terça-feira, 19 de junho de 2012

O PT virou história




João Gualberto Jr.
Publicado no Jornal OTEMPO em 19/06/2012

O PT virou história
Lula, o animal político, voltou revigorado do câncer. Talvez se trate de uma questão que, em economia, conceitua-se demanda reprimida. Em razão do tratamento, foi obrigado a ficar calado e em repouso.Agora, clinicamente curado, ele dá vazão a seu melhor elã, e oportunamente. A doença e todos os votos de restabelecimento que recebeu - inclusive de celebridades internacionais - deram ao ex-presidente uma auréola mística, mais luminosa do que qualquer outra que julgava sustentar antes.

Quando estadistas evidenciam-se mais do que os partidos que integram e quando suas plataformas político-administrativas assumem um caráter tão personalista, esses atores são alçados à condição de mito. Na história, entram no formato de verbetes, como a era Thatcher, a doutrina Mitterrand, a doutrina Truman, o Getulismo ou até o Brizolismo.

"O PT ficou menor do que o Lula", analisa o cientista político Rudá Ricci, um dos primeiros a cunhar o termo "lulismo". Sim, leitor, esse conceito já existe, como se, agora, assistíssemos à história sendo construída. O professor, que acompanhou, em São Paulo, o nascimento das movimentações que viriam a amalgamar o PT, avalia que sua estrela principal: fez de seu rosto a marca da instituição; estrangula politicamente e deixa à míngua correntes internas dissidentes; e conduz com mão de ferro todas as articulações relacionadas ao projeto nacional de poder.

A maneira como Lula vem tocando as negociações municipais, nas duas últimas semanas, só corrobora essa análise. Ela faz recordar o discurso de algumas alas petistas, tanto em Belo Horizonte quanto em outras capitais, de que o partido respira democracia e todas as decisões são tomadas de baixo para cima, originadas dessa entidade (também mágica) denominada base. Que santa lorota.

Deixemos que a imagem de Lula com Maluf fale por si. Convém mesmo é comentar o processo em Recife. Como é possível um prefeito, candidato à reeleição, ao que consta popular e, portanto, um projeto político considerável, ser sacado do páreo? É o caso de João da Costa, que é petista e promete levar a luta por sua candidatura até à Justiça se for preciso. Entretanto, um afago e uma conversa mais franca, no tom certo e na rouquidão exata, podem convencê-lo do contrário. A avaliação nacional (entenda-se lulista) é a preponderância do arranjo nacional com o PSB do governador Eduardo Campos, desafeto do atual prefeito.

Internamente, pode-se até discordar de posições tramadas por Lula. Contudo, tem-se a impressão de que a figura dele, hoje, é o único consenso que restou na legenda, de cuja origem histórica - a abertura política e a popularização do poder - está a cada processo sucessório mais distanciado. Quem é o maior culpado por essa fragmentação incontornável? Ora, virtudes e defeitos não distinguem paternidade.
joaogualberto@otempo.com.br

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