O evento visa o fortalecimento dos movimentos feministas no Vale a partir de discussões e troca de experiências das mulheres do Jequitinhonha
Das bonecas aos carrinhos, a educação familiar brasileira há muitos anos constrói e reafirma as relações que diferenciam meninos e meninas. Desde os primeiros anos de idade, a maioria das crianças aprende como ser "mulheres" ou como ser "homens": as cores das roupas, os brinquedos, a forma de se portar. Muitas vezes, os lares são o espaço primeiro em que os papéis que homens e mulheres devem ocupar na sociedade são reforçados, contribuindo para a manutenção de estruturas responsáveis pela desvalorização feminina.
Os problemas têm uma ligação histórica e cultural muito forte. Desde os arranjos familiares e sociais de séculos atrás, o espaço público sempre foi destinado ao homem, que sai de casa para trabalhar e sustentar a prole. Às mulheres são destinados os espaços privados, no âmbito doméstico e familiar, em que sua função é cuidar dos filhos e da casa. Os anos passaram e as mudanças aparecem, mesmo que tímidas.
A hierarquia de gêneros fomenta muitas adversidades como, por exemplo, a dificuldade do acesso das mulheres a serviços de saúde e educação. Mesmo com os obstáculos, a luta pelos direitos das mulheres avança. A participação feminina cresce no mercado de trabalho e na política e caminha para uma construção justa de cidadania, com direitos e deveres inerentes a qualquer um.
Frente a esses problemas e seguindo os caminhos de organizações e de grupos feministas que buscaram, e ainda buscam, a paridade de gêneros, surgiu o Programa Fórum da Mulher do Jequitinhonha, um espaço de pensamento, discussão e planejamento de ações frente os desafios que as mulheres brasileiras encontram em suas vidas. Sediado em diferentes cidades do Vale do Jequitinhonha, nordeste de Minas Gerais, o Programa visa a promover a emancipação social das mulheres. Embora tenha um caráter regional, os dilemas debatidos são comuns a qualquer grupo, região ou classe social.
O Fórum da Mulher do Jequitinhonha é uma realização da Pró-Reitoria de Extensão da UFMG e faz parte de outras ações do Programa Polo de Integração da UFMG no Vale do Jequitinhonha.
Em sua terceira edição, o Fórum é atualmente um dos projetos de extensão mais reconhecidos da Universidade e também fora dela. Exemplo disso é que a edição de 2014 já está assegurada por meio da aprovação no Programa de Extensão Universitária do Ministério da Educação (ProExt). O Programa foi aprovado em 1º lugar entre o tema “Mulheres e relação de gênero”. O Fórum da Mulher é coordenado pelas professoras Maria Alice Braga e Marlise de Matos Almeida e pela pró-reitora adjunta de Extensão, Maria das Dores Pimentel Nogueira.
O programa tem o objetivo de reunir grupos, instituições e associações de mulheres do Vale do Jequitinhonha para discutir ações mais estruturadas em relação aos seus direitos, além de ser um espaço para compartilhar experiências, ideias e projetos. Maria das Dores Pimentel ressalta que o Fórum é estruturado de acordo com as características comuns de projetos de extensão: “uma interação dialógica entre universidade e comunidade, em que entendemos que todos nós somos sujeitos nesse processo".
Contando com o apoio da prefeitura local, em 2011 ocorreu o I Fórum da Mulher no município de Jequitinhonha. Dezesseis cidades do Vale e 49 instituições estiveram representadas. Juntas, as participantes planejaram e redigiram uma Carta da Mulher do Jequitinhonha aberta à população e que foi entregue à autoridades públicas e também organizações não-governamentais.
O conteúdo é composto por propostas de políticas públicas nas áreas de educação, saúde, trabalho, cultura, participação política e combate à violência.
Em 2012, o município de Itaobim recebeu representações de 61 entidades de 22 municípios durante o II Fórum da Mulher. Nesta edição foi discutida a importância do fortalecimento dos Conselhos dos Direitos das Mulheres em cada cidade. Os Conselhos são organizações de direitos para as mulheres no âmbito do Poder Executivo, responsáveis por desenvolver políticas públicas voltadas para questões femininas. Tanto a coordenação do Programa, como as mulheres participantes do evento, tem apoiado e ajudado na articulação para que as lideranças municipais desenvolvam os Conselhos em suas respectivas cidades.
Para 2013, seguem os preparativos para o III Fórum da Mulher, que dessa vez acontecerá em Capelinha, nos dias 6 e 7 de junho. As atividades desta edição terão três eixos principais: a formação política e cidadã, a geração de renda e o cyberativismo. Além dessas questões, um dos momentos do evento será destinado ao planejamento de uma campanha para inserir os homens no combate à violência contra a mulher.
Neste ano, a coordenadora Maria Alice Braga vai passar por cerca de 15 municípios para mobilizar mulheres e lideranças locais para participarem do evento. Segundo ela, a presença destas lideranças é importante, visto que são responsáveis pela multiplicação das informações. Maria Alice ressalta, ainda, que o Fórum é “uma forma de reunir mulheres e dividir experiências que estão espalhadas pelo Vale do Jequitinhonha, além de ser uma oportunidade de formar uma rede que fortalece os movimentos”.
Por meio do encontro, as mulheres do Jequitinhonha discutem quais políticas públicas devem ser implementadas. Essas mulheres ganham voz e ocupam um espaço no processo de ampliação dos seus direitos. Assim, se tornam protagonistas na transformação de suas histórias, lutando por novos rumos da sociedade.
Texto: José Henrique Pires - acadêmico de Jornalismo, bolsista de extensão do Programa Polo de Integração da UFMG no Vale do Jequitinhonha
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