sábado, 13 de julho de 2013

Anônimos, “fakes” e outras baixarias



Por João Sampaio
 (Jornal Acontece,  Capelinha MG)

Houve um tempo na política em Capelinha - e mesmo em outras cidades da região - em que perder as 
eleições não era exatamente o maior temor dos candidatos. O medo principal era das terríveis “cartas 
anônimas”. Quem se dispusesse a entrar em uma disputa eleitoral tinha, então, que entrar preparado para 
a batalha das urnas sabendo que haveria, no meio do caminho, uma carta anônima, com as “baixarias” e 
“fuxicos” que faziam corar até o mais frio dos mortais. Mas esses tempos passaram, graças a Deus...

Passaram, nada. Lamentavelmente, as cartas anônimas continuam. Apenas mudaram de forma e de 
“logística”, digamos assim. Adaptaram-se ao mundo novo dominado pela Internet. Agora, em vez de 
entregues por baixo das portas na calada da noite, as cartas anônimas chegam ao povo por meio de 
postagens nas redes sociais, sobretudo “comentários” em blogues e criação de perfis falsos (“fakes”) 
no Facebook.

Sem nome, sem rosto, sem identidade e sem escrúpulos também, os novos “comentaristas” são mestres 
na arte de espalhar fuxicos, maledicências, desinformações, conclusões precipitadas, ilações e mentiras. 
Distorcem propositadamente as informações, confundem os mais desatentos e assim vão saciando o 
desejo de atiçar a fogueira, de fomentar a cizânea e de ver o circo pegar fogo.

Tais comentários nãodeveriam valer de nada, mas, a partir do momento em que “caem na rede”, tornam-se 
públicos, capazes, mesmo no abrigo covarde e criminoso do anonimato, de causar alguma influência, de 
provocar especulações e, por fim, de alimentar uma perigosa e insustentável rede de intrigas.

É razoável acreditar que os comentaristas anônimos de hoje são mais perigosos que os autores das 
cartas anônimas do passado. É que, se antigamente eram poucos os anônimos capazes de aventurar-se 
por estratégia tão perigosa e arriscada, nos tempos de hoje os anônimos viraram uma comunidade virtual 
difícil de dimensionar.

Covardemente, deliberadamente, distorcem a grandeza contida no artigo 5º da Constituição Federal, que 
trata dos direitos e deveres individuais e coletivos. Isso porque, se o parágrafo IX estabelece que “é livre a 
expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura 
ou licença”, fazem de conta que não sabem do parágrafo IV: “É livre a manifestação do pensamento, sendo 
vedado o anonimato”. A regra é clara, como dizem os comentaristas de futebol: quem pratica o anonimato 
pratica um crime. É bom os “futriqueiros anônimos” pensarem nisso!

Um outro tipo de anônimo, um pouco mais sofisticado do que os “comentaristas de blogues”, são os criadores 
de perfis falsos no Facebook, conhecidos como “fakes”. A partir de nomes, fotos, descrições e interesses cuidadosamente criados para proteger ao máximo o verdadeiro dono do perfil, os “fakes” têm geralmente 
“vida curta”, mas ainda assim são capazes de provocar estragos incalculáveis.

Estes “desocupados” lançam-se no Facebook sorrateiramente, criam uma rede de “amigos”, depois 
compartilham algumas fotos e mensagens e por fim põem as manguinhas de fora, disparando palpites 
e frases calculadas para os fins a que sem propõem. Geralmente, fins nada nobres. Até porque, se fossem 
nobres, não seriam “fakes”, não se esconderiam no anonimato e nem se submeteriam a viver no sombrio 
mundo da falsidade, da hipocrisia e do charlatanismo. Doentios e perversos, desaparecem da mesma 
forma sorrateira como surgiram. E geralmente criam outro perfil, já que, como dizem os estudiosos da mente 
humana, “o proibido seduz”.

Finalizamos este Editorial lembrando que há casos, muito específicos por sinal, em que o anonimato não 
apenas é legal e legítimo como também é crucial para salvaguardar revelações preciosas e que envolvem 
questões de Estado, casos de corrupção, fraudes e mesmo crimes contra a vida. Daí a importância do 
parágrafo XIV do já citado artigo 5º da Constituição Federal: “É assegurado a todos o acesso à informação 
e resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional”. Para os jornalistas profissionais, 
trata-se de um dos mais preciosos aliados no ofício de prestar a informação correta sem comprometer as 
fontes noticiosas, algo como “revelar o milagre sem contar o santo”. Uma prerrogativa respeitada em todas 
as nações que vivem sob um Estado Democrático de Direito.

Nessa categoria também estão as fontes que sustentam o trabalho do WikiLeaks - um site noticioso que tem 
revelado ao mundo os meandros da política e da diplomacia internacional. O resto é puro fuxico, sem mérito 
ou honraria nenhuma, mas capaz de estragos irremediáveis. 

Agradecendo a cada um dos nossos leitores, entregamos esta edição e já começamos outra, com as bênçãos
do Criador.
Obrigado e boa leitura a todos!

Fonte: Jornal Acontece, de Capelinha, via capelinha.net

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