terça-feira, 11 de setembro de 2012

Eleições em Capelinha mudarão o jeito de fazer política?

A velha politicagem canta vitória em Capelinha...


Como não há ruptura com o passado,
a cada passo esse se reapresenta
e cobra seu preço.
(Florestan Fernandes)


pouco mais de um ano e meio, a população de Capelinha assistiu, estarrecida, a mais um capítulo de sua confusa história política. O grupo que detinha o controle da administração municipal se dividiu de forma bizarra e durante quase um mês pairou na cidade a dúvida sobre o gênero da pessoa que ocuparia a cadeira de prefeito(a). O fato, por si só, gerou incontáveis piadas, mas os capelinhenses manifestaram naquele momento um sentimento de indignação até então inédito.
Quem é de Capelinha sabe perfeitamente que a política partidária local muda a todo instante e, às vezes, as coisas acontecem tão rápido que perdemos o “fio da meada”. Por isso, nunca é demais fazer uma retrospectiva dos fatos, já que recordar é uma virtude. Então voltemos a 2008, mais precisamente no contexto das eleições municipais daquele ano. Tínhamos quatro candidatos: Gerson Fernandes (candidato à reeleição), Gelson Cordeiro, Neném Pimenta e Rita do Sindicato.

Faltando alguns dias para o pleito, Gelson Cordeiro, que na época poderia ser impedido de assumir a prefeitura caso fosse eleito, desistiu da cabeça de chapa e colocou no seu lugar Pedro Vieira como candidato a prefeito e sua irmã Hedylamar Cordeiro como vice, que caiu de paraquedas no cenário político da cidade. Este fato deixou bem claro que aquela era uma candidatura de “laranjas”, na qual o próprio Gelson é quem estaria à frente do Executivo, o que ficou ainda mais claro depois da descoberta daquele vergonhoso “tratado” dos dois anos. 
Como demonstra Banu em seu blog, essa situação não era nova em Capelinha, já que alguns anos antes o então prefeito Tico Neves usou da mesma estratégia e colocou no seu lugar Ivan Pimenta.
Depois desse episódio, alguma coisa mudou em Capelinha, aliás, alguma coisa dentro de boa parte dos capelinhenses saiu do imobilismo. As pessoas deram-se conta dos absurdos que aconteciam na administração da cidade e buscaram outras alternativas de participação política.
Foi diante deste cenário, que grupos de cidadãos, por meio da internet, usaram as redes sociais para demonstrarem indignação diante do “rateio” do cargo de prefeito. Neste mesmo período, descobriu-se que nossos candidatos perderam de vista a noção do público e do privado e firmaram um acordo sujo como se a administração do Poder Executivo fosse um prêmio ganho num jogo de cartas.
Diante de tantos protestos, por alguns breves momentos, tivemos a impressão de que nossos representantes políticos assimilariam as mudanças. Ledo engano! As articulações para as eleições de 2012 jogaram um balde de água fria em quem alimentou expectativas. Os velhos interesses mesquinhos, que ficaram recolhidos por um tempo, novamente saltaram à vista. A velha concepção de política como meio para defender interesses pessoais mostrou suas garras com a mensagem de que o panorama político e democrático de Capelinha ainda está longe do amadurecimento.
Temos um candidato, Gelson Cordeiro, enquadrado na Lei Ficha Limpa e que, mesmo se obtiver a maioria dos votos, não poderá assumir pois é inelegível até 2013. Pelo visto, a estratégia pensada é a mesma usada na eleição anterior: lançar seu nome e no último instante entregar a cabeça de chapa para outra pessoa.
Olhando para esse quadro, é inevitável que algumas perguntas sejam feitas: Não é vergonhoso lançar a candidatura de um cidadão com dezenas de processos na justiça? A coligação que dá suporte a Gelson Cordeiro considera que é válida qualquer estratégia para chegar ao poder? Essas pessoas já ouviram falar de “ética”? Sabem que candidatos são eleitos para defender os interesses da coletividade? Será que, tanto a coligação quanto o candidato, sabem o significado de alguns outros termos como “democracia”, “transparência”, “cidadania”?
Mas a questão não termina aí. Lançado pelo PSDB, o candidato Pedro Vieira também tem que responder a algumas perguntas que estão há anos engasgadas na garganta dos capelinhenses: De que forma Pedro Vieira se desvinculará da figura de Gelson Cordeiro, já que estiveram por tantos anos politicamente juntos? Como Pedro explicará o fato de que sua ruptura com Gelson não foi por uma questão de ideologia política, mas, como demonstrado, por conta de uma briga de poder?
É engraçado ver em lados opostos esses grupos políticos. Porque se tornaram adversários? Será que possuem concepções políticas distintas? Ou se dividiram somente por conta das conveniências? Será que, no fundo, os dois grupos não representam exatamente as mesmas ideias políticas e estão separados apenas momentaneamente? Porque, ao lembrar do passado e comparar com o presente, nada nos garante que amanhã ou depois não estarão novamente juntos.
Para dar ainda mais força à visão de que em Capelinha os interesses políticos, na maior parte das situações, se curvam aos interesses individuais, vejamos o caso do PT. O Partido dos Trabalhadores era considerado por muitas pessoas na cidade, ao menos de um tempo pra cá, como a única possibilidade de “terceira via”. Ou seja, esperava-se que trouxesse para o panorama político de Capelinha novas ideias, que construísse uma política com base em propostas sérias e não em politicagem pura e simples, apresentando-se como alternativa em um cenário tão lastimável. Mais uma vez a realidade dissolveu a fantasia em poucos instantes. Janer Moreira foi lançado como pré-candidato à prefeitura pelo PT, com o apoio do PCdoB, no mês de março. Nas palavras dele mesmo, desde aquela época sofreu com uma indecisão interna que não aceitava seu nome. Resumidamente, o partido preferiu desistir de apostar em um nome novo para compor a chapa de Pedro Vieira.
O grupo majoritário do PT afirma que o apoio é importante por seguir a diretiva estadual, mas especialmente por conta da viabilização da implantação do campus da UFVJM na cidade. A questão importante a ressaltar, entretanto, é que essa conquista só se deu porque o povo se manifestou de diversas formas, e que quando os políticos entraram e se apropriaram disso, só o fizeram pela inevitabilidade diante do tamanho da mobilização popular. De outro lado, em relação a isso, a decisão sobre o campus já foi tomada, independendo, a partir de então, de mandos e desmandos da administração local.
Ainda assim, os problemas internos do PT continuaram, a ponto de um militante “lançar-se” no site do TSE como candidato, sem consentimento e, o mais absurdo, sem o conhecimento do seu grupo partidário.
Embora a situação não seja totalmente incomum no Brasil, juntar em uma mesma coligação PT com PSDB ainda pode causar certos constrangimentos (não podemos nos esquecer que em São Paulo, por exemplo, o PV, de Gelson Cordeiro, está apoiando o PSDB, de Pedro Vieira, já que, ali, a força das diretivas nacionais mostra, mais evidentemente, o “rosto ideológico”de cada partido em plano federativo).
Tudo isso só reforça a ideia, lançada aqui no blog do MMC, de que os partidos, em sua maioria, não servem aos interesses da população. Servem aos interesses individuais daqueles que tem suas rédeas. Com honrosas exceções, a maior parte dos candidatos e grupos que se lançaram às eleições 2012 em Capelinha não apresentam nada novo, apenas reproduzem um ideal político enferrujado que conhecemos muito bem. Além disso, é forte o risco de que este seja um dos processos eleitorais mais sujos da história do município, apesar do esforço de alguns blogs, das redes sociais, da Justiça Eleitoral e de muitos cidadãos que exigem uma campanha focada em propostas e projetos convincentes.
Continua...

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