domingo, 22 de novembro de 2015

Roterio turístico de quilombolas em Berilo, Chapada do Norte e Minas Novas.



Roteiro permite vivenciar cotidiano de quilombolas em MG.

Assista:



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Giovanni Bello - ENVIADO ESPECIAL AO VALE DO JEQUITINHONHA (MG)

Mas, de perto, a realidade é outra. A paisagem na verdade é rica e o clima, favorável para muitas espécies. Seu Hermínio, morador de Berilo, garante: "Aqui dá de tudo que plantar... Mas se estiver chovendo, né?"


O Vale do Jequitinhonha, no nordeste de Minas Gerais, é uma das regiões mais pobres e com indicadores sociais mais baixos do país. Ao falar na região, vêm à mente imagens de clima semiárido, poeira, plantas secas, raros animais, pouca comida e quase nenhuma água.

A cultura é viva nas comunidades. E as danças e músicas que corriam o risco de desaparecer ganham novo fôlego com o engajamento dos jovens e a perspectiva trazida pelo novo projeto turístico na região: a Rota dos Quilombos (comunidades originalmente formadas por africanos escravizados no Brasil). Inaugurado no mês passado, o projeto tem o objetivo de gerar renda para esses locais.

O programa é coordenado pela historiadora Agda Moreira e pela turismóloga Luciana Priscila do Carmo, por meio do Cedefes (Centro de Documentação Eloy Ferreira da Silva), ONG que trabalha com questões quilombolas e indígenas de Minas.

O tour abrange as cidades de Berilo, Chapada do Norte e Minas Novas, no médio Jequitinhonha. Delas, parte-se para as comunidades quilombolas próximas, todas rurais.
O valor para o passeio de nove horas nas comunidades fica entre R$ 260 e R$ 300 por pessoa, para grupos de até seis visitantes, incluindo alimentação e monitor local.

Nas visitas aos moradores, a hospitalidade interiorana brasileira se mostra inteira –quase exageradamente. Em todos os lugares que visitamos, nós, turistas, tínhamos que comer primeiro, enquanto todo mundo esperava.

A culinária local é variada, saborosa e farta. Os lanchinhos do passeio, chamados "quitandas", incluem: biscoito de polvilho frito, de fubá, brevidade (espécie de bolo de polvilho), pães caseiros, rapadura, pé de moleque... Sempre acompanhadas de café e contação de causos.

Para os almoços, feijão tropeiro, feijoada, galinha caipira, angu, canjiquinha, quiabo e alguma boa cachaça das redondezas. Quase tudo tirado dali mesmo, no quintal das famílias que recebem os turistas.

RIQUEZA CULTURAL
Na cultura, destacam-se as danças e músicas, marcadas pelo sincretismo religioso. Os tambozeiros de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos fazem uma apresentação enérgica, com forte influência do candomblé –em uma igreja de interior pomposo, de arquitetura barroca, em Chapada do Norte.
A mistura se repete na comunidade quilombola de Caititu do Meio. Dentro da igreja pequenina reza-se o terço inteiro, cantado. Do lado de fora, ouve-se batuque.

As tecelãs de Roça Grande misturam as atividades do tear com músicas que falam de trabalho e da realidade do semiárido: "Me ajuda companheiro / Deixa de tanta vergonha / Que aqui não é cidade / Aqui é mata medonha!", seguida do refrão: "Ô bananeira, bananeira chora / Chora bananeira / Adeus, que eu vou embora!". O algodão é tratado com a batida de varas compridas, que marca o ritmo das canções.

Não é um turismo de massa, as organizadoras reconhecem, mas tem potencial para atrair muita gente interessada na troca de experiências.

"Nossa intenção é que quem vem de fora vivencie o cotidiano de uma comunidade quilombola. O público que a gente busca não é o que vai visitar o Corcovado, o Cristo Redentor. É um turista que quer fazer uma troca de experiências e que vai querer deixar algo", diz Moreira.

Então, nada de "cheguei, clique, próxima!". Claro, há paisagens lindas, danças fotogênicas e comidas que ficarão ótimas no Instagram. Mas a melhor parte depende da disposição para contar e ouvir histórias.

Fonte: Folha de S. Paulo

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