha há 40 anos, faz coro: “Nina é tudo para nós. Acolhe todo mundo na hora da precisão. Tudo é ela. Carrega todos nas costas.”
Nas poucas horas vagas, Nina gosta de ler livros com conteúdo religioso, fiel ao seu perfil de caridade, fé e amor pelas pessoas e pelo lugar em que vive. Ela tira do livro Estas ruas serpeantes, do padre Celso de Carvalho, os versos com que homenageia a cidade. “Diamantina, eu te defino, por tuas ruas andejas, serpeando ao som do sino, entre capelas e igrejas”.
Foi vendo a mãe fazer caridade e alimentar pessoas carentes que a menina Maria Passabom França, a Nina, determinou que o lema de sua vida seria “fazer o bem sem olhar a quem”. A morte da mãe, quando Nina tinha 13 anos, reforçou nela a vontade de seguir o exemplo. Pouco tempo depois, ela entrou para um convento, iniciando a trajetória de auxiliar o próximo que mantém até hoje.
Como irmã de caridade, Nina foi morar em Belo Horizonte, trabalhando em hospitais. Na hora de fazer os votos perpétuos, a freira decidiu deixar o hábito, sem nunca se afastar do ideal de fazer o bem. Há 51 anos, mudou-se para Diamantina, já casada com o servidor público Walter Cardoso França, com quem teve dois filhos. Aos 77 anos, viúva, Nina, que nasceu em Cachoeiro do Itapemirim, no Espírito Santo, declara seu amor pela cidade que ela escolheu e que a acolheu: “Sou mineira e diamantinense de coração”.
Ela conta que, ao chegar à cidade, não havia sequer um “posto de injeção”, ou seja, unidades de saúde para atender a população. Nina passou a cumprir o papel de enfermeira que atendia aos doentes em suas residências, aplicando injeção, inclusive de madrugada, tirando pressão, fazendo curativos... Os próprios médicos encaminhavam a ela quem precisava de assistência domiciliar e ela atendia. Como ministra da eucaristia e devota de São José, Nina se encarrega, também, de levar comunhão aos enfermos.
Só que Nina foi além. Passou a cuidar também dos presos da cadeia pública, levando cobertores, creme dental, sabonetes, toalhas... “Eles têm uniforme, mas não têm blusa de frio”, constata. Ela zela pela saúde e dá conselhos aos detentos no sentido da recuperação. “Eu ajudo a levantar do erro, mas não apoio o erro. Quem errar tem que assumir, pode ser até da minha família. Para mim é todo mundo igual”, avisa Nina, que enfrentou resistências da sociedade quando decidiu ajudar também os presidiários. “Há quem não goste do trabalho que eu faço. Mas eu vou ajudar quem, as beatas? Elas não precisam. Temos de dar a mão a quem está caído”, explica.
Era com essa disposição que ela tinha altivez para entrar no Beco do Mota, antiga zona boêmia de Diamantina, bem perto da catedral, para atender prostitutas, por solicitação de médicos da cidade. “Eu aconselhava as moças, todas muito jovens. Teve uma que casou e foi me agradecer depois pelos conselhos.” Ela conta que, por causa de sua forma de agir, já teve enfrentamentos até na Pastoral Carcerária. Lembra uma situação em que uma colega xingava uma presa. Nina discordou da forma. “Tomei a frente. Disse à moça para pegar um espelho e olhar o próprio rosto. E disse a ela: ‘Você é linda, tem que agradecer a Deus pela beleza e inteligência que ele te deu’. A gente tem que ser firme, mas não pode maltratar as pessoas”, ensina.
Nina lamenta pelos dramas que vê nas cadeias e fica especialmente sensibilizada com as consequências do uso de drogas em presos muito jovens. “Tinha um menino novo, dependente, que ficava tremendo sem as drogas. É muito triste”, recorda. Entrar nas cadeias, conviver com os presos, nunca foi motivo de constrangimento para ela. “Eu era jovem, cheia de vida e ninguém nunca me desrespeitou”, diz Nina, com os olhos azuis que chama de “olhos de gato”. Uma vez, recorda, um preso falou alto com ela e os outros reagiram na hora. “Eles me chamam de mãe”, orgulha-se.
“É uma missão”, define Nina, que está envolvida atualmente com o projeto de instalação de uma Associação de Proteção e Assistência aos Condenados (Apac) em Diamantina. Ela sonha em ver os presos com maiores possibilidades de recuperação e de reinserção na sociedade. Em recuperação de uma pneumonia, Nina está mais quieta em casa, mas fica incomodada por isso. “Eu ando o dia inteirinho”, informa, reclamando do mau estado do calçamento nas ruas, responsável por duas quedas recentes que ela sofreu ao levar comunhão para enfermos.
Nina diz que é muito conhecida na cidade justamente porque fica muito na rua, mas não é o que dizem os outros moradores. “Dona Nina é uma celebridade para a gente. É uma pessoa muito útil para a comunidade, ela é muito caridosa”, testemunha a pedagoga Maire Ávila Medina. Cleonice de Almeida Batista, vizinha há 40 anos, faz coro: “Nina é tudo para nós. Acolhe todo mundo na hora da precisão. Tudo é ela. Carrega todos nas costas.”
Nas poucas horas vagas, Nina gosta de ler livros com conteúdo religioso, fiel ao seu perfil de caridade, fé e amor pelas pessoas e pelo lugar em que vive. Ela tira do livro Estas ruas serpeantes, do padre Celso de Carvalho, os versos com que homenageia a cidade. “Diamantina, eu te defino, por tuas ruas andejas, serpeando ao som do sino, entre capelas e igrejas”.
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