Leonardo Sakamoto
Colunista da Folha de S.Paulo, em 07/05/2020 14h31.
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BOLSONARO LEVA EMPRESÁRIOS AO STF PARA PRESSIONAR ... de empresários pedir ajuda no ...
5 horas atrás - Vídeo enviado por UOL.
Para celebrar o recorde de mortes diárias por COVID-19, quebrado
nesta quarta, (06.05), com 615 óbitos, Jair Bolsonaro, o ministro Paulo Guedes e 15
representantes de associações empresariais foram fazer pressão no Supremo
Tribunal Federal pela reabertura da economia. Uma das frases que marcaram a
reunião, dita por um dos representantes, foi de que "haverá morte de
CNPJs" mais para frente se não houver um relaxamento da quarentena agora.
Vale lembrar que um Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica pode ser cancelado ou
suspenso. Mas uma pessoa, não. As 8.536 que morreram até agora por decorrências
do coronavírus não podem ser reabertas ou retomadas.
O presidente Bolsonaro afirmou que a indústria está na UTI e
que, se a quarentena não for relaxada, "depois da UTI vem o
cemitério". Seria ótimo que se preocupasse com vidas da mesma forma que se
preocupa com o seu futuro político - que, acredita, depende do que acontecerá
daqui para frente na economia. Neste momento, estão acabando as vagas nas UTIs
para pessoas com covid-19 nos estados mais atingidos. Em locais como Belém e
Manaus, os mais ricos já voam para procurar leitos e respiradores em São Paulo
e Brasília, enquanto os mais pobres morrem em casa.
Mesmo na capital
paulista, os médicos esperam em breve um colapso no atendimento. O Ministério
da Saúde poderia ter se adiantado e investido bem mais recursos na criação de
leitos e na contratação de pessoas, mas não fez. E o atual ocupante dessa pasta
parece um tanto quanto perdido.
No Brasil de Bolsonaro, se há UTI para grandes empresas, o mesmo
não se pode dizer para todas as pessoas. Ou seja, para muita gente, depois da
"gripezinha" vem direto o cemitério. Mas, como ele mesmo disse na
reunião, "nós temos um bem muito maior que a própria vida que é a nossa
liberdade".
Dias Toffoli ouviu o pedido de empresários, de que era
necessário "colocar a roda para rodar". E que há uma "crise de
demanda" - não há quem compre uma vez que parte das pessoas está em casa
para se proteger e consome menos produtos e serviços. Bolsonaro disse a ele que
alguns estados teriam ido longe demais nas medidas de isolamento, citando desemprego
e perda de renda de informais como consequência. O presidente vem criticando
diuturnamente governadores e prefeitos por conta das quarentenas,
principalmente João Doria e Wilson Witzel - que contam com bombas-relógio a
explodir nas densas periferias de São Paulo e do Rio de Janeiro.
No que pese sua análise otimista de que as instituições estão
funcionando normalmente e que o país vem dando uma resposta à altura da crise,
o presidente do STF sugeriu ao presidente da República que trabalhe em conjunto
com outros poderes, incluindo Estados e municípios, no planejamento do retorno às
atividades. Ou seja, que escute quem dele discorda.
Incluindo a própria corte. O STF havia decidido, por
unanimidade, no dia 15 de abril, que governadores e prefeitos têm autonomia
para regulamentar medidas de isolamento social. Isso foi uma resposta a
Bolsonaro que, através da Medida Provisória 926, havia puxado apenas para si a
definição de quais são os serviços essenciais - que não param durante a pandemia.
O presidente afirma que não existe polarização entre vidas e
empregos. Mas toda vez que trata do assunto, parece defender apenas a questão
econômica, esquecendo que o problema é mais amplo. As coisas estão
interligadas, mas há prioridades.
É um comportamento equivocado, pois se o Brasil não atender às
recomendações médicas e científicas quanto à forma de retorno à vida normal, as
consequências da catástrofe humanitária vão marcar nossa economia por anos.
Melhor seria fechar-se de forma firme por pouco tempo do que cambalear por
anos. E nunca é demais lembrar: o ritmo de mortes pela covid-19 está apenas
começando sua subida por aqui.
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