sábado, 13 de maio de 2017

13 poesias em homenagem às Mães

A criação artística na literatura, música e artes plásticas tenta mostrar e transmitir o amor materno.
"Louise amamentando seu filho", da pintora impressionista americana Mary Cassatt (1844-1926). Ela criou diversas imagens da vida social e privada das mulheres, enfatizando o relacionamento entre mães e filhos.

O amor é que move a vida. Este é o sentimento que ganhou mais destaque entre poetas e artistas ao longo de nossa história. Entre todas as formas de amar, o amor de mãe é o mais contundente, um amor literalmente visceral.
O Dia das Mães é comemorado no Brasil a cada segundo domingo de maio, mas em outras culturas as mães também são lembradas. Embora tenha adquirido uma conotação um tanto quanto comercial, a data é um bom momento para pensarmos nas relações entre pais e filhos, certamente um dos temas mais explorados na Literatura universal. 
O Blog do Banu selecionou 13 poemas em prosa e versos sobre o sentimento maternal. Assim, saboreie as poesias de Carlos Drummond de Andrade, Cora Coralina, Mario Quintana, Antero de Quental, Vinicius de Moraes, Coelho Neto, Chico Xavier e outros.
"O mais sublime entre todos os sentimentos, um dos mais versados e lembrados na Literatura e nas artes plásticas, o amor de mãe, que transcende e faz transcender, viu na arte sua representação perfeita. Figura que dá contornos e cores ao mundo, alheias às datas convencionadas no calendário, mundo afora as mães seguem seu ofício de amar e educar todos os dias". 
"A noite dos pobres", de Diego Rivera (1886-1957) que retratou em diversos murais as desigualdades sociais do seu país. Diego foi um artista plástico mexicano, um dos mais importantes pintores do “Muralismo Mexicano”.
Para Sempre 
Carlos Drummond de Andrade, poeta mineiro (1902-1987)

Por que Deus permite
que as mães vão-se embora?
Mãe não tem limite,
é tempo sem hora,
luz que não apaga
quando sopra o vento
e chuva desaba,
veludo escondido
na pele enrugada,
água pura, ar puro,
puro pensamento.
Morrer acontece
com o que é breve e passa
sem deixar vestígio.
Mãe, na sua graça,
é eternidade.
Por que Deus se lembra
- mistério profundo -
de tirá-la um dia?
Fosse eu Rei do Mundo,
baixava uma lei:
Mãe não morre nunca,
mãe ficará sempre
junto de seu filho
e ele, velho embora,
será pequenino
feito grão de milho.

Tela de Marina Jardim, artista plástica de Rubim, no Vale do Jequitinhonha.

Mãe
Cora Coralina, poetisa goiana (1889-1985).

Renovadora e reveladora do mundo
A humanidade se renova no teu ventre.
Cria teus filhos,
não os entregues à creche.
Creche é fria, impessoal.
Nunca será um lar
para teu filho.
Ele, pequenino, precisa de ti.
Não o desligues da tua força maternal.

Que pretendes, mulher?
Independência, igualdade de condições...
Empregos fora do lar?
És superior àqueles
que procuras imitar.
Tens o dom divino
de ser mãe
Em ti está presente a humanidade.

Mulher, não te deixes castrar.
Serás um animal somente de prazer
e às vezes nem mais isso.
Frígida, bloqueada, teu orgulho te faz calar.
Tumultuada, fingindo ser o que não és.
Roendo o teu osso negro da amargura.

"Mãe e filho", de Claude Monet (1840-1926), o mais célebre pintor impressionista francês. 


MÃE...
Mário Quintana, poeta gaúcho, (1906-1994)

São três letras apenas,
As desse nome bendito:
Três letrinhas, nada mais...
E nelas cabe o infinito
E palavra tão pequena
Confessam mesmo os ateus
És do tamanho do céu
E apenas menor do que Deus!


Ser Mãe
de Coelho Neto *


Ser mãe é desdobrar fibra por fibra
o coração! Ser mãe é ter no alheio
lábio que suga, o pedestal do seio,
onde a vida, onde o amor, cantando, vibra.

Ser mãe é ser um anjo que se libra
sobre um berço dormindo! É ser anseio,
é ser temeridade, é ser receio,
é ser força que os males equilibra! 
Todo o bem que a mãe goza é bem do filho,
espelho em que se mira afortunada,
Luz que lhe põe nos olhos novo brilho! 
Ser mãe é andar chorando num sorriso!
Ser mãe é ter um mundo e não ter nada!
Ser mãe é padecer num paraíso!


* Coelho Neto, professor, político, romancista, contista, crítico, teatrólogo, memorialista e poeta brasileiro, nasceu em 21.02.1864, e faleceu em 28.11.1934.

"Mãe e filho", de Mary Cassat (1844-1926), pintora impressionista americana.


MÃE

Vinicius de Morais, poeta brasileiro (1913-1980)

Minha mãe, minha mãe, eu tenho medo
Tenho medo da vida, minha mãe.
Canta a doce cantiga que cantavas
Quando eu corria doido ao teu regaço
Com medo dos fantasmas do telhado.
Nina o meu sono cheio de inquietude
Batendo de levinho no meu braço
Que estou com muito medo, minha mãe.
Repousa a luz amiga dos teus olhos
Nos meus olhos sem luz e sem repouso
Dize à dor que me espera eternamente
Para ir embora. Expulsa a angústia imensa
Do meu ser que não quer e que não pode
Dá-me um beijo na fronte dolorida
Que ela arde de febre, minha mãe.

Aninha-me em teu colo como outrora
Dize-me bem baixo assim: — Filho, não temas
Dorme em sossego, que tua mãe não dorme.
Dorme. Os que de há muito te esperavam
Cansados já se foram para longe.
Perto de ti está tua mãezinha
Teu irmão, que o estudo adormeceu
Tuas irmãs pisando de levinho
Para não despertar o sono teu.
Dorme, meu filho, dorme no meu peito
Sonha a felicidade. Velo eu.

Minha mãe, minha mãe, eu tenho medo
Me apavora a renúncia. Dize que eu fique
Dize que eu parta, ó mãe, para a saudade.
Afugenta este espaço que me prende
Afugenta o infinito que me chama
Que eu estou com muito medo, minha mãe.

"Camile Monet e seu filho no jardim", de Claude Monet (1840-1926). Camille Monet foi a primeira esposa de Claude Monet, fundador do impressionismo francês. Na tela, Monet a retratou com seu filho, Jean.


Mãe
Abílio Barreto, poeta mineiro (1883-1957)

Lembra-me, Mãe querida, a glória que me deste,
A alegria do lar no lençol de cravinas,
A mesa, o livro, o pão e as canções cristalinas,
As preces de ninar, no humilde berço agreste.

Ao perder-te, no mundo, o carinho celeste,
Vendo-te as mãos em cruz, quais flores pequeninas,
Fui chorar-te, debalde, ao pé das casuarinas,
Buscando-te a presença entre a lousa e o cipreste!...

Entretanto, do Além, caminhavas comigo,
Vinhas, a cada passo, anjo piedoso e amigo,
Guardar-me o coração na fé radiante e calma.

E, quando a morte veio expor-se à noite escura,
Solucei de alegria, em preces de ternura,
Em te revendo a luz, conduzindo minha’alma!...

Ser mãe...
J. G. de Araújo Jorge, poeta brasileiro (1914-1987)
Quando todos te condenem
quando ninguém te escutar,
ela te escuta e perdoa,
pois ser mãe – é perdoar!

Quando todos te abandonem
e ninguém te queira ver,
ela te segue e procura
pois ser mãe – é compreender!

Quando todos te negarem
um pão, um beijo, um olhar,
ela te ampara e acarinha
pois ser mãe – sempre é se dar!


"Amamentando", pintura de Gildásio Jardim, artista plástico de Padre Paraíso, no Vale do Jequitinhonha, nordeste de Minas. 


Mãe
Antero de Quental , poeta do romantismo português(1842-1891)

Mãe - que adormente este viver dorido,
E me vele esta noite de tal frio,
E com as mãos piedosas até o fio
Do meu pobre existir, meio partido...

Que me leve consigo, adormecido,
Ao passar pelo sítio mais sombrio...
Me banhe e lave a alma lá no rio
Da clara luz do seu olhar querido...

Eu dava o meu orgulho de homem - dava
Minha estéril ciência, sem receio,
E em débil criancinha me tornava,

Descuidada, feliz, dócil também,
Se eu pudesse dormir sobre o teu seio,
Se tu fosses, querida, a minha mãe!

“O amor de mãe por seu filho é diferente de qualquer outra coisa no mundo. Ele não obedece lei ou piedade, ele ousa todas as coisas e extermina sem remorso tudo o que ficar em seu caminho”.
Agatha Christie, escritora e poetisa britânica (1890-1976)

Quando você é mãe, você nunca está realmente sozinha em seus pensamentos. Uma mãe sempre tem que pensar duas vezes, uma por ela e outra por seu filho”
Sophia Loren, atriz italiana, (1934-     )


Ser mãe
Letícia Thompson, poetisa capixaba (1964-       )

Ser mãe dói.


Dói quando o filho nasce e ela se pergunta como vai saber educar. Dói quando, tendo o futuro todo pela frente, ela se sente perdida, como se o mundo não tivesse continuação. Dói quando filho chora de noite e ela não sabe bem como acalmá-lo. Ela aprende, então, a interpretar cada choro pra entender seu bebê.



Ser mãe dói quando filho fica doente e ela quer trocar de lugar com ele e não pode. Dói quando ela não sabe o que fazer.



Ser mãe dói quando filho não quer começar a escola e ela precisa fazer um esforço sobrenatural para não chorar e deixá-lo começar a vida de gente grande. Ela chora escondido depois. Mas dói também, quando, deixando o filho na escola, ele dá um sorriso e diz adeus. Dói sentir que ele desprega-se, solta-se, torna-se independente. Como dói!!!



Ser mãe dói quando filho tem problemas na escola e ela precisa ouvir com naturalidade as queixas. Dói a adolescência, as questões existenciais.

Deve doer demais ver um filho indo para a guerra. Deve doer imensamente ver filho seguindo caminhos diferentes dos que julgamos corretos. Mãe que vê filho sofrendo, sofre dobrado.

Ser mãe é uma missão que dói a vida inteira.

Ser mãe é ter a dádiva do dar. Ela planta e sabe que não é pra ela.

Jesus também teve mãe. E deve ter doído nela mais que em qualquer outra mulher do mundo.

Uma mãe é uma ponte entre os céus e a terra. É o ser escolhido por Deus, certamente o mais bendito de toda a criação, para que a terra se encha e se multiplique.

Ser mãe dói sim. Mas engrandece também. A medida da dor é também a medida da alegria de ver filho feliz.

A maternidade é a corôa de toda mulher. De espinhos... mas de flores também!

Benditas sejam todas as mães do mundo!!!

"Amamentação", escultura em cerâmica, de Dona Isabel Mendes (1924-2014), de Santana do Araçuaí, em Ponto do Volantes, no Vale do Jequitinhonha, nordeste de Minas.


Pietá (1498-1499), de Michelângelo. Traduzido como "piedade",  a obra representa Jesus morto nos braços da Virgem Maria.

ORAÇÃO DE MÃE
Chico Xavier, espírita brasileiro (1909-2002)

Deus de Infinita Bondade!

Puseste astros no céu e colocaste flores na haste agressiva... A mim deste os filhos e, com os filhos, me deste o amor diferente, que me rasga as entranhas, como se eu fosse roseira espinhosa, que mandasse carregar uma estrela!...

Aceitaste minha fragilidade a teu serviço, determinando que eu sustente com a maternidade o mandato da vida; entretanto, não me deixes transportar, sozinha, um tesouro assim tão grande! Dá-me forças, para que te compreenda os desígnios; guia-me o entendimento, para que a minha dedicação não se faça egoísmo; guarda-me em teus braços eternos, para que o meu sofrimento não se transforme em cegueira.

Ensina-me a abraçar os filhos das outras mães, com o carinho que me insuflas no trato daqueles de que enriqueceste minh’Alma!


Faze-me reconhecer que os rebentos de minha ternura são depósitos de tua bondade, consciências livres, que devo encaminhar para a tua vontade e não para os meus caprichos. Inspira-me humildade para que não se tresmalhem no orgulho por minha causa. 

Concede-me a honra do trabalho constante, a fim de que eu não venha precipitá-los na indolência. Auxilia-me a querê-los sem paixão e a servi-los sem apego. Esclarece-me para que eu ame a todos eles com devotamento igual.

No entanto, Senhor, permite-me inclinar o coração, em teu nome, por sentinela de tua bênção, junto daqueles que se mostrarem menos felizes!... Que eu me veja contente e grata se me puderem oferecer mínima parcela de ventura, e que me sinta igualmente reconhecida se, para afagá-los, for impelida a seguir nos caminhos do tempo, sobre longos calvários de aflição!...

E, no dia em que me caiba entregá-los aos compromissos que lhes reservaste, ou a restituí-los às tuas mãos, dá que, ainda mesmo por entre lágrimas, possa eu dizer-te, em oração, com a obediência da excelsa Mãe de Jesus:

"Senhor, eis aqui tua serva! Cumpra-se em mim, segundo a tua palavra!...

"Mãe e filha", escultura em cerâmica de Maria José Gomes da Silva, a Zezinha, de Campo Buriti, em Minas Novas , no Vale do Jequitinhonha, nordeste de Minas.

Mãezinha
Florbela Espanca, poetisa portuguesa, (1894-1930)

Andam em mim fantasmas, sombras, ais...
Coisas que eu sinto em mim, que eu sinto agora;
Névoas de dantes, dum longínquo outrora;
Castelos de ouro em mundos irreais...

Gotas d'água tombando... Roseirais
A desfolhar-se em mim como quem chora...
— E um ano vale um dia ou uma hora,
Se tu me vais fugindo mais e mais!...



Criação de Gildásio Jardim, a partir de uma foto. Gildásio é artista plástico de Padre Paraíso, no Vale do Jequitinhonha, nordeste de Minas. 


Antes de ser mãe

Patricia Vaughan, professora, crítica literária e poetisa pós-modernista inglesa ( 1956-       )

Antes de ser mãe eu fazia e comia os alimentos ainda quentes.
Eu não tinha roupas manchadas.
Eu tinha calmas conversas ao telefone.

Antes de ser mãe eu dormia o quanto eu queria e nunca me preocupava com a hora de ir para a cama.
Eu não me esquecia de escovar os cabelos e os dentes.

Antes de ser mãe eu limpava minha casa todo dia.
Eu não tropeçava em brinquedos nem pensava em canções de ninar.

Antes de ser mãe eu não me preocupava se minhas plantas eram venenosas ou não.
Imunizações e vacinas eram coisas em que eu não pensava.

Antes de ser mãe ninguém vomitou nem fez xixi em mim, nem me beliscou sem nenhum cuidado, com dedinhos de unhas finas.

Antes de ser mãe eu tinha controle sobre a minha mente, meus pensamentos, meu corpo e meus sentimentos....
Eu dormia a noite toda...

Antes de ser mãe eu nunca tive que segurar uma criança chorando para que médicos pudessem fazer testes ou aplicar injeções.
Eu nunca chorei olhando pequeninos olhos que choravam.
Eu nunca fiquei gloriosamente feliz com uma simples risadinha.
Eu nunca fiquei sentada horas e horas olhando um bebê dormindo.

Antes de ser mãe eu nunca segurei uma criança só por não querer afastar meu corpo do dela.
Eu nunca senti meu coração se despedaçar quando não pude estancar uma dor.
Eu nunca imaginei que uma coisinha tão pequenina pudesse mudar tanto a minha vida.
Eu nunca imaginei que pudesse amar alguém tanto assim.
Eu não sabia que eu adoraria ser mãe.

Antes de ser mãe eu não conhecia a sensação de ter meu coração fora do meu próprio corpo.
Eu não conhecia a felicidade de alimentar um bebê faminto.
Eu não conhecia esse laço que existe entre a mãe e a sua criança.
Eu não imaginava que algo tão pequenino pudesse fazer-me sentir tão importante.

Antes de ser mãe eu nunca me levantei à noite a cada 10 minutos para me certificar de que tudo estava bem.
Nunca pude imaginar o calor, a alegria, o amor, a dor a satisfação de ser uma mãe.
Eu não sabia que era capaz de ter sentimentos tão fortes.

Por tudo e, apesar de tudo, obrigada Deus, por eu ser agora um alguém tão frágil e tão forte ao mesmo tempo.
Obrigada Deus por permitir-me ser Mãe!
"Before I Was a Mother" de Patricia Vaughan
Traduzido pelo poeta brasileiro Affonso Romano de Sant'Anna.



"Afeto", de Augusto Higa ( 1946-     ), arquiteto e artista plástico peruano.


Ser mãe é dureza

Inezita Barroso (1925-2015). Foi uma cantora, compositora, defensora da musica caipira brasileira.


Ser mãe é desdobrar fibra por fibra o coração É não pregar o olho a noite inteira no serão É andar na correria preparando mamadeira Ao som de uma tremenda choradeira É fralda toda noite todo dia pra trocar Porém na poesia esqueceram de contar Ser mãe é muito bom para um poeta inocente Mas ele se quiser que experimente Ir ao cinema já perdi a esperança Não tenho em casa uma babá de confiança E tome fralda e mamadeira pra lavar Enquanto papaizinho vai pra rua passear Pra meu castigo, meu consolo vejam só Um belo dia sou chamada de vovó Mas a verdade é prova de juízo A gente por vontade padecer num paraíso.

"Bicicleta encantada", de Gildásio Jardim.

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