domingo, 11 de novembro de 2012

Berilo: Banda de Música de comunidade quilombola do Vale se apresenta em Belo Horizonte


Orquestra composta por jovens quilombolas do Vale do Jequitinhonha foi descoberta durante trabalho de pesquisa de professores da UEMG e UFMG
Bárbara Camargo / ACS SEE
A Orquestra Filarmônica de Santo Isidoro, localizada em uma comunidade remanescente de quilombolas, se apresentou pela primeira vez em Belo Horizonte. Foi uma surpresa musical que marcou a tarde desta quinta-feira (08.11) para o público da Cidade Administrativa.
O conjunto musical é formado por jovens do município de Berilo, no Médio Jequitinhonha, povoado de mil habitantes, localizada no Vale do Jequitinhonha.
Segundo a diretora da Escola Estadual da Vila Santo Isidoro, Maria de Jesus Cassiano Rodrigues, a Liinha, esta é a única entidade que a comunidade realmente frequenta. “Lá atendemos 239 jovens e muitos atravessam três rios para ter acesso à escola. No passado, o povoado era conhecido como Povoado do Córrego Lagoa do Povo, porque tropeiros paravam ali para comer e descansar nas margens dos rios”, explica.
O percussionista e um dos diretores da orquestra, Marcelo Martins, contou que a filarmônica começou seus trabalhos em 1993. Mas foi somente com a chegada de um maestro de Francisco Badaró, Sr. Martinho, cidade vizinha, apoiado pela Prefeitura Municipal, e a acolhida da escola que o trabalhou deslanchou.
“A orquestra começou na sede, mas tomou consistência na escola, quando 60 pessoas passaram a participar dos ensaios feitos por voluntários. O atual maestro, o Idelfonso Alves foi aluno da escola, e desde 2000 está à frente da filarmônica, que não cobra pelas apresentações. E ganhar espaços como a Cidade Administrativa nos dá satisfação, representa muito. E tudo isso nos dá novas perspectivas para continuar. É um apoio de que precisamos”, contou Marcelo Martins.
Descoberta por acaso
A apresentação foi uma iniciativa promovida por professores e pesquisadores da Universidade Estadual de Minas Gerais ( UEMG) e Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que pesquisam a educação em comunidades quilombolas. Segundo José Eustáquio Brito, os músicos foram descobertos durante um trabalho de pesquisa de campo, que está em sua fase inicial e que vai percorrer nove municípios mineiros, todos apontados pelo Ministério da Educação (MEC).
“É uma alegria dar a oportunidade para estas expressões culturais fazerem intercâmbio, mostrarem o que sabem fazer de melhor. Mostramos também, com estas iniciativas, a presença da escola pública na juventude mineira e também o compromisso da universidade com estes movimentos de resistência e luta”, contou o professor.
Na Cidade Administrativa, o público foi composto por servidores e também por transeuntes como um grupo de doutorandos e mestrandos de universidades da Angola, que estão em intercâmbio no Brasil. Ao passar pelo local, Francisco Macongo, diretor da Universidade 11 de Novembro, do país africano, mostrou-se entusiasmado com a apresentação.
“Sentimo-nos muito próximos da cultura brasileira no aspecto dança, música e culinária. Desmitificamos as impressões que tínhamos de que estas comunidades eram compostas por pessoas vulneráveis e isoladas”, contou.

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