segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Seminário da UFMG debateu trabalho e desenvolvimento do Vale do Jequitinhonha


VII Visões do Vale denunciou trabalho degradante de cortador de cana, garimpo e tráfico de humanos
Pequenos projetos têm maior efeito sobre a vida do povo do Vale do que megaprojetos como Irapé e plantio de eucalipto
Um debate sobre o Vale do Jequitinhonha, na UFMG, foi palco de denúncias de trabalho degradante por vários conferencistas, estudiosos e pesquisadores do Vale. Isto aconteceu no VII Visões do Vale, nos dias 8 e 9 de  novembro.
Corte de cana é trabalho degradante a ser realizado por máquinas, afirmam pesquisadores.

O professor José Carlos Pereira, assessor da Pastoral do Migrante, no painel Direitos Humanos e Trabalho, denunciou uma  rede internacional de tráfico de seres humanos que começa em Governador Valadares e segue pela Rio-Bahia (BR 116) afora, passando por Teófilo Otoni, Catuji, Padre Paraíso, Ponto dos Volantes e Itaobim. 
José Carlos Pereira, o Carlinhos, da Pastoral do Migrante, denunciou o tráfico de pessoas no Vale do Jequitinhonha(Foto:Raimundo Luiz)
Em sua pesquisa para tese de doutorando na UNICAMP-SP, o pesquisador, natural de Medina, no Médio Jequitinhonha, detalha que membros de famílias pobres são aliciados com ofertas de grandes ganhos financeiros em países como os Estados Unidos e os da Europa. Cada entrada em um destes países custa em média U$ 20 mil, equivalente a cerca de R$ 30 mil. Este dinheiro é pago através de  trabalho escravo. Há famílias que não sabem do destino dos seus filhos e filhas, há mais de 5 anos.

João Valdir Alves de Souza, da FAE/UFMG, natural de Veredinha/Turmalina, falando sobre a Dimensão Formativa do Trabalho, chamou à reflexão sobre a situação humilhante porque passa muitos trabalhadores do Vale, na construção civil, no garimpo, nas casas de famílias, no corte de cana.  “ A nossa luta principal é pela humanização do trabalho”, concluiu. Arrematou que as atividades do corte de cana são para máquinas e não para o braço humano, pois sua característica destrói precocemente não só famílias de agricultores familiares como também a saúde do trabalhador.
 João Valdir Alves de Souza, da UFMG, defendeu a humanização do trabalho humano como forma de emancipação e transformação social ( Foto: Raimundo Luiz)
Maria Aparecida Morais e Silva, da UFSCAR-SP, grande estudiosa da migração do Vale para o corte de cana, no interior de São Paulo, fez um painel sobre a história da migração, mostrando que a falta de oportunidades na região nordeste de Minas é que leva tanta gente a se sacrificar nos canaviais de São Paulo. Concluiu que “migrar é preciso”, apesar de todo o sofrimento porque passam os trabalhadors, no corte da cana, no alojamento e com baixo salários. Porém, considerou que há uma diminuição na migração e crescendo o movimento de retorno para as terras de origem.

Comunidades quilombolas e organização de garimpeiros
Carlos Roberto Horta, da FAFICH/UFMG, destacou as ações realizadas junto às comunidades quilombolas do Serro e Chapada do Norte, além do apoio à organização de cooperativas de garimpeiros em Coronel Murta e Itinga, no Médio Jequitinhonha. 
Denunciou o abandono e falta de políticas públicas destinadas às comunidades de negros e garimpeiros no Vale. Porém, reafirmou que o resgate de luta do povo negro e a valorização da sua cultura provocam e cobram do Estado ações que os vejam como cidadãos. A organização dos trabalhadores no garimpo também chama a atenção para a exploração e apropriação de lavras por grandes mineradores que usurpam direitos minerários quando o garimpeiro descobre algum bamburro, grande quantidade de pedras preciosas.  .

Riqueza e diversidade
Eduardo Ribeiro, da UFMG –campus Montes Claros, mostrou a riqueza e diversidade de trabalho na região do Vale do Jequitinhonha, apontando que a agricultura familiar vem crescendo sua produção e abastecendo os mercados locais, gerando renda e trabalho para milhares de famílias que permanecem no Vale, principalmente nas cidades do Alto Jequitinhonha. 
Eduardo Ribeiro, da UFMG, destacou a efetividade e eficiência dos pequenos projetos em geração de renda e trabalho no Vale. ( Foto: Raimundo Luiz)
Afirmou que os pequenos projetos governamentais como o “Leite é vida”, PAA – Programa de Aquisição de Alimentos e outros geram mais renda e emprego do que megaprojetos como a Barragem de Irapé ou o plantio de eucalipto. Mostrou dados que confirmam que os pequenos produtores de leite e a agricultura familiar geram 4 vezes mais emprego e renda do que o plantio de eucalipto.  
O pesquisador também destacou o grande crescimento da escolaridade dos jovens rurais e a busca por qualificação profissional. Disse que é necessário pensar em ocupação para esta grande massa de jovens sedentos de saber. Lembrou que, hoje, os jovens pode migrar, mas migram já qualificados, citando a instalação de campus do IFNMG, em Araçuaí e Almenara, além do movimento social por campus da UFVJM em cidades-polo do Vale.
Marizinha da UFMG, coordenadora do evento, junto com lideranças femininas e populares do Vale do Jequitinhonha. ( Foto: Raimundo Luiz)
Aconteceu um painel com experiências de trabalho comunitário no Vale em que um tipo de saber popular é construído no fazer do trabalho e da organização coletiva. Segundo, Boaventura de Souza, do CAV Turmalina, o encontro do saber popular e do saber acadêmico constrói um conhecimento que serve à transformação da vida humana e da natureza,  alimentando os movimentos de transformação social e política da região.  

 O Seminário VII Visões do Vale, realizado em Belo Horizonte, na UFMG, debateu “Ocupação e trabalho no Vale”. O evento aconteceu nos dias 8 e 9 de novembro, no campus da UFMG, na Faculdade de Ciências Econômicas.
Maria Aparecida Alves de Sousa, a Cidona, do MST de Jequitinhonha, e Boaventura de Sousa, do CAV de Turmalina. ( Foto: Raimundo Luiz).
A abertura do Seminário foi de apresentação cultural do Grupo Murion de Padre Paraíso. No primeiro dia, aconteceu o lançamento de várias publicações de livros de estudos, poesia e sites sobre o Vale do Jequitinhonha, com a presença dos poetas Cláudio Bento e Celso Freire, do multi-artista Saulo Laranjeiras, do cantor Rubinho do Vale e de muitos outras lideranças do Vale.

Durante o Seminário, registrou-se a presença de poucos representantes políticos da região. Apenas o suplente de deputado estadual e vereador por Itaobim, o médico Jean Freire (PT); vereador Raimundo Luiz (DEM), o Raimundão, de Padre Paraíso; Marcos Lemos (PT), prefeito eleito de Carbonita, e dois vereadores de Turmalina.

No final, os organizadores do evento, Maria das Dores Pimentel, a Marizinha, Pró-reitora Adjunta de Extensão da UFMG,e João Valdir Alves de Souza, professor da FAE-UFMG, constataram: o próximo VIII Visões do Vale, a ser  realizado no segundo semestre de 2013, deverá se dar em Turmalina, no Alto Jequitinhonha, para possibilitar uma maior participação de estudantes, professores, técnicos, gestores públicos e cidadãos da região do Jequitinhonha.

2 comentários:

Unknown disse...

O Vale ficou mais rico depois do Polo de Extensão. Obrigada Marizinha... Obrigada UFMG.

Unknown disse...

Poucos representantes, realmente, mas os que foram citados fazem toda diferença, pois têm comprometimento e amor ao Vale. Parabéns Jean Freire, parabéns Raimundo, meu representante.

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