segunda-feira, 1 de julho de 2013

Do Jequitinhonha para os Estados Unidos

De Minas direto para Nova York

O ponto de partida é o Vale do Jequitinhonha, 
no nordeste de Minas. 

A parada final é uma das megalópoles mais 
célebres do mundo: Nova York, nos Estados 
Unidos. É esse o destino de três mineiras, 
que vão mostrar, na sede da Organização 
das Nações Unidas (ONU), o artesanato 
produzido nas Gerais. Elas foram selecionadas 
com outras 12 mulheres, num universo de mais
de 100 inscrições, para representar a arte 
do país na exposição Mulher artesã brasileira, 
que ocorrerá durante a Assembleia Geral da 
ONU, no início de setembro. Algodão, barro 
e flores são as matérias-primas dos produtos 
que prometem encantar chefes de Estado de 
todo o planeta.

O projeto é uma iniciativa da Associação Brasileira 
de Exposição de Artesanato (Abexa), com patrocínio do Serviço Brasileiro de Apoio às 
Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e apoio do Instituto Centro Cape, da Agência 
Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) e da Secretaria 
da Micro e Pequena Empresa da Presidência da República. 

A seleção foi rigorosa, e não bastava ter talento. A presidente do Centro Cape, diretora 
da Abexa e idealizadora do projeto, Tânia Machado, explica que foram levados em conta 
ainda a inovação, o espírito empreendedor, o impacto do trabalho na comunidade, a 
criatividade e a ética. "Além de ser artista, era preciso ser uma pessoa que trabalha em 
prol da comunidade", afirma.

No seleto grupo está Maria José Gomes da Silva, a Zezinha, de 45 anos, moradora da 
comunidade de Campo do Buriti, na zona rural de Turmalina, no Vale do Jequitinhonha. 
Ela usa barro e argila para fazer bonecas que são de encher os olhos. Agora, a artesã 
vive a expectativa de poder sair, pela primeira vez, do país. Na mala, as peças já estão 
definidas: uma noiva e 70 cm de altura, uma boneca sentada e uma flor. A associação 
da qual ela faz parte tem hoje 46 artesãs, que vivem praticamente da renda obtida 
com a venda dos artesanatos.     

Na época da inscrição, ela foi incentivada pela equipe da Empresa de Assistência Técnica 
e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (Emater). "Falaram que eu era forte candidata, 
mas não tive expectativas. Fiquei surpresa com o resultado, não esperava. A gente fica 
meio sem acreditar", afirma.

O artesanato surgiu na vida de Zezinha com a necessidade de confeccionar os próprios 
brinquedos. A partir dos 15 anos, ela aproveitou os ensinamentos da mãe para fazer da 
brincadeira sua fonte de geração de renda. Hoje, é referência na associação, ao repassar 
suas técnicas e garantir a continuidade desse trabalho. Ela garante que fazer as bonecas 
não é complicado. Para ela, difícil mesmo é achar o caminho das pedras para ganhar o 
mercado internacional. "Somos pequenos, não sei se temos condições para exportar, 
mas tudo servirá como experiência e aprendizado", revela.

SINGELEZA 
Se Zezinha adota o jeito mineiro da cautela, Juracy Borges da Silva, de 50, da comunidade 
de Galheiros, distrito de Diamantina, também no Jequitinhonha, aposta na vitrine da ONU 
para ir mais longe. Secretária e representante municipal da Associação de Artesãos 
Sempre-Viva, ela ficou sabendo da inscrição por meio do pessoal do Instituto de 
Desenvolvimento do Norte e Nordeste de Minas Gerais (Idene). "Quando recebi a notícia 
fiquei numa extrema alegria, pois esperávamos há muito tempo a oportunidade de mostrar 
nosso trabalho no exterior", conta. O artesanato do grupo tem na singeleza das sempre-
vivas o pilar da beleza, e por isso, o projeto desenvolvi, do na comunidade inicialmente 
com o objetivo único de conservar espécies tem o mesmo nome da flor. Além dela, são 
usadas ainda folhas, frutos, cascas, fibras de bananeira e palha de milho.

Todas são plantas nativas da região, cultivadas pelos artesãos. A associação tem parceria 
com a Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM) e cultiva um 
viveiro de mudas da sempre-viva. "É um trabalho sustentável, porque não agredimos o meio 
ambiente, com a consciência de que essas plantas devem ser preservadas. Além disso, é 
uma tradição que passa de pai para filho", relata Juracy. Atualmente, o grupo conta com 
29 artesãos e cerca de 60 pessoas que se beneficiam indiretamente do artesanato - 
não confeccionam as peças, mas coletam as plantas.

A associação produz de 200 a 300 itens por mês, entre anjos, divinos, presépios, arranjos, 
ímãs de geladeiras e flores de casca de urucum. Para a exposição na ONU, Juracy vai levar 
uma luminária, uma guirlanda e um arranjo de mesa. A escolha foi feita a partir das peças 
mais vendidas. "Estou deslumbrada. Nunca imaginei que isso pudesse ocorrer. Para mim 
era só um sonho. Agora, vejo uma porta muito ampla que se abriu e vamos ver se, com 
essa oportunidade, conseguimos exportar nossos produtos", diz ela.

Em busca de apoio
As passagens das artesãs foram garantidas pela Secretaria de Estado de Cultura. O Centro 
Cape busca agora apoio para outras despesas. A ideia é fazer essas mulheres descobrirem 
também um pouco de Nova York, com direito a visitar museus e assistir a um show na 
Broadway. 

A exposição será aberta em 8 de setembro, com a presença de chefes de Estado. 
O público em geral terá acesso a partir do dia seguinte. Além de artesanato, haverá 
ainda exposição fotográfica e documentário sobre as mulheres que representarão o Brasil 
diante do mundo.

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