quinta-feira, 15 de maio de 2014

Funcionários da Copanor em greve querem melhoria salarial e condições de trabalho.

Funcionários da Copanor denunciam péssimas condições de trabalho, precariedade dos serviços e descompromisso do governo de Minas com a categoria.
Comissão debateu a situação dos municípios atendidos pela Copanor, tendo em vista a greve de mais de 30 dias dos trabalhadores da empresa
Comissão debateu a situação dos municípios atendidos pela Copanor, tendo em vista a greve de mais de 30 dias dos trabalhadores da empresa - Foto: Guilherme Bergamini
Trabalhadores da Copasa Serviços de Saneamento Integrado do Norte e Nordeste de Minas Gerais (Copanor) lotaram o Teatro da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) para denunciar a insatisfação com a empresa no que concerne às condições de trabalho e remuneração da categoria, bem como à qualidade do serviço prestado pela companhia, subsidiária da Copasa que atende o Norte de Minas e os Vales do Jequitinhonha e do Mucuri. Os trabalhadores estão em greve há 48 dias e reclamam da falta de avanços, mesmo após cinco meses de negociações. O assunto foi debatido nesta terça-feira (13/5/14) pela Comissão de Assuntos Municipais e Regionalização.
O presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Purificação e Distribuição de Água e em Serviços de Esgotos (Sindágua-MG), José Maria dos Santos, disse que a categoria reivindica aumento do piso salarial (de R$ 850,00 R$ 1.100,00); plano de saúde e aumento do valor do vale-refeição dos atuais R$ 236,00 para R$ 300,00, sem que seja feito o desconto de 10% sobre esse benefício, como acontece atualmente.
Segundo o sindicalista, para atender todas as reivindicações dos trabalhadores, a Copanor teria um aumento mensal de R$ 50 mil em suas despesas, o que em sua avaliação é um valor pequeno, considerado o porte da Copasa. Santos também lamentou o fato de a empresa ter retirado a proposta feita por ela mesma anteriormente, de um reajuste de 5,58% sobre o salário-base, que seria uma correção estipulada com base na inflação medida pelo INPC. As más condições de trabalho, a insegurança, a falta de equipamentos, de treinamento e qualificação de pessoal também foram mencionadas por Santos como problemas enfrentados pela categoria.
José Maria dos Santos disse que a população também está insatisfeita com a Copanor
José Maria dos Santos disse que a população também está insatisfeita com a Copanor -Foto: Guilherme Bergamini
Insatisfação - Além das questões trabalhistas, o presidente do Sindágua disse que a insatisfação com a empresa parte também da população e das autoridades dos municípios e localidades atendidas pela Copanor. Ele afirmou que existem localidades com obras inacabadas e em que é feito o fornecimento de água sem tratamento. “Sabíamos que a criação de uma subsidiária não faria a universalização do saneamento”, comentou Santos. Para ele, em Minas Gerais há a separação de dois tipos de serviço em saneamento: um feito pela Copasa, nas regiões mais centrais, e outro no Norte do Estado, onde, segundo ele, “pode ser servida qualquer coisa”.
Trabalhadores denunciam descaso da empresa
As más condições de trabalho foram ilustradas por alguns trabalhadores da Copanor, entre eles André Medeiros, de Diamantina. Ele contou que um dos produtos usados para o tratamento da água é a soda cáustica, substância altamente corrosiva e prejudicial se entrar em contato com a pele. Segundo Medeiros, em certa ocasião, ele e outros colegas descarregaram o produto de um caminhão, mesmo sem ter as máscaras ou luvas para fazer o serviço, o que provocou ferimentos e queimaduras na sua pele e na dos outros trabalhadores. Ele contou que só fizeram o descarregamento, mesmo não tendo a proteção adequada, para ajudar o motorista, que estava há mais de três dias na estrada e não podia ficar com a carga no veículo. Além desse caso específico, Medeiros disse que os veículos utilizados pela Copanor são poucos e extremamente precários.
Na opinião do funcionário Manoel Messias Campos, de Turmalina, além de não oferecer uma estrutura mínima de trabalho, a Copanor não respeita o empregado e não cumpre com a função à qual se destina. Ele citou casos em que o trabalhador entra na empresa em regime de trabalho de escala, mas, na prática, cumpre jornada contínua, bem como situações em que os empregados são obrigados a comprar materiais com o próprio dinheiro, porque a empresa não os fornece.
Já Edmir Ferreira Costa, de Salinas, disse que os funcionários devem viajar diariamente longas distâncias, como no seu caso - ele percorre mais de 300 quilômetros de sua casa até a localidade onde atua. Segundo ele, os trabalhadores recebem R$ 15 por dia para alimentação, valor que ele considera insuficiente. “Todos os dias temos que inteirar do nosso bolso para nos alimentar”, reclamou.
O vereador de Itaobim e suplente de deputado estadual, Dr. Jean Freire (PT), propôs que a Assembléia Legislativa encaminhasse um requerimento a todas as Câmaras Municipais de municípios onde a Copanaor atua, propondo a formação de uma Comissão Especial para levantar a situação local do fornecimento de água e a aprovação de uma moção de apoio aos trabalhadores da Copanor. E mandou um recado para o Governo de Minas para abrir o diálogo com a categoria em greve. Finalizou, dando o recado ao Governador: "Vamos conversar?", ironizando o mote de campanha do Senador Aécio Neves.     
Funcionários da Copanor reivindicam melhorias
Degradação - O assessor parlamentar, Sérgio Marcos Cardoso, de Teófilo Otoni, também relatou problemas na atuação da Copanor no Vale do Mucuri. Segundo ele, a empresa iniciou obras em uma comunidade próxima a Teófilo Otoni, sem que fosse feito antes um planejamento de saneamento.
De acordo com o assessor, antes, a própria comunidade fazia o abastecimento da água, mas, com a chegada da Copanor, o esgoto começou a ser jogado no rio que era utilizado pelas famílias. “Essa comunidade está com obras não concluídas, não foi feita uma estação de tratamento de esgoto. As transformações foram para pior”, concluiu. Cardoso disse que foi instalada no município uma CPI da Copasa, pra investigar a cobrança da taxa de esgoto e a prestação do serviço da empresa. Segundo o assessor, hoje o esgoto do município está sendo levado para as estações de tratamento.
Sobre a questão da cobrança da taxa de esgoto, o deputado Paulo Lamac (PT) lembrou que a Assembleia vai realizar um ciclo de debates em que o assunto será debatido. Ele também lembrou que é autor do Projeto de Lei 3.725/13, que veda a cobrança da taxa em municípios em que não seja realizado o tratamento de pelo menos 85% do esgoto.
Para CUT-MG, Estado não quer negociar
Para a presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT-MG), Beatriz Cerqueira, a ausência da Copanor no debate caracteriza o perfil do Estado, de não negociar com o trabalhador. Ela também disse que o Estado não reconhece o sindicato como interlocutor e questionou a prestação de serviços deficitária que é oferecida à sociedade.
Ao falar de sua experiência nos movimentos grevistas na área da educação, a presidente da CUT disse que os trabalhadores da Copanor não podem desistir. “Quando o governo não conversa, eles querem que a gente pense que fazer uma luta coletiva não vale a pena. Mas a luta coletiva é o único instrumento capaz de trazer alguma mudança”, disse.
Deputados vão cobrar providências
Os deputados apresentaram cinco requerimentos relativos à audiência
Os deputados apresentaram cinco requerimentos relativos à audiência - Foto: Guilherme Bergamini
Os deputados Rogério Correia (PT), autor do requerimento para a audiência, Paulo Lamac, André Quintão (PT) e Tadeu Martins Leite (PMDB) apresentaram cinco requerimentos relativos à audiência. Um deles solicita à Copanor e à Governadoria do Estado abertura imediata de negociação com o Sindágua, tendo em vista a greve dos trabalhadores. Outro requerimento é para que a Copanor envie relatório sobre qualidade da água fornecida nos últimos cinco anos.
Os requerimentos tratam ainda do envio da prestação de contas e dos balanços dos últimos cinco exercícios da Copasa e Copanor, da realização de uma visita da comissão à empresa e do envio de notas taquigráficas da reunião às câmaras municipais e localidades onde a Copanor atua e também à empresa e ao governador do Estado.
Na avaliação do deputado Rogério Correia, a Copanor precisa ampliar sua área de cobertura, mas o Estado não demostra preocupação com o desenvolvimento humano. Ele lamentou a ausência de um representante da empresa na audiência e classificou a atitude como uma “opção óbvia” de não querer debater o assunto.
O deputado Tadeu Martins Leite disse que as reivindicações trabalhistas são legítimas, mas que o mais importante é que a população das cidades mais pobres do Norte de Minas e do Jequitinhonha tenham água de qualidade.
Já o deputado André Quintão afirmou que, com a Copanor, criou-se um serviço de pior qualidade para a região do Estado que mais precisava. Ele também criticou a precarização e o rebaixamento das condições de trabalho dos funcionários da Copanor. O deputado federal Weliton Prado (PT-MG) também apoiou a causa dos trabalhadores da Copanor.
Fonte: ALMG
Comunicado do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Purificação e Distribuição de Água e em Serviços de Esgotos (Sindágua-MG):
COPANOR - Empresa não quer diálogo!

sem imagem
A GREVE continua na Copanor. A direção da COPANOR insiste em não abrir o diálogo com os trabalhadores para melhorar a proposta por um Acordo Coletivo decente, e quer nos obrigar a continuar ganhando um salário mínimo para mantermos um serviço de qualidade e de extrema responsabilidade com a saúde da população.

Mesmo na audiência com tentativa de conciliação no Ministério Público do Trabalho (MPT), a Copanor mantém o NÃO como resposta as nossas reivindicações. O procurador do MPT tentou uma proposta conciliatória, apresentada a empresa através de telefone pelo seu preposto e advogado presente na reunião. Mas a resposta continuou a ser um NÃO e esta proposta nem chegou a ser apresentada aos trabalhadores. 

O SINDÁGUA busca uma reunião com o governador de Minas, Alberto Pinto Coelho, através de secretários de Estado e deputados, para que uma posição mais sensível aos problemas enfrentados na Copanor.

A COPANOR, subsidiária da COPASA, dirigida pelos mesmos dirigentes da COPASA, entende que devemos continuar trabalhando com um tratamento como se fossemos escravos, com uma exploração desumana, com salários aviltantes e completa falta de condições de trabalho. 

Para exigirmos condições de trabalho decente, além de lutarmos por respeito a população que precisa de um trabalho de qualidade no saneamento, somos levados a manter nossa mobilização.

Companheiros, sabemos das grandes dificuldades e sacrifício para mantermos este movimento justo. A vitória nesta luta beneficiará os trabalhadores, as populações dos municípios assistidos com os serviços de saneamento e a própria Copanor, que receberia o respeito e melhoraria sua imagem de prestadora de serviços públicos.


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