segunda-feira, 30 de abril de 2018

O CARCEREIRO DE MINAS NOVAS


Foto de Deyse Magalhães.
Carlos Mota*
Meados dos anos de 1970, Ninin sucedeu o seu pai Antônio Domingues no cargo de Carcereiro Único da Cadeia Pública “Sapucaieira” de Minas Novas.

Por ser o único carcereiro e por preferir andar pelos matos prendendo passarinhos em gaiolas, Ninin mal comparecia à Cadeia Sapucaieira, onde os presos faziam o que bem queriam, pois tinham as chaves das celas, que eram alugadas como quartos de motel. Para complicar, eles viviam soltos pelas ruas, tomando pingas, dançando forró e arrumando encrencas. E, por incrível que pareça, muitos libertos de Minas Novas adoravam passar as tardes na cadeia, se divertindo e até namorando nas celas e jogando futebol de salão em sua quadra, sombreada pela frondosa sapucaieira.

Mas, eis que chega à Comarca novo juiz e toma conhecimento da situação da cadeia. Chama o carcereiro Ninin e o ameaça de demissão. Ninin se defende, dizendo que como único carcereiro não tinha como ficar 24 horas por dia por conta dos presos. Finalmente, o MM Juiz cede e determina:

- Seu Ninin, sob pena dos rigores da lei, o senhor como carcereiro, a partir de amanhã, compareça ao estabelecimento penal pontualmente às seis da manhã, libere os presos do semiaberto, coordene o banho de sol dos demais. Às oito, os trancafie e vá cuidar de seus assuntos. Retorne às sete da noite e receba os presos do semiaberto. Após a chegada do último preso, o senhor pode ir embora e até mesmo tomar as suas cachaças.

Dia seguinte, Ninin cumpriu à risca a determinação do juiz, pois sete da noite lá estava a postos em frente à entrada da cadeia, molho de chaves preso à cintura. Mas deu oito, deu nove, deu dez e nada de os presos chegarem, bêbados que andavam pelas ruas. 

Ninin zangou com os presos, implorando para que eles cumprissem o horário de chegada, pois temia perder o cargo de carcereiro, mas mesmo assim prorrogou para oito da noite o horário de suas chegadas. Mas nada, pois os presos continuaram chegando à cadeia ás tantas da madrugada.

Ninin então apelou e pregou um enorme cartaz na portaria da cadeia e que dizia assim:

PRESO QUE CHEGAR DEPOIS DE OITO DA NOITE, DORME NA RUA!
Assinado: CARCEREIRO ANTÔNIO NININ

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*Carlos Mota é de Minas Novas,Vale do Jequitinhonha, procurador federal e ex deputado federal.

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