segunda-feira, 20 de maio de 2013

Livro registra experiências de vivência e convivência com a água como parte da cultura do Vale do Jequitinhonha

Pesquisadores revelam como lavradores do Jequitinhonha gerenciam a escassez de água
capa%20livro%20lavradores.jpgAfetadas de formas diferentes pela escassez cíclica de água, 
comunidades rurais no Alto do Jequitinhonha, no Nordeste de 
Minas, criaram estratégias – produtivas e políticas – para lidar 
com a situação. Lógicas de consumo, critérios de prioridade e 
técnicas de administração comunitária de abastecimento e 
acesso às fontes compõem o repertório de gestão da escassez.

Estudos que exploram a relação desses agricultores com a água 
estão reunidos no livro Lavradores, águas e lavouras: estudos 
sobre gestão camponesa de recursos hídricos no Alto Jequitinhonha, 
recém-lançado pela Editora UFMG. A coletânea de artigos analisa, 
sob diferentes ângulos, os dilemas originados da tensão entre 
consumo, conservação e regulação da água em comunidades camponesas.

“Esses estudos mostram que existem singularidades locais, regionais e nacionais. 
E que é preciso transformar cada particularidade de uso, gestão e conhecimento na 
base da norma geral de regulação das águas”, explica a professora do Instituto de 
Ciências Agrárias (ICA) da UFMG Flávia Maria Galizoni, organizadora da obra.

Flávia trabalhou no CAMPOVALE, ONG com sede em Minas Novas, morando na cidade 
de 1997 a 2003.

De acordo com a pesquisadora, as populações rurais e seus sistemas locais de acesso 
à água inspiram reflexões fundamentais: “Devemos discutir sobre a quem pertence a 
água, quais as prioridades de uso e como ela deve ser distribuída e partilhada”.

Enfrentamento
A coletânea resulta de trabalho que uniu o Núcleo de Pesquisa e Apoio à Agricultura 

Familiar (Núcleo PPJ), da UFMG, o Centro de Agricultura Alternativa Vicente Nica (CAV), 
de Turmalina, no Alto Jequitinhonha, e o Centro de Voluntariado Internacional (Cevi). 

Essas organizações se viram frente a frente com o tema da água por iniciativa de 
comunidades que, desde o final dos anos 1990, tiveram que lidar com a escassez mais 
crítica.
“As nascentes secavam, as águas minguavam e o abastecimento já era feito, em parte, 
por carros-pipa. As famílias, então, se organizaram e articularam apoio externo para 
compreender a situação”, conta Flávia Galizoni.

A obra começa apresentando a realidade no Alto Jequitinhonha e a rede que envolve 
comunidades rurais, organizações sociais e universidade. “Esta primeira parte mostra 
como as comunidades desenvolveram tecnologias para lidar com a água, e os ensinamentos 
desse esforço, além de abordar inovações metodológicas na relação entre academia e 
organizações civis”, salienta Flávia Galizoni, que é doutora em Ciências Sociais pela 
Unicamp.

Capítulos seguintes contêm etnografias e estudos técnicos que sintetizam aprendizados 
de quase 14 anos sobre aspectos como alterações na dinâmica da água e organização do 
trabalho familiar a partir da disponibilidade hídrica.

A obra trata também de experiências que uniram comunidades, ONGs e pesquisadores – 
como as de conservação comunitária de nascentes – e de conhecimentos acumulados 
por universidades e projetos de cooperação internacional. Além de pesquisadores da 
UFMG e de outras universidades, os artigos são assinados por agricultores e profissionais 
ligados a organizações civis.

Em texto de introdução ao livro, Flávia Galizoni lembra que, para boa parte da população 
rural brasileira, “a partilha da água é mais que um aspecto de regulação: é parte 
fundamental de sua cultura”. Por isso, é crucial, segundo ela, compreender as formas pelas 
quais as famílias e comunidades aliam costumes e necessidades para usar, regular, distribuir 
e conservar a água.

Livro: Lavradores, águas e lavouras: estudos sobre gestão camponesa de recursos 
hídricos no Alto Jequitinhonha
Organizado por Flávia Maria Galizoni
Editora UFMG
254 páginas/R$ 42 (preço sugerido)

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