domingo, 21 de abril de 2013

Os inconfidentes corruptos do Vale do Jequitinhonha

Os inconfidentes Domingos de Abreu Vieira e Padre Rolim participaram da Inconfidência Mineira para fugirem do fisco,  por posse de riquezas, não abrindo mão da escravidão dos negros 
A Inconfidência também passou pelo Vale do Jequitinhonha. Quem diria? E foi a sua parte mais podre - se é que tem alguma que é sadia - que se destacou.
Domingos de Abreu Vieira e Padre Rolim são os tristes personagens da nossa história colonial. Eles viveram no Vale ,  no século XVIII, e exploraram as riquezas regionais.
Abreu Vieira na Vila do Água Suja, atual Berilo, no Médio Jequitinhonha, e em Minas Novas. Padre Rolim, no Tejuco, atual Diamantina.

Três grupos de interesses
O movimento da Inconfidência Mineira tinha três grupos de homens com interesses diversos. O primeiro era considerado o dos ideólogos formado por Tomás Antônio Gonzaga e Cláudio Manoel da Costa.
O segundo grupo era de ativistas que propagava as idéias entre o povo e nos mais diferentes lugares. São os que mais se expunham à perseguição da polícia de Portugal. Tiradentes era o mais exaltado e mais conhecido deste grupo.
Por trás dos ativistas e dos ideólogos, havia um terceiro grupo de homens, mais discretos, também interessados na ruptura com Portugal.
A pólvora tinha sido assegurada aos conspiradores por Domingos de Abreu Vieira. O velho contratante português era intimamente vinculado a muitos dos principais inconfidentes.
Abreu Vieira estava em dívida com a Fazenda Real: devia muito mais de dois milhões de réis, e é evidente que o velho negociante português envolveu-se na conspiração só por um motivo: porque ela proporcionava um meio de eliminar suas dívidas .

Elite inconfidente
Assim, é equivocada a versão que se tinha de que os 24 inconfidentes condenados por crime de lesa-majestade eram pessoas de posses muito modestas.
Os inconfidentes estavam distantes dos ideais de igualdade e liberdade defendidos pela Revolução Francesa. A prova disso é que 60% deles eram proprietários de escravos e não se mostravam dispostos a aderir às teorias abolicionistas.
O que se percebe é que todos eles buscavam burlar a autoridade da Coroa Portuguesa em benefício próprio e muitos entraram para o grupo dos inconfidentes em busca justamente de ajuda financeira.
Entre os idealistas estão os poetas Cláudio Manuel da Costa e Tomás Antônio Gonzaga (autor de "Marília de Dirceu") e entre os pragmáticos que se aproveitaram do movimento para ganhar mais poder e fortuna estão os coronéis Domingos de Abreu Vieira e Francisco Antônio de Oliveira Lopes, os padres Rolim e Carlos Corrêa.



Foto: Casarão colonial, na Rua do Porto, em Berilo, construído por Domingos de Abreu Vieira. Esta edificação foi restaurada recentemente pelo IEPHA e Prefeitura Municipal.

Domingos de Abreu Vieira
Domingos de Abreu Vieira, na época da elaboração dos planos de liberdade, além de contratador de dízimos era Tenente Coronel, auxiliar da Companhia de Dragãos de Minas Novas. Ocupou o posto de Capitão da Companhia do Distrito do Arraial de Água Limpa ( atual Berilo) e de Regimento de Cavalaria.
Domingos de Abreu Vieira tinha casa em Ouro Preto, na Região Central, mas visitava com freqüência o seu Sobradão em Vila do Água Suja, atual Berilo, como também sua casa em Minas Novas, na Praça da Rodoviária, onde funciona, hoje, a Rádio Bom Sucesso, de Murilo Badaró.

Ele exerceu o cargo de contratador dos dízimos, em Vila Rica, entre 1784 e 1789. Era padrinho da filha de Tiradentes, que também teria passado temporadas na sua casa de Berilo.

Ele foi condenado à forca junto com outros 10 acusados de conspirar contra o Reinado português, do qual era funcionário graduado. Ele jurou fidelidade à Rainha "Maria Louca" de Portugal e negou qualquer participação na Inconfidência Mineira. Como outros espertalhões da elite colonial foi preso e deportado. Somente Tiradentes assumiu defender os ideais da Independência do Brasil. Por isso, foi o único a ser enforcado.

Abreu Vieira teve os bens penhorados e enviado para Angola, tendo vivido em Luanda, na África Ocidental, e morrido no presídio de Nossa Senhora da Conceição de Muxima.

PADRE ROLIM, DE DIAMANTINA
José da Silva e Oliveira Rolim (Diamantina, 1747 - Diamantina, 1835), o Padre Rolim, foi um dos conspiradores da Inconfidência Mineira.

Filho do contratador de diamantes (Caixa na Real Extração Diamantina) da cidade, o sargento-mor José da Silva de Oliveira, era amaziado com Quitéria Rita, filha de Chica da Silva e do antigo contratador João Fernandes de Oliveira, e com ela teve os filhos Thadeo José da Silva, Domingos José Augusto, Maria Vicência da Silva e Oliveira e Maria da Silva dos Prazeres. Envolvido em negócios ilegais, foi o mais rico participante da Inconfidência.

Quando da mudança da Extração Diamantina, seus pais, em casa de quem morava, foram prejudicados financeiramente. Foi então que a família passou a se dedicar ao contrabando de pedras preciosas. Também traficavam escravos e praticavam a usura.

Foto: Construído em 1749, este Casarão da Rua Direita, em Diamantina, foi da família do Padre Rolim. Hoje funciona o Museu do Diamante.

Procurou a carreira eclesiástica para se ver livre de um processo criminal, como testemunhou Joaquim Silvério dos Reis. Ordenou-se ao 32 anos em Coimbra, sem gostar de estudar, tendo dificuldades para escrever e sendo péssimo em comunicação verbal.

O Padre Rolim era um homem inescrupuloso e corrupto e quando o Visconde de Barbacena se negou a revogar uma ordem de banimento contra ele, uniu-se à Inconfidência Mineira no final da década de 1780, da qual participou ativamente, tendo se comprometido a arranjar 200 cavaleiros armados para a revolução. À essa época, já tinha grande influência sobre a região do Serro, motivo de a Coroa Portuguesa temê-lo.

Após serem denunciados, foi julgado junto com seus companheiros da Inconfidência Mineira e passou quinze anos preso, primeiro na Fortaleza de São Bento da Saúde - até 1796 -, e depois no Mosteiro de São Bento da Saúde, em Lisboa. Já em 1805 estava de volta ao Brasil com a esposa e filhos.
Lutou, então, para reaver seus bens que haviam sido confiscados, mas só o conseguiu com a declaração da Independência do Brasil, quando foi também indenizado.
                                                                                                                                                                                     
Morreu aos 88 anos, em 1835, tendo sido sepultado na Igreja do Carmo, após ter sido velado com paramentos da Maçonaria.

Elaborado por Álbano Silveira Machado, tendo como fontes de pesquisa a Wikipedia, mgquilombo  e o livro "A devassa da devassa", de Kenneth Maxuell.

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