Monte Formoso vive choque de civilização
Fernando Travaglini, do Jornal Valor Econômico-28/12/2009
Banco, asfalto, esgoto. Nos últimos dois anos Monte Formoso, no Médio Jequitinhonha, viveu um verdadeiro choque de civilização. Com o segundo pior IDH do estado, 0,570 - atrás apenas de Setubinha -, o município está localizado no extremo norte de Minas, no chamado baixo Jequitinhonha, região que já recebeu o epíteto de Vale da Fome.
O PIB per capita é de R$ 2,9 mil e a produção local foi de R$ 13,68 milhões em 2007, segundo o IBGE.
A maior receita vem do Fundo de Participação dos Municípios, R$ 3,68 milhões.
A vegetação é baixa, meio cerrado, com mata fechada. O bioma é de Mata Atlântica, ou o que restou dela nesse trecho, antes habitado pelos temidos índios botocudos.
De cultivo difícil, a principal atividade do município é a pecuária leiteira. Existem 793 pequenos produtores, bem mais do que os 235 agricultores familiares indicados pelo censo agropecuário de 1996.
A grande dificuldade para os pequenos produtores é a falta de refrigerador para conservar o leite até a chegada dos caminhões dos laticínios. Poucos têm.
Um deles é Valdomiro Rodrigues dos Santos, antigo coronel da região. "Boa tarde, sr. Valdomiro, muito prazer em conhecê-lo", ouve com olhar atento enquanto tira o chapéu. "Obrigado pela reverência", responde, saudoso dos tempos em que sua presença causava um misto de temor e respeito.
Ele voltava do velório de dona Angélica, senhora de 66 anos que morreu de "colapso". Depois das condolências, subiu na sua caminhonete Mitsubishi, ano 2002, e seguiu para casa, uma das maiores e mais bem cuidadas da cidade.
Azulejada de fora a fora, exibe uma mobília mais próxima das casas de fazenda. Na sala, uma TV de 29 polegadas e fotos dos filhos e muitas lembranças religiosas acompanham os quatro quadros com as comendas de vereador.
O mais antigo é de 1976, quando concorreu pela Arena e somou 524 votos. O mais recente, pelo PMDB, é de 2002, quando teve 123 votos.
Com a camisa um pouco gasta, a calça não tão alinhada e sandálias, Valdomiro caminha pelo jardim onde mantém o refrigerador, atual fonte de renda. Fala com orgulho dos 400 hectares que diz ter na região. "Deus confiou esse pedacinho de terra pra eu cuidar." Na verdade quem cuida são dois vaqueiros de confiança: Agileu e Silvam tiram o leite revendido a um laticínio na vizinha Comercinho. "Do córrego pra lá é tudo meu", diz apontado para um morro alto. "Daqui pra lá é desse povo aí."
Esse povo aí é uma das comunidades mais pobres da região. São quatro casas cercadas por pequenas roças. Em uma delas, moram Rivaldo Ferreira, a mulher, Taila, e os três filhos. "A vida é doída", diz a moça. Ela é um exemplo de que o banho de civilização por que vem passando a região não eliminou o problema da miséria, que se repete por quase toda a zona rural.
Fernando Travaglini, do Jornal Valor Econômico-28/12/2009
Banco, asfalto, esgoto. Nos últimos dois anos Monte Formoso, no Médio Jequitinhonha, viveu um verdadeiro choque de civilização. Com o segundo pior IDH do estado, 0,570 - atrás apenas de Setubinha -, o município está localizado no extremo norte de Minas, no chamado baixo Jequitinhonha, região que já recebeu o epíteto de Vale da Fome.
O PIB per capita é de R$ 2,9 mil e a produção local foi de R$ 13,68 milhões em 2007, segundo o IBGE.
A maior receita vem do Fundo de Participação dos Municípios, R$ 3,68 milhões.
A vegetação é baixa, meio cerrado, com mata fechada. O bioma é de Mata Atlântica, ou o que restou dela nesse trecho, antes habitado pelos temidos índios botocudos.
De cultivo difícil, a principal atividade do município é a pecuária leiteira. Existem 793 pequenos produtores, bem mais do que os 235 agricultores familiares indicados pelo censo agropecuário de 1996.
A grande dificuldade para os pequenos produtores é a falta de refrigerador para conservar o leite até a chegada dos caminhões dos laticínios. Poucos têm.
Um deles é Valdomiro Rodrigues dos Santos, antigo coronel da região. "Boa tarde, sr. Valdomiro, muito prazer em conhecê-lo", ouve com olhar atento enquanto tira o chapéu. "Obrigado pela reverência", responde, saudoso dos tempos em que sua presença causava um misto de temor e respeito.
Ele voltava do velório de dona Angélica, senhora de 66 anos que morreu de "colapso". Depois das condolências, subiu na sua caminhonete Mitsubishi, ano 2002, e seguiu para casa, uma das maiores e mais bem cuidadas da cidade.
Azulejada de fora a fora, exibe uma mobília mais próxima das casas de fazenda. Na sala, uma TV de 29 polegadas e fotos dos filhos e muitas lembranças religiosas acompanham os quatro quadros com as comendas de vereador.
O mais antigo é de 1976, quando concorreu pela Arena e somou 524 votos. O mais recente, pelo PMDB, é de 2002, quando teve 123 votos.
Com a camisa um pouco gasta, a calça não tão alinhada e sandálias, Valdomiro caminha pelo jardim onde mantém o refrigerador, atual fonte de renda. Fala com orgulho dos 400 hectares que diz ter na região. "Deus confiou esse pedacinho de terra pra eu cuidar." Na verdade quem cuida são dois vaqueiros de confiança: Agileu e Silvam tiram o leite revendido a um laticínio na vizinha Comercinho. "Do córrego pra lá é tudo meu", diz apontado para um morro alto. "Daqui pra lá é desse povo aí."
Esse povo aí é uma das comunidades mais pobres da região. São quatro casas cercadas por pequenas roças. Em uma delas, moram Rivaldo Ferreira, a mulher, Taila, e os três filhos. "A vida é doída", diz a moça. Ela é um exemplo de que o banho de civilização por que vem passando a região não eliminou o problema da miséria, que se repete por quase toda a zona rural.
2 comentários:
De acordo com o site do DER-MG a rodovia estadual é a LMG-646.
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