terça-feira, 24 de setembro de 2013

O que é que o futebol mineiro tem?

Atlético-MG, campeão da Libertadores, e Cruzeiro, líder do torneio nacional, têm times fortes, boa estrutura e dão lições de gestão

Ezequiel Fagundes, no O Globo, em 21.09.13

Jô e Ronaldinho, duas das armas do Atlético-MG Foto: Divulgação / Atlético-MG

Jô e Ronaldinho, duas das armas do Atlético-MG Divulgação / Atlético-MG
BELO HORIZONTE - Se estivesse vivo, o escritor Otto Lara Resende (1922-1992) seria incentivado, pelo que vem acontecendo nos campos de futebol, a rever sua máxima: “Minas está onde sempre esteve”. Na bola, a terra do pão de queijo pode chegar a lugares inéditos neste 2013, com o Atlético campeão da Libertadores e o Cruzeiro na liderança do Campeonato Brasileiro, sete pontos à frente do segundo colocado, o Botafogo. E o ano pode terminar com o alvinegro do estado simplesmente campeão do mundo, no torneio que será disputado no Marrocos, onde o grande adversário será o Bayern de Munique.

Na quarta-feira, o Mineirão lotado assistiu à cristalização do Cruzeiro como favorito destacado ao título nacional, na vitória por 3 a 0 sobre o Botafogo. Depois da vitória na competição continental, o Atlético usa o Brasileiro como uma pré-temporada para o Mundial. Um e outro jogam em estádios novos, lotados, numa permanente lua de mel com a torcida. Para completar, ainda colecionam jogadores que, enjeitados em outras praças, brilham nas suas equipes.
Arquirrivais dentro do campo, os dois clubes adotaram a mesma estratégia fora dele para brigar de frente com os grandes do eixo Rio-São Paulo: investimentos financeiros em infraestrutura e no departamento de futebol. Especula-se que são necessários R$ 10 milhões por mês para custear a folha de pagamento da dupla.
Com 61 jogadores (33 do Atlético e 28 do Cruzeiro), os dois mesclam atletas consagrados e renegados. Caros e conhecidos, os atacantes Borges e Dagoberto são considerados reservas de luxo no elenco cruzeirense, que tem como titulares absolutos os antes desconhecidos atacantes Luan e Vinícius Araújo. O Atlético tem Diego Tardelli e Fernandinho, ex-São Paulo, como dois nomes de sucesso.
Mas os melhores são os craques renascidos. É o caso de Jô, que fracassara no Internacional, e no Atlético chegou à seleção; de Egídio, lateral-esquerdo que jamais conseguiu se firmar no Flamengo, onde começou, e hoje é titular do Cruzeiro, assim como Nilton, volante desimportante em outras equipes; e, mais do que qualquer outro, de Ronaldinho Gaúcho, que saiu enxotado do Flamengo.
Os dois são dirigidos também por apostas, no lugar de nomes consagrados. No Atlético, Cuca enterrou a fama de azarado, com a conquista da Libertadores. No Cruzeiro, Marcelo Oliveira (ex-craque do clube) vive seu primeiro sucesso como técnico.
O BMG, do banqueiro Ricardo Guimarães, é o patrocinador principal das duas camisas. Ex-presidente do Galo, Guimarães fez seu sucessor, o empreiteiro Alexandre Kalil. O Cruzeiro é dirigido pelo advogado Gilvan Tavares, ligado à família Perrella, dos irmãos Zezé e Alvimar, senador e empresário do ramo de alimentação, respectivamente, que comandaram o clube durante anos.

Além do aporte financeiro do BMG, direitos de imagens da TV, programa de sócio-torcedor, venda de produtos e a renda dos estádios completariam os ganhos dos dois clubes. Não há confirmação oficial, mas o maior salário do futebol mineiro seria o de Ronaldinho. O camisa 10 do Galo tem rendimentos que oscilam entre R$ 600 mil e R$ 900 mil mensais, incluindo propagandas. Já os cruzeirenses Dedé (comprado ao Vasco por cerca de R$ 15 milhões), e Julio Baptista, ex-Málaga, receberiam em torno de R$ 500 mil mensais cada um.
Centros de treinamentos
Além de possuírem ótimos centros de treinamento — Cidade do Galo e Toca da Raposa I e II —, os dois grandes de Minas contam ainda com modernos estádios. Reconstruídos para as copas das Confederações e do Mundo, o Mineirão, na Pampulha, e o Independência, no Horto, custaram juntos cerca R$ 850 milhões ao erário. O primeiro, que receberá jogos do Mundial, consumiu cerca de R$ 700 milhões, via PPP com recursos do BNDES. No outro, que será usado como campo de treinamento para seleções, o desembolso pelo governo mineiro chegou a R$ 150 milhões.
Valeu a pena. Em seus domínios, os dois são praticamente imbatíveis. Foram 19 vitórias do Cruzeiro no Mineirão e apenas um empate, diante do Santos. Já o Atlético, desde abril de 2012, perdeu só uma vez, para seu xará do Paraná. A derrota foi atribuída à ressaca da maior vitória da história do clube, por ter acontecido um dia após à festa da conquista inédita da Libertadores.
Outra explicação para a boa fase está na capacidade dos dirigentes dos dois clubes de materializarem bons negócios. Enquanto o Corinthians investiu R$ 40 milhões para comprar 60% dos direitos federativos do atacante Alexandre Pato, o Cruzeiro pagou menos de R$ 4 milhões pelo meia-atacante Everton Ribeiro, um dos pilares do time. O Atlético reforçou o caixa com a venda de Bernard para o futebol russo, por R$ 80 milhões.
Diretor de futebol do Cruzeiro, que investiu entre R$ 35 milhões e R$ 40 milhões para montar seu elenco, Alexandre Matos diz:
— O Cruzeiro se qualificou em todas as áreas, temos situações importantes como a do Mineirão, bons acordos comerciais, de marketing e um sócio torcedor com vários planos para oferecer — lista, revelando que a expectativa de arrecadação com os sócios-torcedores e a bilheteria, a partir da reabertura do Mineirão, subiu para R$ 40 milhões.
Fanático pelo Atlético, o empresário Vinícius Luciano credita o sucesso ao trabalho da atual diretoria.
— Atraímos investidores. Mantivemos o treinador do ano passado e contratamos ótimos reforços — festeja ele, confirmando que Minas está batendo um bolão. 
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