terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Diamantina: Obras de Niemeyer abandonadas


Obras de arquitetura se deteriorando na terra de JK

Dalva Lages Ferreira, de 66 anos, cresceu andando pelas ruas de capistranas (calçamento com grandes lajes de quartzito) de Diamantina, no Vale do Jequitinhonha, declarada Patrimônio Cultural da Humanidade. Ela adorava participar dos bailes ao ar livre no Clube Social, inaugurado em 1950. Este foi o primeiro projeto modernista assinado por Oscar Niemeyer em meio à arquitetura colonial da terra de Juscelino Kubitschek.

Há mais de cinco décadas, Dalva frequenta outro imóvel projetado em Diamantina por Niemeyer, que morreu no último dia 5, aos 104 anos. Ela foi aluna, deu aulas e atualmente é supervisora na Escola Estadual Professora Júlia Kubitschek.

Assim como o Clube Social, o prédio da instituição de ensino é tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Mas a realidade dos dois espaços públicos é muito diferente.

Inaugurada em 1954, a escola passou por pelo menos três reformas, a maior em 1987. Já o Clube Social é o retrato do abandono. 

Incorporada a uma praça de esportes, a edificação teve os vidros originais substituídos por paredes. Há fiação elétrica e ferragens expostas, infiltrações, pichações e muito mato. As grades de proteção, no segundo piso, estão retorcidas.

De Gala 
“Morava próximo ao clube e acompanhava as festas da sociedade diamantinense. Eram bailes de gala e eu gostava de desfilar entre as pessoas. Agora, está um horror. Temos que aproveitar esse momento para cobrar a revitalização desse patrimônio”, diz a supervisora escolar.

A principal marca de Niemeyer no imóvel são os arcos revestidos de pastilhas, que dão sustentação à cobertura.

Após muito tempo abandonado, alvo de vândalos e servindo inclusive como ponto de uso de drogas, o prédio do antigo clube passou a ser alugado pela Prefeitura de Diamantina para o funcionamento de uma academia de ginástica. “Quando chove forte, a laje encharca e dá muita goteira. Precisei mexer em toda a rede elétrica e de esgoto”, afirma Adílson José Oliveira Horta, atual dono da academia.

Ele coordena, no local, projetos sociais na área de esportes. “Se não fosse a manutenção para o funcionamento da academia, as condições da edificação estariam muito piores”, reconhece o engenheiro civil Carlos Emanuel Lopes Ferreira, da Coordenadoria Municipal de Projetos.

Inveja 
Na Escola Júlia Kubitschek, parte da fachada é de vidros. Há paredes vazadas, para a entrada de ar e iluminação, e a marquise cobre apenas a entrada do imóvel, tornando a fachada mais plástica. “Quando vim estudar aqui, aos 10 anos, fazia inveja em minhas irmãs, dizendo que eu era do Júlia e elas de outra escola. Era o sonho de toda criança na década de 50”, lembra Dalva.

Mudanças 
Como funcionária, ela acompanhou algumas mudanças no prédio. Por causa de trincas e outros problemas estruturais, colunas tiveram de ser construídas dentro do imóvel.

Elas têm o formato oval, copiando as desenhadas pelo arquiteto no projeto original, que também são revestidas de pastilhas. Banheiros viraram sala de aula e outros foram construídos.

Para evitar acidentes, a rampa de acesso ao segundo andar ganhou piso antiderrapante e grade de proteção. “As mudanças foram autorizadas pelo Niemeyer”, afirma.

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